O Brasil está no epicentro de uma pandemia silenciosa que continua a devastar milhões de vidas diariamente: a crise da saúde mental. Já há algum tempo, o país é considerado o mais ansioso do mundo, com 9,3% da população afetada, de acordo com uma estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, ocupa a segunda posição nas Américas em prevalência de depressão. O mais contraditório é que apenas 5,1% realizam psicoterapia, uma forma de tratamento amplamente recomendada para problemas ligados à saúde mental.
Isso porque, a distância entre as condições econômicas da maior parte dos brasileiros e o custo dos tratamentos tradicionais de saúde mental é alarmante. Com um salário médio de pouco mais de R$3.000, muitos não conseguem arcar com o gasto de um acompanhamento contínuo com o psicólogo, que pode chegar a R$800 por mês. Na esfera pública, infelizmente não existem profissionais suficientes para atender a demanda. Essa triste realidade exclui milhões de pessoas do acesso a cuidados essenciais para o bem-estar mental e emocional.
Sobre aqueles que iniciaram a prática, de cerca de 19% que buscaram ajuda de um psicólogo ou psiquiatra no último ano, a maioria não ultrapassou a quinta consulta, ainda segundo a OMS. E, foi com a COVID-19 exacerbando os transtornos de saúde mental – especialmente entre crianças e adolescentes – que as terapias baseadas em inteligência artificial ganharam relevância.
A inteligência artificial surge como uma solução acessível e escalável, capaz de democratizar o acesso à saúde mental, oferecendo suporte contínuo e de qualidade a um custo muito menor, permitindo que mais brasileiros possam cuidar do conforto emocional sem comprometer o orçamento.
A falta de presença regular em um psicólogo acontece, em geral, devido o alto custo, estigma, vergonha, medo de julgamento e muitas vezes a escassez de terapeutas em algumas regiões. Ao oferecer contato via chatbots, que permitem que qualquer pessoa receba orientação emocional de qualquer lugar, a qualquer momento, o suporte da IA tem se tornado um aditivo importante para reduzir as estatísticas.
Fazer terapia com ajuda do recurso já é realidade há alguns anos na Europa e nos Estados Unidos, mas, agora, as soluções já estão impactando positivamente a vida de milhares de brasileiros. Recentemente, o Grupo de Trabalho de Saúde do G20 – grupo que reúne líderes de algumas das maiores economias do mundo – discutiu em um evento em Salvador, Bahia, o impacto das ferramentas de inteligência artificial na medicina, chegando à conclusão de que o uso já demonstra benefícios concretos para o segmento. Esse tipo de debate demonstra a imensa capacidade da IA em proporcionar suporte emocional acessível e eficaz, preenchendo uma lacuna deixada pelos métodos tradicionais.
Embora não substituam o acompanhamento humano, a alternativa é promissora para democratizar o acesso à saúde mental e reduzir as barreiras que muitas pessoas enfrentam para buscar ajuda, já que é possível escalar o atendimento para milhões de usuários simultaneamente. Essa mudança significa uma revolução no setor e, como todas elas, precisa ser implantada da maneira correta.
A IA tem se mostrado essencial para democratizar o acesso à saúde da mente em um país como o Brasil, onde os desafios econômicos e geográficos ainda limitam o acesso aos cuidados necessários. No entanto, para que essa tecnologia alcance todo o seu potencial, é crucial que seja integrada a um ecossistema mais amplo, combinando esse poder e acessibilidade com a sabedoria e a empatia humanas.
Agora, mais do que nunca, é o momento de agir. Líderes do setor de saúde, formuladores de políticas públicas e empresas de tecnologia precisam unir forças para promover a adoção da IA em larga escala. Isso inclui investir em pesquisas para aprimorá-la, estabelecer parcerias entre o setor público e privado, regulamentar o uso ético da IA e educar os profissionais de saúde sobre suas aplicações. Ao adotar essas medidas, podemos transformar o acesso à saúde mental no país, garantindo que todos tenham a oportunidade de receber o apoio que precisam, independentemente de onde vivem ou de quanto ganham. A revolução está ao alcance, e a IA é a chave para um futuro mais saudável e feliz para todos.
*Diego Silva é terapeuta, fundador e CEO da Inner Health, startup de saúde mental
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