No dia 11 de março de 2025, completaram-se cinco anos desde a declaração da pandemia de COVID-19. Coincidentemente, também foi nesta data que o primeiro caso da doença foi confirmado em Curitiba.
Em meio à maior crise sanitária dos últimos 100 anos, aprendi tanto que é difícil mensurar o impacto que essa experiência teve na minha trajetória profissional. Mesmo tendo estudado Epidemiologia no mestrado, nada se compara à vivência dentro do sistema de saúde durante um momento tão desafiador.
Aprender sobre uma nova doença em tempo real — suas formas de transmissão, o comportamento da curva epidêmica, o intervalo serial, o tempo de incubação, o número de reprodução e as diferenças entre plataformas de vacinas — foi um exercício contínuo de adaptação e aprendizado.
Compreender a pandemia não foi apenas um desafio técnico; exigiu desenvolver novas habilidades para lidar com um volume imenso de dados e informações que precisavam ser analisadas e comunicadas rapidamente. Nesse processo, precisei ir além da Epidemiologia tradicional e mergulhar em novas ferramentas: programar em R, construir dashboards do zero, consumir dados via API, realizar junções de tabelas com milhões de registros, trabalhar com séries temporais e compreender modelos preditivos.
Mais do que dominar essas técnicas, o grande desafio foi traduzir esse conhecimento de forma clara e acessível para diferentes públicos, seja em reuniões gerenciais, com diversos segmentos da sociedade ou nas várias entrevistas para a imprensa. Muitas dessas coisas hoje parecem triviais, mas, na época, representaram desafios enormes. A cada novo obstáculo, o objetivo sempre foi o mesmo: fornecer a melhor informação possível para a tomada de decisão, ajudando a direcionar recursos e estratégias em um cenário de incertezas.
Ao longo desse período, minha admiração pela Epidemiologia só cresceu. Embora minha formação de origem seja em Educação Física, a Epidemiologia se tornou o eixo central do meu trabalho e da minha identidade profissional.
É preciso destacar que a Epidemiologia, como ciência fundamental da Saúde Coletiva, não se limita a atuar apenas em momentos de crise sanitária. Seu papel vai muito além do controle de epidemias ou da aplicação de protocolos para doenças de notificação compulsória. O raciocínio epidemiológico oferece ferramentas essenciais para diversas áreas da Saúde Pública, como vigilância, planejamento, avaliação de políticas e otimização de recursos. Nesse contexto, a criação e manutenção de um time de epidemiologistas bem preparados pode representar um avanço significativo para o futuro dos sistemas de saúde, contribuindo para um planejamento mais eficiente e fundamentado em evidências, garantindo maior qualidade e equidade no atendimento à população.
Para que esse potencial se concretize, a Epidemiologia precisa estar cada vez mais integrada às estruturas de gestão da saúde. Esse olhar crítico permite avaliar os acertos e erros dessa jornada e traz à tona algumas perguntas fundamentais: Estamos preparados para uma próxima pandemia? Nossos sistemas de saúde evoluíram com os avanços tecnológicos trazidos por essa crise? Conseguimos formar novos epidemiologistas para os desafios do futuro?
Mais do que um desafio técnico e operacional, a pandemia demonstrou a importância de sistemas de vigilância bem estruturados, decisões rápidas e baseadas em evidências, além do fortalecimento das capacidades locais de resposta. Esses aspectos precisam continuar evoluindo para que estejamos mais preparados no futuro.
As dúvidas ainda são muitas, mas de uma coisa tenho certeza: nos últimos cinco anos, fiz o meu melhor para contribuir com uma saúde pública mais eficiente e acessível para todos aqueles que, direta ou indiretamente, são impactados pelo meu trabalho. Nos próximos anos, quero continuar aprendendo com os desafios diários da saúde, para que, quando a próxima crise chegar — como a história nos ensina que inevitavelmente acontecerá —, eu esteja preparado para oferecer o que tenho de mais valioso: conhecimento e a vontade constante de evoluir.
Por fim, me solidarizo com todas as famílias que perderam entes queridos para essa terrível doença e com aqueles que, até hoje, carregam as sequelas desse período — não apenas na saúde, mas em todas as dimensões da vida. Espero que tenhamos aprendido lições importantes para que, no futuro, menos pessoas sofram tanto quanto sofreram nesta crise.
*Diego Spinoza, epidemiologista da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba
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