
A “odontologia biológica”, promovida nas redes sociais, preocupa o meio odontológico e os conselhos profissionais. Não reconhecida pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) como especialidade ou habilitação, e sem embasamento científico, alguns dentistas se autodenominam especialistas na área, disseminando informações imprecisas sobre saúde bucal. Profissionais que se apresentam como especialistas nessa área podem estar sujeitos a penalidades éticas.
As publicações abordam temas familiares à população, como tratamento de canal, uso de flúor no creme dental, restaurações de amálgama, e em especial, implantes dentários que são frequentemente criticando métodos seguros e eficazes há décadas. Essas mensagens alarmistas podem confundir o público e levar a escolhas prejudiciais para a saúde bucal.
Esses profissionais afirmam que avaliam o paciente integralmente, visando “minimizar os danos à saúde causados pelos tratamentos convencionais”, como descrito em perfis de odontólogos na rede social. A odontologia biológica frequentemente se associa a práticas pseudocientíficas, que não possuem evidências científicas robustas. A desinformação não tem lugar na odontologia.
Com o avanço das redes sociais, essa prática tem crescido rapidamente. Indivíduos envolvidos são persuasivos, atenciosos, bem articulados, sempre bem-vestidos e trabalham em consultórios atraentes. Eles identificaram um nicho para atrair pacientes e obter lucro.
Implantes de zircônia versus titânio
Defensores da odontologia biológica alegam que implantes de zircônia são superiores aos de titânio. Reforçam a ideia que o material cerâmico responde melhor às exigências mecânicas e promove menor adesão bacteriana. Dizem ainda que a zircônia oferece estabilidade química e não sofre corrosão. No entanto, estudos mostram que os implantes de zircônia são menos eficazes biológica e mecanicamente quando comparados aos implantes metálicos.
Quando comparados aos implantes metálicos, os implantes cerâmicos demonstram menor eficácia biológica e mecânica. Eles são menos resistentes e apresentam uma taxa de osseointegração (processo pelo qual um implante se integra ao osso natural do corpo) igual ou inferior às superfícies biologicamente mais ativas. Além disso, a cerâmica é tão suscetível à colonização bacteriana quanto qualquer outro material, embora seja mais lisa do que os implantes metálicos.
Com relação ao processo de corrosão, é consequência das infecções bacterianas ao redor dos implantes inseridos na cavidade bucal e que ambos os materiais (cerâmica e titânio) podem ser acometidos pela peri-implantite, doença que pode levar à perda do implante.
Vantagens dos Implantes de Titânio
Comprovação Clínica: Os implantes de titânio têm sido utilizados há décadas, com extensa pesquisa comprovando sua eficácia e durabilidade.
Osseointegração: Estudos mostram que o titânio tem uma excelente capacidade de osseointegração, fundamental para o sucesso do implante.
Versatilidade: Os implantes de titânio podem ser utilizados em uma variedade maior de situações clínicas.
Há poucos estudos de longo prazo comparando a durabilidade dos implantes de zircônia com os de titânio, sendo um achado recorrente a fratura do implante de zircônia com demandas maiores em áreas de grandes esforços mastigatórios.
A osseointegração, um dos fatores-chave para o êxito de um implante e foi foco de uma revisão recente. O estudo mostrou que tanto o implante de titânio quanto o de zircônia apresentaram resultados comparáveis, embora o titânio apresente uma velocidade de osseointegração maior.
No entanto, mais estudos são recomendados para a indicação de seu uso na prática diária. Além disso, os implantes de zircônia tendem a ser mais caros, o que pode influenciar a escolha do paciente.
*Jamil Shibli possui formação em Odontologia (DDS, PhD) pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e Departamento de Biologia Oral, pela University at Buffalo, NY. Atua como professor dos programas de pós-graduaçao e graduação da Universidade Guarulhos (UnG) e Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo ,além de ser professor visitante da Universidade de Leuven, Bélgica. Ele é um periodontista e atuante na indústria de biotecnologia, com competências em pesquisa, gestão, desenvolvimento de biomateriais e tecnologias de impressão 3D.
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