Um estudo de pesquisadores brasileiros publicado na revista The Lancet Regional Health identificou que, após a introdução da variante gama do vírus SARS-CoV-2 no Amazonas, a participação de jovens e mulheres entre casos graves e mortes por Covid-19 aumentou. De acordo com os cientistas, houve uma maior incidência e aumento na proporção de casos entre jovens; aumento na proporção de mulheres entre os casos graves; e crescimento na taxa de mortalidade em pessoas de 20 a 59 anos hospitalizadas de ambos os sexos.
A pesquisa foi feita por epidemiologistas do Instituto Butantan, da Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic de Campinas, da Universidade Federal do Ceará, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas e da Faculdade de Medicina do Centro Universitário Christus, e analisou o perfil de mortalidade e letalidade em pacientes hospitalizados por Covid-19 antes e depois da intensificação da circulação da P.1 no Amazonas.
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A variante gama surgiu em novembro de 2020 em Manaus e se tornou a principal variante no território brasileiro dois meses depois. Os pesquisadores analisaram dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe, plataforma que também registra casos e óbitos relacionados à Covid-19, e compararam dois períodos de pico de casos no Amazonas: entre abril e maio de 2020 (46.342 casos e 3.094 mortes), e janeiro de 2021 (61.273 casos e 3.664 mortes), quando predominou a variante gama.
As análises mostraram que a proporção de mortes em mulheres aumentou de 34% (1.051) na primeira onda para 47% (1.724) na segunda onda. Também houve aumento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave em mulheres – de 40% (2.709 de 6.816 casos) para 47% (2.898 de 6.142), respectivamente. Além disso, o índice de mortalidade em pessoas hospitalizadas entre 20 e 39 anos na segunda onda foi 2,7 vezes o observado na primeira onda. A média de idade entre os óbitos por Covid-19 era de 69 anos entre abril e maio de 2020 e, em janeiro de 2021, de 65 anos.
Outro fator observado foi o aumento de casos graves e mortes em pacientes sem comorbidades: de 43% e 31% na primeira onda, respectivamente, para 56% e 50% na segunda.
Segundo uma das colaboradoras da pesquisa, Eliana Nogueira Castro de Barros, gerente de epidemiologia do Centro de Farmacovigilância, Segurança Clínica e Gestão de Risco do Butantan, as mudanças observadas no padrão epidemiológico indicam que a variante gama apresenta uma diferença significativa no perfil de virulência e patogenicidade em relação à cepa original de Wuhan. Para compreender as razões dessas diferenças, Eliana afirma que são necessários mais estudos específicos feitos diretamente com esses grupos em comparação com outros. “Assim seria possível entender se esses fatores podem ter sido atribuídos a aspectos individuais, biológicos ou comportamentais”, explica.
O artigo também cita um estudo anterior feito pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) que mostrou que a variante gama seria 1,4 a 2,2 vezes mais transmissível do que as demais cepas, o que explicaria a rápida piora da situação epidemiológica no Amazonas na segunda onda.
Monitoramento da variante ômicron
Eliana Barros reforça que sua equipe está monitorando os indicadores epidemiológicos a fim de observar alguma mudança de padrão com a introdução da nova variante ômicron. “Para esta cepa, existe uma preocupação adicional devido ao maior número de mutações. Da mesma forma que aconteceu para as demais variantes, os perfis clínico e epidemiológico dos casos devem ser sempre monitorados com atenção para que os serviços possam se organizar para potenciais alterações com impacto nos diferentes setores da saúde”, aponta a gerente de epidemiologia.
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