Saúde mental e os desafios da vida moderna

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(Foto: Freepik)

Saúde, como um todo, não se trata somente da ausência de doença. Uma pessoa que não tem capacidade de trabalhar, interagir, não sente prazer nas atividades, não tem boas funções biológicas e fisiológicas pode estar sofrendo algum problema psíquico ou, como conhecemos, está com problemas em sua saúde mental. No conceito de saúde mental, sabe-se que é o estado no qual o indivíduo desenvolve suas habilidades pessoais, consegue lidar com os estresses da vida, trabalhar de forma produtiva e encontra-se apto a dar sua contribuição para sua comunidade. Mas, nos dias de hoje, dados comprovam que temos 1 em cada 5 pessoas sofrendo de saúde mental todos os anos e entre 40 e 50 por cento das pessoas terão algum tipo de ansiedade em algum momento da vida.

Vale frisar também que cerca de 70% das pessoas com problemas de saúde mental não são tratadas por profissionais especializados em psiquiatria. E aqui entra o conceito One Health. Um clínico ou cirurgião, uma hora ou outra, vai estar diretamente envolvido com diagnóstico ou desenvolvimento psiquiátrico do seu paciente. Uma enxaqueca piora com quadro psiquiátrico, a imunidade cai, muda concentração, além de diversos outros sintomas que são provenientes de um stress psíquico. Assim, todas as especialidades médicas, de uma forma ou de outra, uma hora irão lidar com a questão de saúde mental de seus pacientes.

Nosso estilo de vida atual é um dos principais fatores para o desencadeamento de um problema na saúde mental. O impacto da vida acelerada e o uso excessivo de tela em algum momento nos fará sofrer deste mal da atualidade. Pessoas vítimas de cyberbullying tem chances três vezes maiores de manifestar sintomas de depressão em comparação a não-vítimas.

Os transtornos mentais estão entre as principais causas de problemas de saúde e os jovens são os mais afetados. Vivemos hoje na velocidade 2.0, onde tudo é muito rápido, recebemos um tsunami de informações por minuto, é preciso assimilar, e logo já passou e vem outro tsunami. A digitalização do mundo avança, implacável, nos submetendo a uma mudança radical de percepção, de relação com o mundo e de convivência.

Algumas alternativas têm sido utilizadas para facilitar o acesso das pessoas para um tratamento adequado, como é o caso da saúde mental digital, que vem colhendo bons frutos. Para aqueles que não se sentem prontos para um serviço face-a-face, o uso digital é um passo inicial para conversas. Uma intervenção digital permite várias possibilidades de uso, com técnicas variadas. Ensina, por exemplo, a fazer um diário de humor, ou quem tem algum tipo de fobia social e precisar apresentar algo, por meio de técnicas, pode treinar diversas vezes de forma virtual, entre outros exercícios. São técnicas simples comportamentais de treinamento baseado em simulação.

A aplicação de tecnologias digitais nos cuidados de saúde mental pode ser utilizada para vários fins, incluindo a promoção e prevenção da saúde mental e do bem-estar, manutenção/autocuidado do bem-estar, intervenção precoce ou para o tratamento de doenças mentais específicas utilizando, por exemplo, vídeos online. Há diversos benefícios, mas também alguns lados não tão benéficos, como uma interação não humana e o estímulo a mais tempo.

Na minha realidade como médico e acadêmico, onde vemos que estudantes de medicina tem três vezes mais transtornos de ansiedade do que estudantes de outras especialidades, foi preciso criar alternativas para lidar com estes transtornos. Aqui, vemos o grau de sofrimento daquele aluno e fazemos o acolhimento, de forma sigilosa, abrindo diálogos entre os estudantes que já passaram por esta situação, para que, de forma humanizada, ajudem outros que estão entrando nesta. O projeto, chamado Angatu, oferece uma plataforma para check-ups de saúde mental, acolhimento individual online, conteúdos psicoeducativos e grupos de acolhimento por pares presencialmente nas escolas.

São alternativas diferenciadas de acolhimento para serem repensadas dentro das escolas, empresas, e até família, para que este mal do século não destrua as relações, e até a vida, dos nossos jovens.

*Luiz Dieckmann é médico psiquiatra e um dos idealizadores do projeto Angatu/Inspirali

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