No universo das healthtechs, a governança assume papel crucial não só pela complexidade inerente ao setor da saúde, mas também pela necessidade em conciliar inovação, regulamentações rigorosas e expectativas profissionais, além da sensibilidade dos dados envolvidos no cuidado. Ao observar alguns aspectos importantes, é possível estabelecer uma base sólida para o crescimento sustentável e o sucesso a longo prazo.
Veja a seguir os principais pontos-chaves para que empresas inovadoras nessa área operem de maneira ética e eficiente:
1. Compliance
As healthtechs devem cumprir uma série de regulamentos, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), a Lei de Acesso à Informação em Saúde, normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e outras diretrizes específicas do setor. No caso de equipamentos, até mesmo do INMETRO, para a comercialização do produto após aprovação dos Órgão Reguladores competentes. A governança deve garantir que a empresa esteja atualizada e em conformidade com todas essas leis e normas.
2. Gestão de riscos
Além dos desafios regulatórios, as startups de saúde também enfrentam obstáculos que envolvem a segurança da informação e a responsabilidade civil. A governança, portanto, deve incluir processos de identificação, avaliação e mitigação de riscos operacionais, financeiros e de reputação.
3. Transparência e comunicação
Os gestores devem promover uma comunicação clara e aberta com todos os stakeholders, incluindo pacientes, provedores de saúde, convênios, investidores e Órgãos Reguladores, em alguns casos até mesmo bancos, demais Instituições Financeiras e o Governo. Isso abrange práticas éticas de pesquisa, marketing de produtos,serviços e transparência nas relações com as partes interessadas.
4. Sustentabilidade financeira
Uma boa e sólida gestão financeira é fundamental para o sucesso de qualquer startup. Estratégias de monetização, por exemplo, garantem a sustentabilidade em um longo prazo. Portanto, é preciso garantir controles financeiros adequados, relatórios transparentes e ações eficientes que visam ao crescimento contínuo do negócio. A operação de uma empresa de saúde é, muitas vezes, cara e com margens baixas. Portanto, é primordial o entendimento sobre a saúde financeira da empresa e um bom planejamento a curto, médio e longo prazos.
5. Ética e responsabilidade social
Compromisso com a ética médica e com a responsabilidade social garantem o bem-estar dos pacientes e contribuem positivamente para a sociedade. Não apenas uma boa prática, o médico precisa seguir o Códito de Ética Média, com regras claras e condutas criadas e fiscalizadas pelo Conselho Federal de Medicina. As outras profissões de saúde também possuem normas de conduta a serem seguidas. A governança deve focar em estratégias para envolver e gerenciar todos os envolvidos, incluindo a população, os profissionais de saúde, os investidores e os parceiros comerciais, além de garantir que necessidades e preocupações sejam levadas em consideração.
6. Incorporação da governança na cultura
As startups podem integrar a governança em sua cultura por meio de treinamentos regulares, estabelecimento de valores corporativos alinhados com seus princípios e implementação de políticas e procedimentos claros desde o início.
7. Perspectiva do founder
O fundador da empresa deve visualizar o conjunto de processos a serem colocados em prática diariamente não como obstáculo, mas como pilar fundamental para o crescimento sustentável. O fundador é o porta-voz da empresa, não apenas para fora, mas também servindo de exemplo para a cultura interna da Instituição. É essencial investir tempo em educação sobre melhores práticas de governança e adaptá-las ao contexto único da startup.
8. Conselho consultivo
A implementação de um conselho consultivo composto por especialistas em saúde, negócios e tecnologia pode fornecer insights valiosos e orientar a companhia em sua jornada. O Conselho Consultivo, como o próprio nome diz, tem a função de orientar a estratégia da empresa, colocada em prática por seus executivos. Portanto, é importante que em sua composição estejam presentes conselheiros que já assumiram cargos de alta gestão e consolidaram cases de sucesso em suas áreas.
9. Investimento em tecnologia
A adoção de tecnologias para automação de compliance e gestão de riscos, além do acompanhamento das normas da empresa, podem simplificar a implementação de conjunto de leis, regras e normas. Com isso, é possível que a startup se concentre em sua missão principal: inovar na saúde, deixando para os executivos C-level da empresa o papel de guiar estrategicamente a operação, seguindo as orientações e direcionamentos do Conselho Consultivo.
10. Liderança
A governança deve estabelecer ainda uma estrutura organizacional clara, com papéis e responsabilidades definidos para os líderes da empresa. Uma base sólida organizacional possui políticas corporativas e equipe qualificada.
*Rafael Kenji Hamada é CEO da FHE Ventures, que investe em startups de saúde e educação
Atenção! A responsabilidade do conteúdo é do autor do artigo, enviado para a equipe do Saúde Debate. O artigo não representa necessariamente a opinião do portal, que tem a missão de levar informações plurais sobre a área da saúde.
Leia outros artigos publicados no Saúde Debate