Para quem achava que medicina e tecnologia eram grandezas diferentes, os últimos dois anos, especialmente, mostraram o contrário. Com a crise sanitária acarretada pela covid-19, houve um aumento exponencial em ofertas de solução de tecnologia para a saúde, como a telemedicina, digitalização de processos e prontuários e aplicativos de atenção à saúde primária. Sobretudo, com foco em prevenção e/ou diagnóstico precoce de doenças, que quando controladas diminuem o risco de complicações, como hipertensão arterial, diabetes e dislipidemia.
É bem verdade que o setor caminhava com os avanços tecnológicos, mas eles ocorreram de forma gradual e fragmentada, visto que ninguém estava preparado ou esperando pela pandemia. Ainda assim, é inegável a participação da tecnologia em todas as frentes do sistema de saúde.
Hoje é impensável executar uma boa assistência em saúde sem uma ferramenta tecnológica que a suporte. Citando como exemplo, na prestação de serviço, houve um desenvolvimento muito grande dos prontuários eletrônicos, com melhoria significativa para o usuário, sendo ele tanto o profissional de saúde como o paciente, bem como a facilidade de acesso, segurança dos dados, usabilidade etc.
Em paralelo, a quantidade de informações armazenadas cresce de forma vertiginosa, o que demanda uma infraestrutura de TI com migração dos bancos de dados para a nuvem e que devem ser facilmente acessados pelas partes interessadas. Isso é um caminho sem volta, um legado e herança desses últimos anos. Nesse contexto, é importante ressaltar que deve haver proteção conforme as exigências da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e uma governança eficaz.
Ainda na temática da tecnologia, o desenvolvimento de aparelhos de diagnóstico por imagem, como ultrassom, tomografia computadorizada e ressonância magnética, estão cada vez mais sensíveis e com possibilidade ampliada de detecção de patologias. Também temos visto a evolução dos wearables (smartwatches e pulseiras eletrônicas), que auxiliam no dia a dia para o controle de atividade física e sinais vitais, de pressão arterial etc.
Pensando no futuro, a inteligência artificial deve evoluir com seus algoritmos. Já temos diversos cases que comparam a IA à análise humana quanto ao diagnóstico de doenças da pele, oculares e exames radiológicos. Seguindo o caminho natural, a tendência é ampliar essa atuação, talvez recomendando de forma individualizada os melhores cuidados para as pessoas, se aproximando de um diagnóstico assertivo.
Ainda refletindo sobre o que nos aguarda e em como conciliar a tecnologia para a prevenção da saúde, eu daria três sugestões: uso de dispositivos que monitoram seus sinais vitais; aplicativos para acessar informações de saúde, prontuário eletrônico e compartilhar dados de saúde com os profissionais; e telemedicina para acompanhamento e prevenção de doenças. Uma pesquisa realizada pelo Datafolha no ano passado revelou que 41% dos entrevistados acreditavam que uma emergência de saúde poderia ser resolvida pela telemedicina, e 73% dos pacientes que já realizaram alguma consulta on-line fariam de novo, ou até mesmo adotariam essa prática.
Em suma, a tecnologia impacta a prevenção e o cuidado das doenças quando proporciona facilidade ao acessar o serviço de saúde por meio de plataformas. E ao entrarmos em contato com médicos qualificados podemos até mesmo descobrir doenças mais graves e tratá-las precocemente, como câncer, doenças autoimunes e outras, aumentando nossas chances de sobrevida. É a saúde na ponta dos dedos.
*Giovanni Oliveira é diretor de operações da Farma Ventures, primeira corporate venture builder dedicada ao varejo farmacêutico do Brasil; Thiago Soeiro é fundador e CEO da startup E-Doutor Saúde, com vasta experiência em gestão de projetos, startups e operadoras de saúde
Leia outros artigos publicados no Saúde Debate
Conheça também os colunistas do Saúde Debate