O Dia Internacional de Luta contra o Câncer Infantil, lembrado em 15 de fevereiro, deixa um alerta. A doença é a principal causa de morte entre crianças e adolescentes entre 1 e 19 anos no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Os dados ainda apontam que 12,5 mil novos casos surgem por ano no país. Desses novos casos, cerca de 6,2 mil crianças são tratadas em hospitais públicos e em torno de quatro mil morrem sem tratamento ou sem ter a doença diagnosticada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que o número de casos de câncer infanto-juvenil deve chegar a 600 mil em todo o mundo em 2030.
A Sociedade Internacional de Oncologia Pediátrica (SIOP-2018) propôs o seguinte lema: “Nenhuma criança deve morrer de câncer”. E os desafios para chegar neste patamar são grandes. Os números assustam, mas também levam uma série de profissionais a investir seu trabalho na acolhida das crianças, tratamento e pesquisa sobre a doença.
O Centro Infantil Boldrini, localizado em Campinas (SP), é uma das instituições brasileiras que atendem os pacientes com câncer e que também investem em pesquisa na tentativa de reverter estes números. “Quando começamos o Boldrini, há 42 anos, a taxa de sobrevida era em torno de 5%. Hoje, em alguns casos, chegamos a mais de 80%, ultrapassando a média brasileira e de países em desenvolvimento de cerca de 60% e nos igualando aos números de países da Europa e aos Estados Unidos”, declara a presidente do Centro Infantil Boldrini, Silvia Brandalise.
A médica e pesquisadora credita os números obtidos, entre diferentes fatores, ao tratamento multidisciplinar oferecido no hospital, à tecnologia utilizada, aos medicamentos de ponta (que nem sempre são fornecidos pelo Governo Federal e muitas vezes são importados com recursos próprios) e à pesquisa. “É uma série de fatores que contribuem para o sucesso do tratamento. Mas não adianta termos 80% de sobrevida. Ainda faltam 20%. E se chegarmos aos 100% de cura, teremos que contribuir para que as causas do câncer sejam efetivamente evitadas. A prevenção do câncer da criança é o desafio do futuro, que já bate às portas de hoje”, avalia. O Centro Infantil Boldrini é o único do país a integrar uma pesquisa da OMS (Organização Mundial da Saúde) com grávidas de todo o mundo, com o objetivo de detectar possíveis causadores da doença na criança.
Silvia ainda faz um alerta: “No Dia Internacional de Luta Contra o Câncer Infantil e em todos os outros dias do ano, temos que conscientizar a sociedade sobre o estilo de vida e o mundo queremos. Isso influencia diretamente, como mostram as pesquisas, na saúde de nossas crianças mesmo antes do nascimento delas”.
Em 42 anos,o Centro Infantil Boldrini já atendeu aproximadamente 30 mil pacientes encaminhados com a suspeita ou o diagnóstico de câncer ou de doenças hematológicas, e 10 mil estão em acompanhamento ou passaram por tratamento. Considerando os tratamentos de tumores malignos, foram mais de 9 mil casos, dos quais cerca de 6 mil alcançaram a cura. O Boldrini realizou ao longo do ano passado mais de 79,1 mil consultas ambulatoriais (uma média de quase 3.200/mês), além de cerca de 29 mil sessões de quimioterapia e 20,9 mil internações.