Com as dificuldades financeiras enfrentadas pelo setor de Saúde filantrópico, os hospitais precisam encontrar maneiras de fazer mais com menos e, para isso, focar na gestão é o melhor caminho. Para ajudar nesse processo, a Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná (Femipa) tem incentivado a troca de experiências entre as instituições, para que as melhores práticas sejam disseminadas.
Prova disso foi a parceria fechada com a empresa HSP, de Joinville (SC), para oferecer às instituições afiliadas uma ferramenta de benchmarking que possibilita, de forma sigilosa, a comparação dos dados de cada hospital.
De acordo com Geovani Bruno, líder técnico da HSP, no primeiro momento, os hospitais enviaram, por meio de planilha no Excel, uma carga inicial de dados, que foi importada para o sistema. Depois dessa etapa, as próprias instituições terão acesso à ferramenta para informar apenas as variáveis dos indicadores. Como a plataforma é bastante intuitiva, os hospitais poderão verificar, facilmente, as pendências mensais para alimentar a base com os dados necessários. Para facilitar o preenchimento, o sistema pode ser acessado de qualquer navegador, seja pelo computador, smartphone ou tablet.
“Essa ferramenta traz a oportunidade de os hospitais estabelecerem uma comparação de diversos indicadores de desempenho hospitalar, e isso traz benefícios tanto para os hospitais, como para a Femipa, para melhor representar o setor. Vale destacar que o sistema é altamente sigiloso. Os dados são recebidos pela plataforma, criptografados e é gerada uma chave extremamente segura, que ‘mascara’ o nome da instituição. Uma vez que os dados foram acrescentados, ninguém consegue ter acesso ao nome do hospital. É algo bastante seguro”, explica Bruno.
Como o objetivo é a transparência e a comparação de indicadores, a adesão de todos os hospitais afiliados é fundamental para o sucesso do programa, porque além de possibilitar o benchmarking entre os participantes, a ferramenta vai dar à Femipa números totais e consistentes para embasar e fortalecer as ações de defesa de interesses do setor.
“Uma das maiores dificuldades enfrentadas pela Federação é a falta de dados para mostrar a importância do setor para a saúde pública brasileira. Nós, enquanto instituições, sabemos o que representamos para o Estado e para o país, mas precisamos ter informações consistentes para sensibilizar os governantes e a população para a nossa causa. Com a plataforma de benchmarking, teremos acesso, de forma sigilosa, às informações totais, e poderemos, assim, apresentar esses dados a parlamentares, a outras entidades e a outros órgãos para continuar trabalhando por avanços para o nosso setor”, garante Flaviano Feu Ventorim, presidente da Femipa.
Benchmarking ajuda na tomada de decisão
De acordo com o diretor-geral da área de Saúde do Grupo Marista e membro da diretoria da Femipa, Álvaro Quintas, uma ferramenta para comparação de indicadores é extremamente importante para apoiar a tomada de decisão dos hospitais. Segundo ele, as instituições precisam buscar a melhoria contínua, e o benchmarking ajuda a estabelecer metas e planos de ações, além da possibilidade de aproveitar essas referências para pensar na melhorias dos processos.
“Cada vez que a gestão identifica um número de indicadores, sejam eles econômico-financeiros, assistenciais ou de qualidade, ela tem etapas a cumprir para poder estipular suas metas: primeiro é preciso olhar seu histórico; em segundo lugar, comparar-se às instituições que possuem as melhores práticas. É isso que a Femipa está fazendo ao buscar divulgar os indicadores de boa parte de seus afiliados, justamente para que as instituições possam olhar seu histórico, definir suas metas e ver como estão em relação aos bons exemplos”, destaca.
Na avaliação do diretor, o benchmarking é, sem dúvida, uma ferramenta extremamente eficaz, pois, segundo ele, “começar do zero é sempre mais difícil”. Por isso, Quintas garante que buscar instituições que estabeleceram bons programas ajuda a criar atalhos para desenvolver os próprios projetos.
“Pode-se fazer isso com indicadores de qualidade, para indicadores assistenciais, para um mix de produtos e serviços ou, ainda, para produtos específicos, caso o hospital queira, por exemplo, desenvolver um projeto de oncologia. Para não começar do zero, o benchmarking é o primeiro passo para analisar mais adequadamente o projeto”, explica.
Outro ponto importante da ferramenta, segundo Álvaro Quintas, é que, além de despertar na gestão a busca pela melhoria continua e pelos melhores indicadores, aproxima ainda mais as instituições, porque assim é possível identificar e estabelecer parcerias com outros hospitais. Mas, para isso, ele alerta que todos devem estar abertos a isso.
“A troca de experiências é fundamental para qualquer instituição, mas, para as filantrópicas, não tenho dúvida que o benchmarking é ainda mais importante. Os hospitais devem estar dispostos a ajudar no desenvolvimento de melhoria nos processos em outras instituições. Ao invés de os hospitais pagarem consultorias milionárias, as parcerias certamente são mais interessantes. É importante destacar que essas instituições não são concorrentes e, na verdade, se somam. Assim, é possível desenvolver excelentes trabalhos, acompanhar a implementação dos planos de ações e trazer avanços para o setor como um todo”, completa.