Nas relações entre Economia e Saúde a união faz a força

união
(Foto: rawpixel/Freepik)

As interrelações entre economia e saúde produzem um campo fértil de estudos que exploram como as forças econômicas moldam os resultados e, inversamente, como o bem-estar da população influencia o desempenho econômico. No centro dessa relação, reside um conceito essencial à sobrevivência de todo sistema, seja ele público ou privado: o mutualismo. A saúde é um tema que exige uma abordagem que reconheça o valor da colaboração entre o governo, o setor privado, a sociedade civil e os indivíduos. Essa sinergia, não apenas também promove inovações em cuidados e políticas públicas que beneficiam toda a população, mas otimiza a alocação de recursos.

No núcleo do mutualismo entre indivíduos no âmbito da saúde está a ideia de solidariedade e responsabilidade compartilhada. Esse princípio se manifesta de várias maneiras, desde redes de apoio social que oferecem cuidados e assistência a membros necessitados, até iniciativas comunitárias que promovem estilos de vida saudáveis, prevenção de doenças e bem-estar mental. Tais esforços mutualísticos não apenas fortalecem os laços sociais, mas também contribuem para a redução de riscos à população, minimizando a carga sobre os sistemas de saúde.

Uma das manifestações mais claras do mutualismo é o conceito de coletivos ou grupos de apoio, em que os indivíduos com interesses ou necessidades semelhantes se unem para compartilhar experiências, recursos e estratégias de enfrentamento. Esses coletivos podem variar, desde grupos de apoio para condições crônicas, até iniciativas comunitárias focadas em atividades físicas, nutrição ou saúde mental. O poder dessas comunidades reside na capacidade de empoderar as pessoas, fornecendo não apenas suporte emocional, mas também acesso a informações e recursos que podem não estar disponíveis por meio de canais formais.

Do ponto de vista da viabilidade econômica, a existência de um grupo diverso e numeroso é uma garantia para o enfrentamento de custos catastróficos em saúde que, eventualmente, podem ocorrer ao longo da vida, especialmente na condição de idoso. O cerne da questão é que uma patologia ou mesmo um acidente, que implique em cuidados de elevadíssimo custo, podem representar o consumo integral das poupanças acumuladas ou mesmo do patrimônio das famílias. A melhor forma de se enfrentar essas condições hipotéticas não é, portanto, o acúmulo individual de reservas, mas a colaboração mutualística, já que apenas alguns indivíduos estarão sujeitos de fato ao custo catastrófico. Assim é, que situações de incerteza como esta viabilizam a existência dos seguros. Na saúde, por meio do seguro social (como é o caso do National Heath System – o NHS inglês, um orgulho para os britânicos, ou mesmo o SUS) ou pela via do setor privado, pela contratação de planos de saúde.

Para além dos custos, o comportamento mutualístico entre indivíduos promove a saúde pública ao incentivar práticas saudáveis e preventivas. Programas de vacinação, por exemplo, dependem da adesão coletiva para alcançar a imunidade de rebanho. Campanhas bem-sucedidas muitas vezes se apoiam na capacidade de indivíduos e comunidades de se mobilizarem em torno de objetivos comuns, como a redução do tabagismo ou a promoção da atividade física. Promover e apoiar essas redes de solidariedade e cooperação é essencial para desenvolver comunidades saudáveis, justas e resilientes, evidenciando a interdependência profunda entre saúde e economia na escala mais humana e pessoal.

O mutualismo entre indivíduos no contexto da saúde é um elemento vital para o fortalecimento não só do bem coletivo, mas também da prosperidade econômica. Ao evitar que as pessoas precisem acumular elevadíssimas poupanças a fim de se protegerem, os sistemas securitários permitem uma participação maior do consumo nas rendas das famílias, gerando efeitos multiplicadores sobre a atividade econômica.

Por fim, um ambiente econômico robusto proporciona os recursos necessários para investir em saúde, seja pelo financiamento público, seja incentivando o setor privado a investir em serviços de saúde, pesquisa e desenvolvimento. A estabilidade econômica também permite que os indivíduos tenham acesso a melhores condições de vida, nutrição e educação, que são determinantes para ter uma vida saudável.

*João Matos é professor de ciências econômicas da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio

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