Desde que nascemos, ou até mesmo antes do nascimento, estamos fadados a cumprir e a seguir todo tipo de norma, lei, regulamento, determinação, orientação, sejam as oficiais e coercitivas, sejam aquelas informais, implícitas, originadas na família ou nos parentes com quem convivemos.
Uma sociedade sem regras não sobrevive, pois que sem respeito às normas explícitas e tácitas o agrupamento humano torna-se um bando, um ajuntamento qualquer. Mesmo grupos que agem ao arrepio das leis, em seu íntimo mantêm regras que devem ser seguidas para manter a coesão e a hierarquia. Com relação a isso, algum tempo atrás estive no Rio de Janeiro e em conversa com o motorista do aplicativo que me levava do aeroporto para Copacabana, ele explicou-me que não existem mais tantos assaltos na orla da Zona Sul, incluindo Ipanema, porque os chefões do tráfico ameaçam com morte qualquer indivíduo que eventualmente assalte algum turista naquela região turística. Aqui uma regra que todos seguem, aparentemente, com desvelo e cuidado. Ninguém quer morrer!
Nossa liberdade como sociedade está atrelada à obediência e cumprimento de muitas leis. Quem não sonhou em viver numa ilha deserta completamente livre de restrições e normas? Quando cortamos algumas amarras que nos prendem no âmbito da moral e dos costumes, agimos muitas vezes de forma tresloucada, impensada, sem medir consequências ou impactos que poderão aparecer mais cedo ou mais tarde. Naquele momento em que um ato de libertação é perpetrado, queremos absolutamente sentir tudo o que for possível, sorver o instante, aproveitar a plena miríade de encantamentos e devaneios advindos nem tanto do ato em si, mas da consciência da liberdade adquirida, talvez depois de muito tempo sucumbindo ante o peso de grilhões e comportamentos ditados pela sociedade (que mostra-se cada vez mais cínica, hipócrita e repressora).
Atos de libertação exigem atos de desprendimento, desapego, abandono de muitas verdades encravadas na mente. Atos de libertação transformam pessoas sofridas, carentes, desanimadas em vulcões de paixão, desejo, volúpia e amor. Libertar-se da opressão faz-nos desapegar de tantas coisas materiais e imateriais, pois que não se vê mais sentido em continuar amarrado a bens e objetos, pensamentos embolorados e atitudes nefastas. Sim, libertar-se é verdadeiramente ascender a outro patamar em que nossas necessidades mudam de contexto e direção. O que tinha algum significado pode não ter mais o mesmo valor, a partir da desconstrução de nosso mundo particular.
A liberdade, a libertação, o desapego me parecem estar associados ao sonho da ilha deserta e paradisíaca, cercada por mares de água azul turquesa, céu azul e iluminado pelos dourados e avermelhados raios poentes, moradores nativos tostados, frutas inomináveis de todos os sabores e cores … enfim, imagens que muitos filmes infiltraram em nossas mentes. Mas também, imagens que esse imenso Brasil ainda tem em seu magnífico litoral. Desapegar é sair em busca de uma localidade de sonhos que ainda pode estar praticamente desabitada, repleta de histórias originais, que ensinam lições de força e vida dos moradores.
Libertar-se é encontrar dentro de si a força e a confiança para arriscar em um meio desconhecido com hábitos diferentes, cantados e falados por gentes de muitas raças, cores, religiões, opções, orientações, crenças. Libertar-se é encontrar-se com o próprio destino e decidir segui-lo ou não, ou ficar e não ir, ou continuar e parar, ou viver ou sobreviver.
Desapegar é sobre abandonar sem remorsos, sem tristezas e sem arrependimentos a maioria dos nossos pertences, bens e relacionamentos. O resultado da liberdade e do desapego é uma vida mais amena, mais simples, mais contemplativa em que a mente parece abrir-se muito mais para o universo exterior e para o nosso íntimo, aquele recôndito que abriga tantos sentimentos e emoções a espera da luz libertadora e salvadora.
Pôr do sol – Ilha de Boipeba/BA (Foto: Acervo Gilmar Rosa)
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*Gilmar Rosa é graduado em Administração de Empresas pela Universidade Positivo e História – Memória e Imagem pela Federal do Paraná. Participou na execução de um dos mais importantes projetos de implantação de APS no estado do Paraná em 2014. Atualmente, busca um lugar ao sol que tenha águas cálidas e agradáveis durante todo o ano.
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