Hipofrontalidade transitória: o botão de pausa do cérebro

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(Foto: jcomp/Freepik)

Você já esteve tão imerso em uma atividade que perdeu a noção do tempo e tudo pareceu fluir sem esforço algum? Esse estado, conhecido como fluxo, é uma experiência capaz de incentivar a nossa performance a níveis extraordinários.

Nosso cérebro, mesmo sendo incrivelmente complexo, às vezes precisa “silenciar” certas informações para funcionar de maneira ideal. Nesse sentido, a chamada hipofrontalidade transitória atua como um botão de pausa estratégico, responsável por diminuir (“hipo”) temporariamente as atividades do lobo frontal (“frontalidade”), região responsável por pensamentos sequenciais, lógicos, tomada de decisões e autoconsciência.

Para entender esse processo, vamos imaginar as ondas cerebrais como batidas musicais. Quando estamos alertas e focados, as ondas beta predominam com seu ritmo acelerado. Já as ondas alfa, mais lentas e harmoniosas, estão associadas ao relaxamento e a criatividade, momento em que a hipofrontalidade transitória “desliga” nosso cérebro para acessar todo um reservatório de intuição e imaginação.

Com o lobo frontal em segundo plano, outras áreas do cérebro ganham destaque, aumentando a criatividade. Esse é o momento em que o estado de fluxo acontece. Sem o constante excesso de pensamento e dúvidas, podemos nos aprofundar nas tarefas.

Apesar desse conceito existir desde a década de 80, quando cientistas conheceram a hipofrontalidade ao estudar a esquizofrenia. O conceito ganhou destaque em 2004, com o professor Arne Dietrich, e vem ganhando atualizações ano após ano em pesquisas que exploram  maneiras de aproveitar esse “botão de pausa” e ativá-lo em atividades que exigem mais da nossa mente, como o trabalho.

A melhor estratégia para incorporar a hipofrontalidade transitória na rotina é alternar atividades físicas com momentos de alta demanda cognitiva. Quando estamos muito ativos mentalmente, as atividades físicas podem proporcionar um descanso cerebral eficiente.

Imagine alguém trabalhando em um relatório por quase uma hora e sentindo-se estagnado.

Esperar sentado, definitivamente, não é a solução para esse sentimento e, principalmente, para a finalização do trabalho. Por outro lado, movimentar-se por ao menos dois minutos pode trazer uma sensação de atenção plena, incentivando novas ideias produtivas.

Isso pode ser explicado porque atividades físicas estimulam a oxigenação do cérebro, o fluxo sanguíneo e a produção de neurotransmissores, melhorando a memória e a concentração. Não é à toa que, muitas vezes, aqueles insights surgem durante a pausa em movimento.

Atividades como meditação e mindfulness podem ser suficientes, mas necessitam de treinos para se tornarem eficientes. A vantagem de intercalar com atividades mais dinâmicas é proporcionar um alívio das tensões músculo-esqueléticas muito frequentes no trabalho e diminuir os riscos de desenvolver dores crônicas relacionadas a isso.

Sendo assim, adicionar ao calendário uma rotina de  pausas ativas é o suficiente para aliviar tensões comuns no trabalho, evitando o esgotamento. Além disso, práticas de exercícios físicos e até mesmo de  meditação podem proporcionar maior vitalidade para o equilíbrio emocional.

Ser ativo é fundamental para que, além de preservar a integridade física, também estimulemos as infindáveis habilidades de imaginação. Ao entender a prática da hipofrontalidade transitória, é possível acessar estados de fluxo com mais frequência, transformando as rotinas e melhorando significativamente a produtividade e o bem-estar.

*Daniel Sandy é mestre em Ciência da Motricidade Humana e fundador da Pausa Ativa Ocupacional

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