Envelhecimento e futuro da saúde da população 50+

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(Foto: Freepik)

Como a medicina pode contribuir para o envelhecimento populacional? Muito se fala sobre envelhecer, mas como é possível envelhecer bem, de forma ativa e com qualidade de vida em um mundo como o nosso? E, mais, em um país como o Brasil onde muitos não respeitam os mais velhos, onde não há políticas públicas que assegurem seu bem-estar? É notório que a pandemia deixou sequelas irreversíveis em muitas pessoas, do ponto de vista cognitivo. A população 50+ foi a que mais sofreu.

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Por isso, alguns dos principais especialistas médicos das áreas da cardiologia, neurologia, psiquiatria, geriatria, oncologia, entre outros, a convite da Orentt Medical, discutiram sobre o envelhecimento e o futuro da saúde na primeira edição do evento “Envelhecimento Ativo e Medicina do Futuro”. A proposta foi falar abertamente sobre prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças associadas aos idosos, aspectos psíquicos, físicos e sociais, gestão em saúde, inovação e tecnologia, vacinação na população adulta, todos relacionados ao processo de envelhecimento.

O que dizem os especialistas?

A proposta de Fernando Maluf, um dos principais oncologistas do país, foi abordar as novas táticas para que as pessoas de mais idade cronológica tenham uma vida absolutamente funcional. Falar de estratégias para que elas consigam permear uma vida com saúde, a despeito da cronologia, falar das estratégias preventivas e terapêuticas, e de cuidados para uma população que vem sendo cada vez mais frequente não só no mundo, mas no Brasil, é fundamental. “Este projeto, do qual faço parte, está focado neste tema que, para mim, é um dos temas mais centrais hoje em saúde no país e no mundo”, reflete.

Como o envelhecimento ativo se conecta com a inovação e com a medicina do futuro? Um dos precursores do conceito de envelhecimento ativo, Alexandre Kalache, definiu-o como um processo de preparação, ao longo de toda a vida, baseado em quatro pilares: saúde, conhecimento, participação e proteção. “Envelhecer é bom, ruim é morrer precocemente”, comenta. Segundo ele, um grande obstáculo ao envelhecimento ativo é o idadismo (e não etarismo), a percepção de que o mundo é para os novos e de que os idosos são um peso. “Cabe à sociedade civil um papel fundamental, de monitorar e cobrar ações dos governantes e gestores do momento para combater essa visão de mundo”, comenta.

E no pós-pandemia? Segundo o psiquiatra Táki Cordás, os principais fatores de estresse entre os idosos neste período foram o medo da morte pessoal ou de uma pessoa próxima, o medo de adoecer, o medo de perder a autonomia, o temor da falta de remédios e assistência médica, o medo de sentir-se descartável, a menos-valia e o medo da solidão, entre outros. “Tudo isso precisa ser levado em conta”, diz.

E, quando falamos sobre a sexualidade dos 50+, você sabia que apenas 18% dos médicos fazem perguntas aos seus pacientes referentes à este tema? Segundo o estudo MEDIS, apresentado pela geriatra Naira Hojaij no evento, 60% dos participantes percebiam sua sexualidade como prazerosa e 44% como importante. Ou seja, uma vida sexual prazerosa exibiu (e tem) correlação positiva com a longevidade.

Quais os princípios para uma longa vida? A maioria já sabe que é preciso comer bem, fazer exercícios. Para todos que vivem uma vida regrada neste aspecto, o amor é um pilar essencial para a longevidade. Beber vinho regular e moderadamente, reduzir o ritmo (leia-se ter menos estresse), ter um propósito de vida, viver para aqueles que ama, pertencer a alguma comunidade ligada à fé e participar de grupos sociais, tudo isso colabora para a longevidade.

Outro ponto é falar da importância da vacinação na prevenção da população adulta. “É de extrema relevância resgatarmos a confiança na vacinação”. Quanto às perspectivas futuras, Rosana Richtmann, médica infectologista e referência no assunto, reconheceu um salto tecnológico impulsionado pela pandemia. Em relação ao trato respiratório, um ponto particularmente vulnerável nas pessoas mais idosas, é possível termos vacinas anuais contra a Covid, a influenza, o vírus sincicial respiratório e a coqueluche. Existem, segundo ela, estudos de vacina contra a doença de Alzheimer.

Quando falamos em doenças neurodegenerativas, pensamos logo em quedas. As quedas são uma causa importante de mortalidade em idosos. Sabemos que a maior parte ocorre dentro de casa. Um em cada três idosos em algum momento sofrerá uma queda, segundo o neurologista Marcelo Calderaro. “Dentre as causas não-naturais, representa cerca de 40% da mortalidade. É um número bastante alto para não olhar com cautela”, avalia. É possível então viver mais de 90 anos com tantos obstáculos? Sim, mas é preciso conhecer os fatores que impactam a vida do idoso com qualidade. A casa em que o idoso vive deve ser pensada para oferecer segurança.

E se vivermos tudo isso, todos nós teremos demência? Esta é uma questão levantada pelo neurologista Paulo Caramelli. Diversos estudos com centenários mostram que, embora uma parcela desses indivíduos mantenha um desempenho cognitivo global preservado, a maior parte apresenta alguma forma de demência. Mas, é possível chegar a uma idade muito avançada com desempenho bem acima do esperado até para pessoas mais novas (as chamadas superagers), que vêm despertando muito interesse dos pesquisadores.

A grande questão é como viver bem, de acordo com o médico sanitarista Gonzalo Vecina. “Qual a proporção do viver bem correspondente às ações individuais e qual a da coletividade? Para podermos viver bem, não existe outra saída: o estado tem que estar presente e ditar políticas públicas que consigam melhorar o acesso e promover o cuidado com qualidade”, diz.

*Informações Assessoria de Imprensa