Nova estratégia de combate ao HPV depende de orientação médica

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(Foto: Freepik)

Em uma decisão emblemática e potencialmente transformadora para a saúde pública, o Brasil adotou a administração de dose única da vacina contra o Papilomavírus Humano (HPV), marcando um novo capítulo na luta contra um dos principais causadores do câncer de colo do útero.  

 Esta mudança, baseada em evidências científicas emergentes, promete não apenas simplificar o esquema de vacinação, mas também aumentar sua eficácia em termos de cobertura e proteção populacional. No entanto, para que essa estratégia atinja seu potencial máximo, enfrenta-se o desafio de superar a hesitação e a falta de recomendação por parte de profissionais da saúde, um obstáculo não menos significativo na jornada para erradicar a infecção por HPV.  

O HPV é responsável por uma série de doenças genitais, incluindo o câncer de colo do útero, o terceiro mais comum entre mulheres globalmente. No Brasil, apesar de avanços significativos no rastreamento e prevenção, as taxas de incidência e mortalidade ainda são preocupantes. A vacinação surge como a ferramenta mais eficaz para prevenir a infecção por HPV e, consequentemente, reduzir a carga do câncer de colo do útero. Estudos mostram que a vacina tem elevada eficácia na prevenção de infecções persistentes e lesões pré-cancerosas associadas aos tipos de HPV mais comuns. 

 A decisão de transição para a dose única reflete uma adaptação às evidências que sugerem uma proteção robusta e duradoura com uma única dose da vacina. Esse esquema simplificado tem o potencial de aumentar significativamente as taxas de vacinação, especialmente em comunidades com difícil acesso aos serviços de saúde ou onde a conclusão do esquema de múltiplas doses é baixa. Além disso, a economia de recursos pode permitir a realocação de fundos para outras áreas críticas da saúde pública.  

Apesar dos benefícios claros da vacinação contra o HPV, muitos médicos ainda hesitam em recomendá-la, seja por falta de informação atualizada ou por crenças pessoais. Esta hesitação contribui para a baixa taxa de vacinação e perpetua o ciclo de infecção e doença. É imperativo que os profissionais de saúde estejam equipados com informações científicas atualizadas e baseadas em evidências para que possam orientar corretamente seus pacientes. 

 Para mudar o cenário atual, é essencial que os conselhos federais de medicina e enfermagem desempenhem um papel proativo. Isso inclui a promoção de campanhas de educação continuada para profissionais de saúde, a implementação de diretrizes claras sobre a vacinação contra o HPV e a responsabilização daqueles que, sem justificativa baseada em evidências, deixam de recomendar a vacina. Afinal, a saúde pública é uma responsabilidade coletiva e os profissionais da saúde têm um importante papel na prevenção de doenças e na promoção da saúde da população.  

Para avançar, é necessário um esforço coordenado que envolva o governo, o setor de saúde, as escolas e a sociedade como um todo. A vacinação contra o HPV deve ser vista não apenas como uma medida preventiva individual, mas como parte de uma estratégia de saúde pública para combater o câncer de colo do útero.   

A simplificação do esquema vacinal para uma dose única é um passo significativo nessa direção, mas seu sucesso depende da superação da hesitação vacinal, do fortalecimento da recomendação médica e do compromisso contínuo com a educação e a conscientização.  

O Brasil está diante de uma oportunidade sem precedentes para liderar o caminho na eliminação do câncer de colo do útero como um problema de saúde pública. Ao abraçar essa mudança e trabalhar para superar os obstáculos à vacinação contra o HPV, o país pode alcançar uma vitória significativa para a saúde de suas cidadãs.  

*Alessandro Castanha da Silva é biólogo, especialista em Microbiologia Clínica e professor dos cursos da Área da Saúde do Centro Universitário Internacional Uninter  

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