A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é uma condição que atinge de forma direta a capacidade de respirar, tornando o simples ato de inspirar e expirar um grande desafio para milhares de pessoas. Entre as causas da doença, está a alta exposição à fumaça da poluição ambiental e queimadas, um tema frequente no Brasil nos últimos dias.
Com as queimadas e a seca, a questão da má qualidade do ar tem acendido um alerta no país, principalmente na cidade de São Paulo, metrópole que foi classificada como a cidade com ar mais poluído de todo o mundo. A informação foi divulgada pela agência suíça IQAir no início de setembro e mediu o Índice de Qualidade do Ar nas 100 maiores cidades, apresentando a capital paulistana no topo da lista, uma preocupação real para as pessoas que vivem no local e especialmente aquelas que já sofrem com doenças respiratórias como a DPOC.
Atualmente, a DPOC é classificada como a 4ª causa de morte no mundo e está presente na vida de cerca de 10,1% da população no Brasil, afetando a saúde de 15,8% dos adultos com mais de 40 anos que vivem na cidade de São Paulo, segundo dados da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Os sintomas da doença são debilitantes e tornam as tarefas simples, como tomar banho ou vestir-se, exaustivas para os pacientes. Além da dificuldade respiratória, os principais sintomas incluem tosse crônica, secreção e pigarro.
Além da exposição da má qualidade do ar, o tabagismo é fator crítico para o desenvolvimento da DPOC, já que existe uma relação direta entre a quantidade de fumaça inalada e o tempo de exposição ao tabagismo com a gravidade da doença. O Ministério da Saúde já alertou inclusive sobre o cuidado com os subtipos de fumo como, cachimbo, narguilé, maconha e até a exposição passiva à fumaça, que são igualmente prejudiciais à saúde, assim como o cigarro. Não podemos deixar de falar também dos cigarros eletrônicos. Os vapes estão sendo usados por crianças e adolescentes, e são um risco à saúde pública. Médicos pneumologistas já alertam para o aparecimento de DPOC em pessoas cada vez mais jovens em decorrência do uso dos cigarros eletrônicos.
No Brasil, o diagnóstico, tratamento e demais aspectos relacionados à doença seguem o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT), atualizado em 2021. No entanto, mesmo após três anos de sua publicação, a realidade dos pacientes é de incertezas, já que cerca de 30% das unidades federativas ainda não adotaram ou estão em processo de regulamentação do documento. Essa falta de implementação dificulta o acesso dos pacientes de todo o país ao tratamento adequado. Recentemente, dois novos medicamentos para DPOC foram incorporados ao SUS. Ou seja, o protocolo de tratamento precisará ser novamente atualizado.
A jornada dos pacientes é longa, começa pelo subdiagnóstico e a falta de informação, acesso e atendimento especializado. Muitos pacientes estão perdidos no sistema de saúde e, quando há suspeita de DPOC, não sabem onde encontrar serviços de saúde ou centros de referência para diagnóstico e tratamento, não conseguem realizar a espirometria – exame que avalia a saúde pulmonar e pode diagnosticar doenças respiratórias, e ficam perdidos quanto ao uso de dispositivos inalatórios e como funciona o acesso ao tratamento pelo SUS.
Apesar de a DPOC não ter cura, o tratamento adequado pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes, reduzindo a morbimortalidade, o absenteísmo no trabalho e a demanda pelos serviços de saúde, por isso essa causa tão importante é apoiada pela ABRAF. Lutamos também pela implementação de políticas públicas que alertem para os riscos do tabagismo e da poluição ambiental, aspectos não medicamentosos essenciais para o controle da doença.
*Flávia Lima é presidente da Associação Brasileira de Apoio à Família com Hipertensão Pulmonar e Doenças Correlatas – ABRAF
*Iara Machado é diretora de projetos na ABRAF
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