O mercado de saúde privada no Brasil movimenta anualmente cerca de R$ 415 bilhões, de acordo com o IPC Maps. Esse desempenho é impulsionado, em parte, pelo elevado gasto particular dos brasileiros com saúde, que representa 5,3% do PIB do País ao longo de seis anos. Em contrapartida, o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) estima que o resultado operacional das empresas de planos de saúde foi negativo em R$ 8 bilhões em 2023.
A crescente demanda por serviços de saúde, acompanhada também por reclamações de pacientes, pelo aumento da sinistralidade e pela maior incidência de fraudes, levam a esses resultados. O comportamento do usuário também mudou e, no pós-pandemia, prioriza a prevenção, sobrecarregando muitas estruturas de atendimento.
Nas empresas listadas, a situação não é diferente. Os custos elevados e a dificuldade de repasses de preços têm provocado o alongamento de prazos de pagamentos. No entanto, o recém-lançado Panorama Setorial da Saúde, da Robert Half, revelou que o setor continua a buscar profissionais, com um aumento médio anual de 3,9% nas contratações no último quinquênio. Contudo, enfrentam a crescente concorrência de outros setores, que oferecem pacotes de remuneração mais atrativos e melhores oportunidades de progressão na carreira.
Nos últimos 20 anos, ocorreu um movimento robusto de consolidação, com mais de 800 fusões e aquisições registradas. A concentração dos negócios aponta para uma busca de ganhos de escala e ganhos de eficiência. Por outro lado, especialistas indicam um longo caminho para o estabelecimento de organizações coesas e eficientes.
Até o momento, notamos que as operações se tornaram mais complexas, com estruturas, processos e sistemas muitas vezes redundantes ou, até mesmo, incompatíveis. Com a consolidação, por exemplo, muitas empresas incorporaram hospitais e laboratórios, entrando em áreas diferentes.
Por vezes, os negócios são desenvolvidos por uma força de trabalho que carece de habilidades técnicas e comportamentais essenciais para as posições. Muitas empresas têm origem familiar e histórico de administração por profissionais da área médica, resultando em um déficit de capacitação desde as atividades operacionais até os níveis executivos.
O setor requer cada vez mais perfis de profissionais diferenciados, com flexibilidade e resiliência para fazer a conexão entre operações de diferentes naturezas. Há uma forte demanda por profissionais seniores da área financeira com bom entendimento dos processos do setor, além de conhecimentos especializados nas áreas de faturamento, auditoria e autorizações.
Dadas as dificuldades para encontrar os perfis necessários, a alternativa, nem sempre eficiente, tem sido investir no treinamento dos colaboradores juniores. Outra solução costuma ser a contratação por projeto para resolver backlogs gerados pelas ineficiências internas e pelos atritos entre operadoras e prestadoras, assim como transferir know-how aos colaboradores permanentes da empresa.
As empresas de Saúde no Brasil são essencialmente “pré-digitais”, ou seja, incorporam pouca tecnologia e automatização em sua gestão. Por isso, há carência de profissionais de Tecnologia da Informação (TI). No entanto, como a procura por especialistas em sistemas existe em praticamente todos os setores, as empresas de Saúde têm ainda mais dificuldade para recrutar, assim como para repor colaboradores assediados pela concorrência.
Dentro deste cenário, torna-se evidente que o setor precisa aprimorar suas estratégias de recrutamento e retenção, de forma que os talentos possam contribuir decisivamente para o desempenho das companhias. É fundamental reconhecer a importância da gestão de pessoas na recuperação financeira das empresas de Saúde. Adaptabilidade, treinamento, inovação e investimento contínuo em pessoas são essenciais para garantir o sucesso futuro do setor no Brasil.
*Vitor Silva é gerente operacional da Robert Half no Rio de Janeiro e Eduardo Guimarães é gerente de negócios da Robert Half
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