Os Caminhos do Caminho de Santiago

As exigências e as pressões do exterior obrigam-nos a encarnar diferentes personagens, tais como os de profissional, colega, pai, filho, irmão ou amigo. Eu chamo isso de “Máscaras Sociais”.

Elas são papéis que desempenhamos em diferentes esferas da nossa vida e que são fundamentais para garantir a nossa adaptação social.

Quando estamos em uma caminhada de longo curso, com vários dias longe dos ambientes que nos obrigam a desempenhar estes papéis, nossas máscaras sociais caem e vamos à nossa essência.

Na minha opinião, a busca pela essência e propósitos pessoais são algumas das razões para que caminhos como o Caminho de Santiago estejam em alta nos nossos tempos.

Ficou curioso para saber mais sobre o Caminho de Santiago? Aqui vai um resumo dos principais caminhos do Caminho, que hoje encontram-se sinalizados e estruturados para recebê-lo:

Caminho Francês: É o mais tradicional de todos os caminhos e, na minha opinião, também é um museu a céu aberto. Ele começa tradicionalmente em Saint Jean Piet du Port na França, quase fronteira com a Espanha, o que perfaz quase 800 km.

O Caminho Francês tem este nome não porque começa na França e sim porque era franco, os peregrinos não pagavam “pedágio” – que já existia naquela época!!

Caminho Português: Esse sim tem este nome porque começa em Portugal. Tem sido um dos preferidos dos brazucas (como somos conhecidos lá) por vários motivos:

– Ele é menor que o Francês;

– Dá para aproveitar e, além de fazê-lo inteiro, dar uma esticadinha pela Europa;

– A gente inicia o Caminho com a nossa língua “mãe”.

Caminho Inglês: Os barcos na idade média vindos da Inglaterra aportavam no nas localidades de A Coruña e de Ferrol. O litoral próximo à Santiago é conhecido como Costa da Morte e os portos destas cidades eram os mais protegidos e exatamente de onde iniciam hoje o Caminho Inglês. Lembrando que o Caminho Inglês partindo de A Coruña tem menos de 100 km. Existe um Caminho de Santiago Brasileiro que pode complementar a quilometragem mínima exigida para se obter a “Compostela”, ou seja, o certificado que você completou o Caminho.

Caminho Primitivo: Foi o primeiro dos Caminhos! Começa em Oviedo, onde morava o Rei Afonso II que foi conferir pessoalmente se o túmulo encontrado era mesmo de Santiago. Então ele foi o primeiro peregrino a percorrer o Caminho em direção ao túmulo do Apóstolo. É um caminho montanhoso e bem solitário até encontrar com o Caminho Francês em Melide.

Caminho do Norte: Este Caminho se desenvolve ao longo da costa cantábrica, iniciando em Irún e pode deixar a costa seguindo por Ribadeo ou pegando a rota do Caminho Primitivo para chegar em Santiago de Compostela. Grande parte dele atravessa áreas turísticas, combinando trechos urbanizados com outros de grande beleza natural. Ele chega a ser maior que o Caminho Francês.

Via de La Plata: Hoje em dia Sevilha é considerada a cidade de partida, e o itinerário tem sua origem em diferentes estradas romanas que os peregrinos aproveitaram na Idade Média para seguir em direção à Santiago de Compostela. Este Caminho é caracterizado pelas enormes distâncias entre as cidades, solidão e temperaturas extremas no verão.

Outras variantes:

Caminho de Inverno: É uma variante do Caminho Francês que liga Ponferrada a Santiago de Compostela, evitando os cumes do Cebreiro, que no inverno encontram-se nevados.

Variante Espiritual: É a variante do Caminho Português que percorre de barco a mesma rota que a tradição conta que o barco que trouxe o corpo de Santiago fez pelo Mar de Arousa. Hoje há uma Via Crucis marítima lá.

Já fiz o Caminho mais de 10 vezes, mas mesmo assim não vejo a hora de podermos voltar a percorrer essas rotas milenares de peregrinação e auto-conhecimento novamente.

Sabia que temos caminhos no Brasil inspirados no Caminho de Santiago? Logo falarei deles por aqui!

* Ana Wanke é curitibana, engenheira e trabalhou por 20 anos no setor elétrico com projeto de Usinas Hidrelétricas. Em 2012 resolveu realizar um projeto que já vinha elaborando há muito tempo: dar oportunidade a mais pessoas de conectarem-se com a natureza, de maneira mais intensa e em roteiros personalizados. Trocou a carreira de engenheira pela carreira de guia e fundou a empresa Ana Wanke Turismo e Aventura. Especializou-se em caminhadas e no Caminho de Santiago, pelo qual recebeu a honraria de Dama da Ordem do Camino de Santiago em setembro de 2019.

Leia mais colunas de Ana Wanke clicando aqui.

Conheça também os demais colunistas do portal Saúde Debate. Acesse aqui.