Medicina privada versus pública: inovações e desafios no Brasil

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(Foto: rawpixel/Freepik)

A relação entre medicina pública e privada é complexa e abrange diversos aspectos, como a forma de lidar com a inovação. No Brasil, essa dicotomia é ainda mais evidente, com desafios e oportunidades únicas em ambos os setores.

A medicina privada, geralmente financiada por seguros de saúde ou pagamento direto dos pacientes, é frequentemente percebida como mais inovadora. Isso se deve à flexibilidade financeira e à competição de mercado, que incentivam investimentos em tecnologias de ponta, equipamentos avançados e métodos de tratamento de última geração.

Na área da medicina privada, é digno de nota o uso de diversas inovações e tecnologias, tais como:

Cirurgia robótica: realiza procedimentos complexos com maior precisão e menos invasividade. Essa tecnologia permite que os cirurgiões façam intervenções com movimentos mais delicados e precisos, resultando em tempos de recuperação mais curtos e menores taxas de complicações para os pacientes.

Medicina personalizada e genômica: oferece tratamentos mais direcionados e eficazes para pacientes com doenças genéticas, câncer e outras condições complexas. Por meio da análise do DNA e de biomarcadores, os médicos podem desenvolver planos de tratamento personalizados, maximizando os resultados clínicos e minimizando os efeitos colaterais.

Cirurgia assistida por holograma ou cirurgia holográfica: permite aos cirurgiões visualizarem informações anatômicas, como estruturas internas do corpo humano, órgãos e vasos sanguíneos de forma holográfica e sobreposta ao campo cirúrgico. O recurso proporciona melhor compreensão da anatomia do paciente e auxilia na orientação durante a cirurgia, tornando o procedimento mais preciso e seguro.

Por outro lado, a medicina pública, representada pelo SUS no Brasil, muitas vezes enfrenta restrições financeiras significativas, o que pode limitar a capacidade de inovação. Embora a medicina privada possa ser mais ágil na adoção de inovações devido ao orçamento em cena, isso não significa que a área pública esteja fadada à estagnação.

Em um país onde 77% da população é SUS dependente, ou seja, depende exclusivamente do atendimento público, com 203 milhões de habitantes, a inovação deve ser direcionada às portas de entrada e o melhor direcionamento do paciente no sistema de saúde. Com 7 em cada 10 brasileiros utilizando o sistema público, o Brasil tem um ativo importante, que são os dados. Na atualidade, quem tem posse dos dados tem nas mãos o bem mais valioso que existe, já que essa informação nutre todas as outras bases e descobertas, por ter o entendimento do consumo e do comportamento do mercado. Ferramentas de gestão de dados são cada vez mais importantes na saúde pública, caminhando em conjunto com ferramentas de proteção desses dados.

Estratégias como parcerias público-privadas, investimentos governamentais diretos em pesquisa e desenvolvimento e políticas de incentivo à inovação podem nivelar o campo de jogo. Além disso, a medicina pública muitas vezes serve como um terreno fértil para a pesquisa clínica e epidemiológica, fornecendo insights valiosos que podem impulsionar o avanço tecnológico em ambos os setores.

Nesse sentido, é possível incluir políticas de subsídios para empresas farmacêuticas e de tecnologia médica que desenvolvam soluções voltadas às necessidades específicas do sistema de saúde, bem como programas de bolsas e financiamento para pesquisadores e instituições acadêmicas que se dediquem a estudos relevantes para o SUS.

Destaca-se ainda algumas inovações e tecnologias aplicadas no Sistema Único de Saúde:

Programa Telessaúde Brasil Redes: utiliza tecnologia de telemedicina para oferecer suporte a profissionais de saúde na atenção básica, por meio de teleconsultas, videoconferências e tele-educação.

Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC): permite o compartilhamento de informações médicas dos pacientes entre diferentes unidades de saúde, facilitando a integração do cuidado, reduzindo o tempo gasto com a busca por históricos médicos e melhorando a qualidade e segurança do atendimento.

Programa Nacional de Imunizações (PNI): exemplo de sucesso na aplicação de tecnologia para o controle de doenças infecciosas. O PNI monitora a cobertura vacinal, identifica áreas de risco e coordena campanhas de vacinação em todo o país, contribuindo para a erradicação e controle de diversas doenças.

Esses e outros exemplos demonstram como o SUS e a medicina pública estão utilizando a inovação e tecnologia para melhorar a qualidade e acessibilidade dos serviços de saúde no Brasil, contribuindo para o bem-estar e a saúde da população. A relevância que o SUS traz no cenário mundial rendeu elogios do executivo e bilionário Bill Gates, que comentou soube a capilaridade do sistema público brasileiro através da Atenção Primária à Saúde (APS)

Como se vê, a inovação na medicina é crucial para melhorar a qualidade e a acessibilidade dos serviços em todo o mundo. Embora a área privada muitas vezes seja vista como a mais inovadora devido à flexibilidade financeira, a medicina pública também tem o potencial de alcançar níveis significativos de avanço, especialmente com incentivos e investimentos certos. No Brasil, é essencial que o SUS seja apoiado com políticas e recursos que promovam a pesquisa e o desenvolvimento de soluções inovadoras, garantindo que todos os brasileiros possam se beneficiar dos avanços médicos mais recentes.

*Por Bárbara Miranda, Gerente de Inovação em coautoria com Rafael Kenji, CEO, ambos da Health Angels Venture Builder, fundo de investimento no formato Venture Builder cujo principal objetivo é desenvolver soluções inovadoras nas áreas de saúde e educação

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