Smart Vapes: a nova isca digital da geração Z

smartvape
(Foto: Freepik)

Eles brilham, tocam música, têm jogos e até mandam mensagens. Mas, acima de tudo, viciam. Os “smart vapes”, ou “smart pods”, são a mais recente evolução dos cigarros eletrônicos — e a nova armadilha high-tech voltada diretamente à Geração Z. A promessa de modernidade esconde um velho conhecido: o vício. Só que agora, com um upgrade que torna tudo ainda mais perigoso. 

Equipados com telas sensíveis ao toque, aplicativos e design ultracolorido, esses dispositivos já não são apenas uma porta de entrada para a nicotina — são também um convite à dependência digital. E o alvo é claro: os jovens. Segundo dados recentes: um em cada cinco adolescentes brasileiros já experimentou algum tipo de cigarro eletrônico, mesmo com a comercialização proibida pela Anvisa desde 2009. A pergunta que fica é: o que mais precisa acontecer para reconhecermos a gravidade deste cenário? 

Se antes o apelo dos vapes era a falsa ideia de serem menos prejudiciais que os cigarros convencionais, agora o marketing evoluiu. A nicotina permanece, mas vem embalada em um gadget que cabe no bolso e simula a experiência de um mini smartphone. Resultado? Um ciclo de dopamina que combina os estímulos do fumo com os das telas — e tudo isso por mais de R$ 1.000. 

A estética lúdica, o apelo gamer, o uso de cores vibrantes e a integração com redes sociais são cuidadosamente pensados para seduzir cérebros ainda em formação. Não é coincidência. É estratégia. As mesmas ferramentas que nos prendem aos celulares agora potencializam o hábito de fumar, criando uma dependência cruzada que vai muito além da saúde física — atinge o comportamento, a atenção, o sono e até a saúde mental. 

Estamos diante de uma geração que, em vez de acender um cigarro atrás do colégio, agora compartilha o “pod” enquanto joga, ouve música ou posta vídeos. E isso torna a abordagem preventiva muito mais complexa. É necessário ir além da proibição: precisamos de educação digital, de políticas públicas que reconheçam a sofisticação dessas novas armadilhas e de campanhas que falem a linguagem da juventude conectada. 

A indústria do tabaco se reinventa, mas sua essência permanece: criar e manter vícios. Agora, com uma interface mais amigável e sedutora. Se não estivermos atentos, a próxima epidemia de saúde pública pode estar escondida atrás de uma tela de LED — com musiquinha, joguinho e tudo mais. 

*Alessandro Castanha da Silva é biólogo, especialista em Microbiologia Clínica e professor dos cursos da Área de Saúde da Uninter

Atenção! A responsabilidade do conteúdo é do autor do artigo, enviado para a equipe do Saúde Debate. O artigo não representa necessariamente a opinião do portal, que tem a missão de levar informações plurais sobre a área da saúde. 

Leia outros artigos  publicados no Saúde Debate