Hospitais Inteligentes: importância de projetos de arquitetura e engenharia compatíveis com o futuro

A infraestrutura das instituições de saúde mudou porque os pacientes também mudaram. Imagine que em uma visita de rotina, muitas pessoas reclamam – e com razão – se não há rede de wi-fi disponível. O que muitos encaram como um detalhe é, na verdade, essencial: muitos convênios, por exemplo, contam apenas com carteirinhas virtuais. Além disso, do ponto de vista do atendimento, a telemedicina vem ganhando espaço e exige disponibilidade de recursos. A tecnologia não é mais um plus, é um pressuposto, mas os projetos de arquitetura e engenharia estão levando esta nova dinâmica em consideração?

Imagine que com apenas um tablet um paciente internado pode controlar a luz, as persianas, a TV, a inclinação da cama e através do mesmo dispositivo chamar a equipe de enfermagem para o quarto ou até mesmo realizar um atendimento por telemedicina. Nas instituições que são referência no Brasil, há, inclusive, chamados de voz utilizando o smart speaker, Alexa. A tecnologia, além de efetiva para tornar a experiência do paciente mais agradável, ainda faz parte da vida doméstica de muitos deles, colaborando com que se sintam mais em casa durante a estadia.

Outro ganho é que se alia a experiência do paciente com recursos inteligentes para a equipe de cuidado. Hoje, as chamadas direcionadas ao posto de enfermagem são para todos os tipos de solicitação do paciente ou acompanhante – desde mais um travesseiro até uma emergência médica. Contudo, com a tecnologia é possível direcionar as solicitações para seus respectivos setores, desafogando o assistencial para que possam focar naquilo que é mais essencial: a atenção à vida.

Definitivamente, tais recursos compõem aquilo que entendemos como “Hospitais Inteligentes”, mas o conceito vai além da automação dos leitos. Estamos falando de Prontuários Eletrônicos e o apoio de Big Data para otimizar o cuidado e gestão da saúde. Os dados possibilitam planejar e dimensionar melhor as equipes de atendimento, proporcionando uma alocação mais assertiva do expediente dos profissionais, além de identificar o perfil de pacientes que necessitam de maior ou menor assistência.

A inovação impõe a necessária estruturação de uma central de monitoramento, ambiente responsável por analisar as informações extraídas em tempo real dos monitores de telemetria e das câmeras que abastecem o prontuário eletrônico, emitir alertas e contatar os profissionais de saúde diretamente. Assim, e com a ampliação da telemedicina e do uso de devices médicos de monitoramento, torna-se possível a consolidação das internações em domicílio nos casos menos complexos, apoiadas pela telemedicina e atendimento remoto. Para isso, os projetos de arquitetura devem estar cada vez mais em linha com a criação desses espaços tecnológicos.

O que está em jogo é que a tecnologia tem que ser empática, temos que nos colocar no lugar de quem vai usar para avaliarmos o impacto no cotidiano. E isso pode significar uma nova – e melhorada – dinâmica de atendimento de ponta a ponta. Por exemplo, quando todo o histórico do paciente já está no sistema, este não chega mais como um desconhecido, além disso, antes mesmo de entrar na instituição já pode realizar o check-in e, com isso, alertas podem ser emitidos avisando ao setor que o paciente já chegou no hospital agilizando o atendimento.

O paciente, ainda pelo smartphone, pode acessar a própria geolocalização para ser conduzido pelo aplicativo ao local onde realizará o exame, internação ou consulta, como uma espécie de Waze ou Google Maps interno. No horizonte, estes cenários compõem uma imagem mais ampla da missão que é munir as pessoas com mais recursos inteligentes ao passo que humanizamos a tecnologia.

No fim do dia, esta é a tarefa principal: criar, adaptar e pensar em espaços compatíveis com toda a tecnologia já disponível e com aquela que nos surpreenderá em breve, não mais como um diferencial, mas desde os estudos preliminares nos projetos de engenharia e arquitetura. Este futuro eficiente, dinâmico e que coloca o paciente no centro, mas com igual atenção à experiência de quem cuida – médicos, enfermeiros, profissionais de limpeza e manutenção, gestores, entre outros – é possível, mas exige infraestrutura. O nosso papel é preparar a estrada por onde vão correr tais inovações.

Hospitais Inteligentes
Luciana Cartocci

* Luciana Cartocci é Diretora Executiva da Teleinfo Soluções

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