Embalagens das vacinas: o que há de mais inovador nessa indústria?

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(Foto: Freepik)

Muito se fala sobre os avanços no desenvolvimento de vacinas, mas pouco acerca de um elemento essencial para que os produtos tenham qualidade e segurança: as embalagens. O processo produtivo e a armazenagem possuem um papel essencial para o sucesso das vacinas e é importante trazer à tona as inovações que estão sendo desenvolvidas para que toda a cadeia seja otimizada, refletindo em benefícios tanto para os produtores como para a população.

Em setembro de 2023, no Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) completou 50 anos de existência. Como exemplo da quantidade de vacinas que são desenvolvidas no mundo, somente a contra a COVID-19 atingiu a marca de 10 bilhões de doses aplicadas na população mundial, em janeiro de 2022, segundo dados do “Our Worlds in Data”, projeto ligado à Universidade de Oxford.

O cenário, portanto, engloba um mercado gigante e por isso há tanto interesse em otimizar tudo o que envolve a indústria de embalagens para vacinas ao redor do mudo. Apesar de diversas pessoas não saberem, a área da ciência segue em movimento, desenvolvendo pesquisas e testes para que sejam criados produtos cada vez melhores.

Hoje a indústria de embalagens vem se desenvolvendo no sentido de gerar uma maior produtividade para os fabricantes de vacinas e um melhor benefício para os seus consumidores. Como exemplo disso, podemos destacar novas soluções de vials (frascos) com novas tecnologias modernas que possibilitam uma maior segurança, produtividade e sustentabilidade.

Um exemplo de inovação são os vials com composição diferente (aluminosilicato) dos convencionais de borossilicato. Esta inovação vem para endereçar um problema comum na indústria de drogas injetáveis que utilizam vials deborosilicato: a laminação. Trata-se do fenômeno no qual pequenas camadas ou lascas de vidro se desprendem da superfície interna do frasco, podendo contaminar o conteúdo. Isso é indesejável, pois pode afetar a integridade, segurança e qualidade do produto. Foi então que, a partir dessa dor da indústria, foram desenvolvidos vidros com novas composições (aluminossilicato), o que garantiu uma redução a quase zero no fenômeno de laminação que tanto afeta a indústria farmacêutica. Adicionalmente, vials de aluminosilicato são consideravelmente mais resistentes que os convencionais, e há estudos que mostram que um vial de aluminosilicato resistiu a uma pressão de força de até 460Kg versus apenas 20Kg de um vial de borosilicato.

Estes exemplos se traduzem em processos de produção mais confiáveis e eficientes, e produtos mais seguros para o consumidor final. Além disso, eles são mais recomentáveis para novas drogas, uma vez que quando há mudança na composição dos vidros, deve-se revalidar a solução com as agências reguladoras – o que de certa forma é uma barreira de entrada para uma nova solução com composição diferente da convencional.

Outro exemplo de inovação envolve o aprimoramento dos vials de borossilicato. Neste cenário, os vials passam por um processo de revestimento químico em sua superfície externa (coating), reduzindo significativamente o coeficiente de fricção da superfície. Esta inovação melhora consideravelmente a eficiência das linhas de envase (20 a 50%), além de aumentar a resistência dos vials a esforços mecânicos, que se traduzem em 96% menos danos por fratura, quebras ou danos cosméticos da superfície do produto que impactam os indicadores de qualidade.

Um terceiro ponto importante que deve ser destacado é a sustentabilidade. Pois, uma vez que os materiais das embalagens são projetados para serem mais resistentes, a indústria está considerando a produtos com paredes menos espessas, reduzindo a quantidade de vidros utilizados e diminuindo em até 18% a emissão de CO2.

Diante desses insights, concluo que há um mar de oportunidades a serem explorados no segmento farmacêutico e, por isso, cada vez mais iremos nos deparar com soluções altamente inovadoras sendo projetadas e desenvolvidas para atender a todas as necessidades do mercado, visando sempre um melhor aproveitamento dos materiais e aumento da produtividade independentemente da área de atuação. Portanto, as empresas devem ficar de olho no que há de mais inovador e implementar nos seus negócios.

*Alan de Souza é Gerente de Estratégia e Desenvolvimento de Negócios na Corning na América Latina e Caribe, uma das líderes mundiais em inovação da ciência de materiais que desenvolve produtos para as áreas de comunicações ópticas, eletrônicos móveis de consumo, tecnologias para displays, automóveis e ciências da vida.

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