Fase inflamatória da Covid-19 também pode acometer pacientes sem complicações pulmonares

A cena se tornou comum: uma pessoa sente sintomas gripais leves e descobre depois que tem Covid-19. Isso acontece porque perde o olfato ou paladar, entre o quarto ou quinto dia após o surgimento dos primeiros sinais; ou porque aparecem mais pessoas doentes ao seu redor; ou porque esses sintomas são persistentes. Como os sintomas são leves, ela permanece em casa.

 

Mas é necessário um alerta. A doença tem diferentes estágios e a fase inflamatória da Covid-19 também pode acometer pacientes que não apresentaram complicações pulmonares. Ou seja, nem sempre a falta de ar significa gravidade quando se fala de Covid-19. As complicações vasculares, características da segunda fase da doença, também são um grave problema neste cenário.

 

A médica de Família e pós graduada em cuidados paliativos, Ana Paula Torga, de Curitiba (PR), explica que a fase 1 da Covid-19 é a que apresenta os sintomas gripais, como coriza, dor de garganta leve, dor de cabeça, tontura, dor atrás dos olhos. O paciente pode ainda apresentar diarréia. Os sintomas da fase inflamatória (fase2) aparecem a partir do quinto dia da doença. “O problema está na fase 2, quando a Covid-19 deixa de ser uma doença viral e passa a ser uma doença inflamatória e potencialmente trombogênica, inclusive podendo causar lesões nas paredes dos vasos. A partir daí podem surgir as complicações vasculares”, explica.

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De acordo com ela, a pneumonia em um paciente de Covid-19, quando acontece, não tem origem viral ou bacteriana, mas possui caráter inflamatório. “Por isso, os sintomas respiratórios são silenciosos. Quando o paciente tem falta de ar, já está com comprometimento pulmonar muito extenso”, afirma Ana Paula.

Médica Ana Paula Torga (Foto: Reprodução)

Mas nem sempre há essa complicação pulmonar. A “virada” de fase da doença pode ser acompanhada de cansaço extremo, muitas dores nas pernas, dor de cabeça que parece não passar com qualquer remédio e até mesmo o retorno da febre. Esse é o momento importante de observação e de intervenção, com a realização de exames.

 

“A Covid-19 pode fazer inflamação do pulmão, que é a mais comum, mas também pode fazer a inflamação renal e gerar insuficiência renal; ou ainda desencadear uma inflamação no coração; ou no fígado. Exames laboratoriais mostram onde está essa inflamação. Existe um marcador que mostra, por exemplo, risco maior de trombose, tanto pulmonar quanto periférica”, esclarece a médica.

 

Esse risco de trombose ou de eventos como Acidente Vascular Cerebral (AVC) podem, então, estar presentes estes pacientes que estão passando por tratamento em casa ou que acreditam que os sintomas sejam leves e não precisam de atendimento.

 

Foi o que aconteceu com o jornalista Rodrigo Rodrigues, que morreu em julho deste ano em decorrência de uma trombose venosa cerebral gerada pelo Covid-19. Após ser diagnosticado no dia 13 de julho, ele ficou em isolamento em casa e apresentou sintomas leves. Rodrigues relatava aos colegas que se sentia bem. No entanto, 12 dias depois, ele teve muita dor de cabeça, desorientação e vômitos. Foi internado em um hospital no Rio de Janeiro e passou por uma cirurgia, mas não resistiu.

 

“É uma doença silenciosa. A virada para a fase 2 tem esses sintomas mais comuns. No entanto, se houver pré-disposição e não for avaliado e investigado, isso poderá ter consequência depois”, comenta Ana Paula, revelando casos de pacientes jovens que tiveram infarto ou AVC em decorrência deste contexto. “Se os sintomas pioraram, tem que investigar”, aconselha.

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Para a médica, o grande diferencial no tratamento do paciente com Covid-19 está na identificação desta virada de fase para a administração do tratamento correto. Por isso, o acompanhamento é fundamental, possibilitando antever complicações mais graves e a entrada na fase 3 da doença, a mais grave, que demanda internamento ou até mesmo intubação.

 

 

Saiba mais sobre sintomas e acompanhe as orientações da médica Ana Paula Torga para evitar complicações relacionadas à Covid-19:

 

–          Ficar atento aos sinais iniciais, da fase 1 da doença, que são: coriza, tosse, congestão nasal, dor de cabeça, dor de garganta leve, dor atrás dos olhos, dor no corpo, cansaço, diarréia, febre ou calafrio

 

–          Esses sintomas acontecem, geralmente, três a cinco dias após a contaminação pelo novo coronavírus. Entre o quarto e o quinto dia de sintomas, a pessoa pode perder o olfato e o paladar

 

–           Estar atento para a virada da fase 1, que é a fase viral da Covid-19, para a fase 2, que é a etapa inflamatória, que acontece a partir de 5º ou 6º dia de sintomas. O doente pode ter piora do cansaço e da dor do corpo, além de dor de cabeça mais intensa. Também pode ocorrer o retorno da febre.

 

“Esses são os sinais de alerta, de que a pessoa precisa estar com acompanhamento médico, para poder identificar se está acontecendo a inflamação, tanto a pulmonar, tanto em outros órgãos. A fase 2 também tem tratamento, com medicamentos específicos – incluindo corticóide – para diminuir essa inflamação e evitar que o paciente entre em colapso, precisando de internação, oxigênio e intubação em uma UTI”, comenta Ana Paula.

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