Comer é uma experiência que vai além de simplesmente nos manter vivos. O nosso sistema nervoso central tem um papel fundamental no equilíbrio entre o consumo de alimentos e o gasto energético. No centro desse processo está o hipotálamo, uma estrutura do cérebro que regula a fome fisiológica e ajuda a manter nosso balanço energético.
No entanto, há outro aspecto que pode interferir na forma como nos alimentamos: o apetite hedônico. Ele é influenciado por estímulos externos que despertam o desejo de comer, mesmo sem necessidade física. Muitas vezes, esses estímulos acabam superando nossa fome fisiológica e nos levando a consumir alimentos apenas pelo prazer que eles proporcionam.
O desejo por doces, por exemplo, é quase universal. Mas o que faz com que eles sejam tão atrativos? O açúcar, além de ser nossa principal fonte de energia, está fortemente associado ao sistema de recompensa do cérebro. Seu sabor marcante proporciona prazer imediato, estimulando neurotransmissores como serotonina, dopamina e outros que ativam os centros de prazer no cérebro. Não é à toa que o consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar e gordura, torna-se tão frequente para muitas pessoas.
Embora não haja evidências conclusivas em humanos sobre o “vício” em açúcar, o comportamento associado ao consumo exagerado dele tem semelhanças com o vício em drogas como a cocaína, devido à ativação dos mesmos circuitos neurais. Esse padrão pode levar à compulsão e até a sintomas de abstinência.
Estratégias para controlar o consumo de doces
O consumo excessivo de açúcar, especialmente os açúcares adicionados durante o processamento de alimentos, está relacionado a diversos problemas de saúde, como obesidade, diabetes, hipertensão arterial e dislipidemia, todos fatores que afetam negativamente a saúde cardiovascular. Superar a vontade de consumir doces pode ser desafiador, mas não é impossível. Algumas dicas práticas que podem ajudar.
Evite estocar doces em casa, pois sem acesso fácil, fica mais simples resistir. Substitua doces por frutas, já que elas oferecem um sabor doce natural e são opções saudáveis. Adote refeições equilibradas, com a inclusão de proteínas, fibras e gorduras boas para prolongar a sensação de saciedade. E não pule refeições, porque manter uma rotina alimentar ajuda a prevenir picos de fome que podem aumentar o desejo por açúcar.
É possível incluir doces em uma dieta saudável?
A resposta é sim, mas com moderação. Minha dica é estabelecer limites, como permitir uma sobremesa por semana, escolhendo a que você mais gosta, e aproveitá-la em um ambiente tranquilo e equilibrado. O segredo está na qualidade, na quantidade e no contexto em que os doces são consumidos.
Lembre-se de que o equilíbrio é a chave. Respeitar suas vontades, sem deixar de lado os cuidados com a saúde, é a melhor forma de manter uma relação saudável com os alimentos e com o açúcar.
*Maria Augusta Karas Zella é professora de Endocrinologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR) e presidente da SBEM-PR
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