Que a pandemia de Covid-19 pode apresentar variantes mais contagiosas, como foi o caso da Ômicron, no início de 2022, não há dúvidas. Porém, no momento, a questão em voga é a recente adoção dos autotestes ao arcabouço de ferramentas de combate a pandemia. Afinal, o que se quer dizer quando nos referimos ao autoteste como uma ferramenta de triagem, e será mesmo que este produto não pode ser também utilizado para notificação de resultados aos órgãos oficiais?
O autoteste permite, de forma fácil e muito conveniente, a possibilidade de identificação rápida do contágio, isolamento imediato e adoção dos protocolos indicados. Ainda que seja um instrumento de triagem e não de diagnóstico definitivo, com o seu uso é possível contribuir para que os serviços de saúde sejam utilizados somente por aqueles que realmente necessitam, evitando a exposição desnecessária daqueles com suspeita e, também, provendo um produto que atende as exigências do órgão regulador, de forma mais acessível e com preços ao consumidor final inferiores aos praticados até então.
Como a sensibilidade mínima exigida pela ANVISA para um autoteste é de 80% (i.e., a cada 100 casos infectados, o autoteste deve prover resultado positivo em no mínimo 80 destes), e como o procedimento é realizado pelo usuário leigo (ao invés de um profissional de saúde treinado para tal), o autoteste é considerado como ferramenta de triagem.
Ademais, uma vez que a pessoa utilize o autoteste e detecte o contágio, há a orientação na embalagem para que ela entre em contato com um serviço de saúde, a fim de reportar o resultado e, dessa forma, contribuir para a notificação. Em outros países temos visto que, se for dada a possibilidade de reporte voluntário do resultado aos órgãos oficiais de saúde, as pessoas em geral tendem a fazê-lo, seja porque querem contribuir com o controle da pandemia, seja porque recebem orientações sobre como proceder em caso de resultado positivo.
O controle de dados é fundamental para termos um cenário em que a leitura de altas e baixas no contágio seja evidente, transparente e para que as autoridades possam tomar as medidas adequadas de controle em função das circunstâncias altamente voláteis desta pandemia.
Potenciais riscos quanto à subnotificação podem ocorrer, caso o paciente não realize o contato com os serviços de saúde, mas, em geral, a subnotificação já ocorreria sem os autotestes porque na verdade estes vieram para expandir muito o número de pessoas sendo testadas. De todo modo, a comunicação relacionada a um novo comportamento que precisa ser adotado deve ser constante. Nesse sentido, promover uma verdadeira campanha que explique a importância dessa ação deveria gerar um retorno bastante positivo.
E a sua promoção pode ser dada não apenas no âmbito governamental, mas via empregadores que venham a disponibilizar o produto em ações de saúde ocupacional, por empresas, meios de comunicação e até pessoas físicas nas redes sociais. Hoje, temos canais fortíssimos para expressar nossa opinião e, também, influenciar ações coletivas capazes de mudar a situação atual.
* Rubens Freitas é CEO da Vyttra Diagnósticos
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