Os efeitos da comunicação diária como fator de exclusão de pessoas com esquizofrenia

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2024-07-22 | 16:00h
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2024-07-22 | 20:30h
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(Foto: Freepik)
A comunicação respeitosa, ética, acolhedora e livre de preconceitos deveria ser uma premissa para todas as pessoas, empresas e instituições. Contudo, ao longo da história, a linguagem quotidiana tem se apropriado e distorcido diagnósticos médicos para criar divisões e rotular segmentos da sociedade tidos como indesejáveis. Todavia, o estigma associado a doenças outrora temidas, como tuberculose, no século XIX, e câncer e a AIDS, no século XX, foi minimizado à medida que o conhecimento científico avançou nessas áreas; as percepções negativas diminuíram e esses termos foram restritos a contextos médicos e de saúde. A esquizofrenia, em outra medida, figura entre as expressões contemporâneas alvo de metáforas negativas mais prevalente nos meios sociais. Infelizmente, este uso indevido serve apenas para estigmatizar ainda mais os indivíduos que sofrem destas condições.
O estigma estrutural, conforme descrito pela sociologia, é uma forma de preconceito e discriminação. A presença desse estigma, especialmente contra a esquizofrenia, tem sido documentada na literatura médica. Dois aspectos distintos desse fenômeno incluem a atribuição de diagnósticos psiquiátricos por leigos e o uso metafórico do termo esquizofrenia para denotar significados pejorativos, comportamentos contraditórios e incompreensíveis, reforçando estereótipos e preconceitos. Narrativas positivas sobre a doença mental são raras em contextos informais, enquanto histórias que associam doenças mentais à violência são prevalentes.
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O estigma ligado à doença mental representa uma barreira significativa para aqueles que necessitam de ajuda profissional. A falta de visibilidade desse problema resulta em escassez de recursos governamentais para saúde mental, levando os pacientes ao isolamento social e dificultando a obtenção de moradia e emprego. Na área da psiquiatria, a esquizofrenia é particularmente discutida, motivando campanhas em favor dos pacientes e contra o uso inadequado do termo em diversos países. Caso semelhante ocorreu com o termo ‘mongolismo’ – que já foi empregado como sinônimo de Síndrome de Down – até que a República Popular da Mongólia instou as autoridades médicas a interromper o seu uso.
É comum que conversas e conteúdos que mencionem esquizofrenia não apresentem espaço para as pessoas com esquizofrenia nem abordem seu sofrimento. Em vez disso, muitas vezes banalizam a doença psiquiátrica ao usá-la fora de contexto para caracterizar decisões políticas e econômicas contraditórias ou duvidosas. Deste modo, reforçam a ideia informal associada à doença, limitando-a a casos isolados de violência, onde esse diagnóstico psiquiátrico poderia estar presente.
Entretanto, embora a literatura mencione uma associação entre esquizofrenia e comportamento violento, há estudos que apontam em direção oposta. Estes sugerem que crimes violentos são mais comuns apenas entre pacientes esquizofrênicos que são dependentes de drogas e não recebem tratamento adequado. Um tratamento médico adequado pode, sim, reduzir a violência entre pacientes psicóticos. Assim, o ambiente cultural desempenha um papel importante na perpetuação dessa visão negativa sobre transtornos mentais, em geral, e esquizofrenia, em particular, o que não está em consonância com os dados disponíveis na literatura médica.
Cabe acrescentar que segundo estudos epidemiológicos, 93% das pessoas com doenças mentais nunca cometem um ato de violência. E mesmo entre aquelas que, porventura, o fazem, a incidência desse tipo de crime é consideravelmente inferior às pessoas diagnosticadas com personalidade antissocial e abuso de álcool e drogas. No espectro da violência, as pessoas com esquizofrenia são frequentemente as vítimas.
Uma compreensão inadequada da esquizofrenia dificulta sua aceitação social e contribui para a relutância de muitos pacientes em buscar ajuda para sua condição. Diante disso, mostra-se imperativo mobilizar especialmente os profissionais de saúde mental para combater a estigmatização da psiquiatria e dos transtornos mentais, em particular da esquizofrenia, em uma perspectiva global.
*Wagner Farid Gattaz é médico psiquiatra, professor titular do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP e Chairman da Gattaz Health

Atenção! A responsabilidade do conteúdo é do autor do artigo, enviado para a equipe do Saúde Debate. O artigo não representa necessariamente a opinião do portal, que tem a missão de levar informações plurais sobre a área da saúde. 

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