A responsabilidade das empresas com a saúde mental dentro e fora dos ambientes corporativos

responsabilidade das empresas com a saúde mental
(Foto: Drazen Zigic / Freepik)

A saúde mental é um dos principais desafios da contemporaneidade para governos e organizações do mundo todo e, no mês do Janeiro Branco, conscientizar a sociedade sobre as questões relacionadas a este tema é indispensável para construirmos uma humanidade mais saudável. Além da conscientização, é importante utilizar diferentes recursos e tecnologias já disponíveis no enfrentamento dessa realidade.

Sabemos que a pandemia da Covid-19 teve um impacto brutal na vida das pessoas, à medida em que estabeleceu a rotina de home office como forma de conter a propagação do vírus, o que foi de suma importância, mas que infelizmente resultou no distanciamento social, acionando gatilhos ou desencadeando síndromes emocionais que já há bastante tempo preocupam a ciência a medicina.

No entanto, antes mesmo da pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia alertado que a depressão é a maior causa de absenteísmo nas empresas, resultado da pressão excessiva pela realização de mais tarefas em menos tempo e da dinâmica da solidão em grandes centros urbanos. Dentro e fora dos ambientes corporativos, a saúde mental dos colaboradores deve ter atenção especial de gestores de recursos humanos e executivos de empresas dos mais variados portes e setores econômicos.

Nesse sentido, o uso de tecnologias como a Inteligência Artificial (IA) é um dos importantes aliados como forma de prevenção e monitoramento da saúde mental dos colaboradores. A IA permite, por exemplo, criar interações virtuais para a identificação de perfil e estado emocional e, com isso, implementar soluções, jornadas de atenção plena (mindfulness). O resultado é a promoção do equilíbrio, assertividade, manuseio do estresse e, principalmente, qualidade de vida.

Por ocasião de um evento, o médico Dráuzio Varella abordou como a pandemia ajudou a agravar o quadro de depressão e como as corporações podem lidar para apoiar seus funcionários nesses momentos. Ao longo de sua palestra, Varella destacou também as mudanças provocadas nas relações de trabalho em função da evolução tecnológica, que apesar de simplificar tarefas e aumentar a eficiência têm feito as pessoas trabalharem mais, e não menos.

Ao analisarmos os inúmeros aspectos da saúde mental, é importante considerarmos também o movimento conhecido como The Great Resignation (a “Grande Renúncia”), observado desde o início da pandemia, que levou milhões de americanos a pedirem demissão voluntariamente e motivados, entre outros fatores, pela necessidade de uma atividade que proporcione maior realização pessoal.

Além disso, foram movidos pelo estresse e esgotamento ocasionados pelo trabalho remoto, em que as pessoas tiveram que conciliar as tarefas de trabalho com a rotina doméstica e cuidados com os filhos. Os efeitos dessa onda já mostraram seus resultados no Brasil, visto que apenas em março deste ano mais de 600 mil trabalhadores pediram demissão, o que representa um aumento de 37% se comparado com o mesmo mês de 2021, como indicam os dados do Cadastro Nacional de Empregados e Desempregados (Caged).

Avaliando o modelo padrão de trabalho anterior à pandemia – quando apenas startups e empresas de tecnologia já utilizavam a opção de home office para alguns dias da semana – é preciso considerar que a atenção e cuidados com a saúde mental passa, inevitavelmente, por ambientes de trabalho saudáveis e que valorizem os profissionais em suas mais variadas singularidades.

Um clima organizacional tóxico prejudica os colaboradores no desempenho de suas funções, na obtenção de resultados, nos relacionamentos e, principalmente, compromete o interesse em continuar trabalhando em uma determinada organização. Soma-se a esses fatores, a possibilidade de desenvolvimento de problemas emocionais e até físicos com consequências danosas no curto e longo prazos. A pesquisa “Saúde Emocional e Carreira”, realizada pela área de Educação in Company do Administradores Premium, streaming de educação para negócios, identificou que apenas 15,3% de pessoas consideram seus ambientes de trabalho como lugares ideais para a saúde mental, um percentual baixíssimo.

O mesmo estudo identificou ainda as situações mais relatadas pelos participantes: ansiedade (33,7%), depressão (15,3%) e estresse crônico (7%). E outro problema amplamente discutido nos últimos anos, a Síndrome de Burnout (ou Síndrome do Esgotamento Profissional), atinge 1 a cada 5 brasileiros, de acordo com pesquisa do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq – USP), conduzida pela empresa Gattaz Health & Results.

As cooperativas, operadoras e seguradoras de saúde têm papel relevante na oferta de serviços presenciais e remotos de monitoramento e acompanhamento da saúde dos funcionários de suas empresas clientes. Pode parecer paradoxal, mas até por meio de aplicativos é possível prevenir e tratar a saúde mental. É a tecnologia permitindo que as pessoas se sintam cuidadas, mesmo nos momentos de trabalho remoto.

A pandemia deixou marcas profundas nas relações de trabalho, potencializando os problemas relacionados à saúde mental de milhões de pessoas, e as empresas são parte da solução. É indispensável proporcionar ambientes saudáveis e colaborativos, em que os funcionários se sintam acolhidos, respeitados, motivados e liderados por gestores inspiradores. É preciso investir em cuidados com a saúde, a promoção do bem-estar e o diagnóstico prévio de problemas físicos e psíquicos, com ações e programas focados na saúde mental. E, claro, é preciso ter conexão entre propósitos pessoais e de trabalho. As pessoas querem, cada vez mais, se engajar com empresas cujas missões sejam relevantes para a sociedade e o planeta. Resultados, performance e bem-estar físico e emocional podem e devem conviver harmoniosamente.

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Patricia Rechtman

* Patricia Rechtman é cofundadora da Finplace

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