Inovação nada mais é do que transformar ideias em soluções. Quando existe uma necessidade latente ou urgente, sua atuação acontece em pleno potencial. É o caso do rápido crescimento populacional, ou de forma mais trágica e infeliz, das guerras e pandemias. Mas é no setor da saúde que o conceito se desdobra de forma mais clara, sobretudo em momentos como esses.
Desde a criação do soro fisiológico para tratamento dos feridos durante a Primeira Guerra Mundial até a descoberta dos antibióticos com a acidental criação da Penicilina por Alexander Fleming, em 1928, na Segunda Guerra. Vacinas que demoravam mais de dez anos para serem desenvolvidas e testadas foram aplicadas em 2020, na pandemia de Covid-19, após dez meses de estudo e criação – feito que deu o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2023 à bioquímica húngara Katalin Karikó e ao médico norte-americano Drew Weissman, devido às descobertas de imunizantes de RNA mensageiro.
Como é evidente, a inovação na saúde acontece muito antes desse “novo cenário”. Em 1996, por exemplo, surgiu no Brasil o conceito de “clínicas populares”. Consultas com valores entre R$ 50 e R$ 90 ficaram mais acessíveis à população, que aguardava o atendimento do SUS, ou que conseguia arcar com consultas esporádicas. Mas para ofertar essa média de preço, o médico precisaria receber menos pelo atendimento. Para o povo, criou-se uma solução, mas para a classe médica, um desafio frente à desvalorização do profissional, com o aumento da oferta pela criação crescente das Escolas Médicas no país, com seu pico de crescimento após o ano 2000. Novas soluções precisariam, então, ser criadas, olhando também o profissional de saúde como usuário.
A chegada de dispositivos inteligentes, como aplicativos de monitoramento de saúde e wearables, permitiram uma abordagem mais proativa à área, capacitando os indivíduos a monitorarem seus próprios sinais vitais e a tomarem medidas preventivas. Além disso, a telemedicina emergiu como um recurso crucial, conectando pacientes a profissionais mesmo em áreas remotas, reduzindo as barreiras de acesso aos cuidados médicos. O profissional de saúde passou a ter maior facilidade no acompanhamento dos seus pacientes, com dados monitorados à distância e a diminuição do tempo de deslocamento.
A pesquisa científica também experimentou um crescimento exponencial. Instituições de renome no país investiram em estudos inovadores, explorando novas terapias, medicamentos e técnicas cirúrgicas. Esses avanços não apenas ampliaram o espectro de tratamentos disponíveis, mas também posicionaram o Brasil como um polo de excelência na produção de conhecimento em saúde.
Contudo, apesar desses avanços, desafios persistentes continuam. A desigualdade no acesso a essas novas tecnologias e tratamentos é um exemplo. Enquanto áreas urbanas e centros médicos de excelência abraçam rapidamente as inovações, muitas comunidades rurais e de baixa renda ainda lutam para conseguirem serviços básicos de saúde e as últimas novidades tecnológicas. Além disso, a complexidade do sistema brasileiro e a burocracia muitas vezes dificultam a rápida implementação e adoção de inovações no setor.
Para superar esses entraves, é crucial o esforço conjunto entre os setores público e privado, incluindo investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento, políticas que promovam a democratização do acesso à saúde e a simplificação de processos para a introdução de novas ferramentas.
Afinal, a inovação está moldando um novo paradigma para a saúde no Brasil. Os avanços em cena aceleraram o processo de digitalização e instituições públicas e privadas já utilizam a tecnologia como forma de melhorar o atendimento do setor, diminuindo custos e ampliando o cuidado. Portanto, a evolução da inovação na área está em curso, com potencial que se assemelha ao tamanho continental do Brasil.
*Rafael Kenji Hamada é médico e CEO da Health Angels Venture Builder, fundo de investimento no formato Venture Builder cujo principal objetivo é desenvolver soluções inovadoras nas áreas de saúde e educação
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