A pandemia trouxe uma série de desafios para o mercado corporativo. Muitos foram superados, entre eles viabilizar o trabalho remoto sem impactar a produtividade das equipes. Mas, agora, novos obstáculos estão surgindo e uma outra preocupação vem ocupando cada vez mais espaço entre os líderes das empresas: o impacto desses quase três anos na saúde mental dos colaboradores.
O isolamento social, o desemprego, os problemas financeiros e de saúde e a perda de entes queridos, afetaram radicalmente o comportamento humano, e, em muitos casos, de uma forma irreversível. Doenças como depressão, ansiedade e estresse registraram um boom nunca visto antes. É quase como se estivéssemos vivendo uma segunda pandemia, a de problemas emocionais.
Um recente estudo do Ministério da Saúde mostrou que 11,3% dos brasileiros receberam o diagnóstico de depressão em 2020. Já globalmente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão e a prevalência de ansiedade aumentaram 25% no mundo todo neste mesmo ano, e, desde então 90% dos países pesquisados passaram a incluir a saúde mental e o apoio psicossocial em seus planos de resposta a essas doenças.
O Great Place to Work (GPTW), que é um dos rankings mais respeitados no mundo, por exemplo, criou até uma categoria de Saúde Emocional em 2022, para destacar as organizações por bons índices de práticas voltadas à melhoria da saúde emocional, mental e bem-estar de colaboradores e líderes, o que só vem a reforçar essa preocupação em relação ao tema.
Usando minha vivência dos últimos anos, nos quais a área pela qual sou responsável, a de Desenvolvimento Humano Organizacional, liderou diversas iniciativas para se adaptar a esse novo cenário, listei algumas dicas que podem ser colocadas em prática para beneficiar a saúde emocional como um todo:
- Crie um comitê bem estruturado para propagar as ações de saúde mental por toda a empresa
- Crie um canal de comunicação com informações úteis e atualizadas a respeito, para que os colaboradores possam acessá-las facilmente e tirar dúvidas sempre que preciso;
- Promova palestras e campanhas com temas realmente relevantes e atuais. É importante que essa iniciativa seja recorrente para ajudar a estabelecer uma frequência que não permita que os assuntos caiam no esquecimento;
- Faça rodas de conversas informais. É uma maneira de todos se sentirem mais à vontade para falar dos problemas;
- Identifique os diferentes grupos que existem na sua empresa para detectar aspectos que impactam diretamente no emocional, como comportamentos racistas e homofóbicos, que impactam diretamente o emocional das pessoas;
- Trabalhe a formação dos líderes. A responsabilidade da gestão de pessoas não é somente do RH. O líder é o grande responsável pela gestão diária do time;
- Apoie iniciativas relacionadas à prática de esportes. Os benefícios trazidos pelo esporte na vida pessoal e profissional já foram mais do que comprovados, por isso cabe ao RH facilitar a aprovação dessas iniciativas e torná-las sempre viáveis. Apoie seu time, ofereça horários flexíveis para que as pessoas possam ter uma rotina de exercícios. Além de melhorar a saúde física e mental, proporcionando como consequência uma melhora na produtividade, o esporte traz muitas lições importantes para o mundo corporativo. Ele ensina a disciplina, a humildade, o respeito aos limites do próximo, o espírito de equipe;
- Deixe à disposição um time de especialistas como médicos e psicólogos para atender aos colaboradores, sempre que for preciso;
- Estabeleça a cultura do diálogo e do acolhimento. Faça com que as pessoas se sintam à vontade e acolhidas para conversar sobre qualquer problema que possa estar afetando sua vida profissional e pessoal.
- Monte pacotes de benefícios flexíveis para que cada um possa usar da maneira que preferir, seja numa academia, ou para gastar no supermercado, por exemplo.
Certamente esse conjunto de ações vai te ajudar a promover uma melhora na saúde mental de todos, e isso vai refletir diretamente no resultado do seu negócio. Eu acredito muito que não é possível separar o lado profissional do pessoal. Somos um só e devemos ser tratados como indivíduos único que somos e não apenas como a força de trabalho que vai levar a sua empresa a lucrar mais.
Para alcançar alta performance e excelência, é fundamental considerar os fatores de saúde emocional. Tudo está associado. Por isso, fale sobre esse tema, sempre. Torne-o uma pauta recorrente e, se for preciso, revise o código de valores e os princípios da sua organização para se certificar que eles estejam aderentes às novas demandas do pós-pandemia.
E lembre-se, sempre: todos nós somos guardiões da cultura da empresa e desse grande desafio de evitar essa segunda pandemia em nossas vidas.
*Natália Pruchneski é Gerente de Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) da Teltec Solutions
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