Ninguém nos ensina a sermos mulheres, tampouco a sermos empreendedoras. Mas, ao chegar a este Dia Internacional da Mulher 2022 senti que precisava falar sobre o esforço, a dedicação e as muitas conquistas que nós já alcançamos.
Assim como a história de muitas brasileiras, desde a infância recebi ‘nãos’ – e fui protegida, por assim dizer. Filha única, mulher com três irmãos mais velhos, desde cedo aprendi a me posicionar. Contextualizando, sou a caçula de uma família de militares, então imaginem o quanto fui tutelada em relação às experiências do mundo na infância. Aprendi desde cedo a entender e respeitar as diferenças e o quanto é importante incluir na minha vida o respeito às pessoas.
Já na fase adulta, meu pai precisou realizar um transplante cardíaco (o 20º do Brasil) e essa foi uma experiência definitiva para as minhas escolhas. Como sempre, a saúde guiando meus passos e, neste caminho, com muito orgulho, me tornei enfermeira, um sonho realizado também pelo incentivo do meu pai. Aí iniciou uma relação de amor ainda maior com a área. E também de sede por conhecimento: foram muitas e muitas madrugadas estudando. Lembro de estar em encontros de família ou festas, sempre com um livro na mão e, quando tinha um tempo, voltava para minha leitura.
Mas enfim, encontrei a plenitude, o meu propósito. Tornei-me uma entre as mais de 2,5 milhões de profissionais desta área que fazem a diferença todos os dias na vida dos pacientes. Fiz parte dessa força muitas vezes anônima, que quase sempre salva vidas. Os desafios enfrentados nunca foram poucos.
E a recompensa de tudo isso? Olhares de pessoas de todas as idades, resgatados para a condição da dignidade humana. Minha lembrança aqui é de uma adolescente com anorexia e bulimia que estava numa situação bastante grave. Fora do meu horário de trabalho (depois de fazermos tudo que estava ao nosso alcance técnico), eu jogava cartas com ela, tentando incentivar que, de alguma forma, se alimentasse. Ela me viu como uma mãe na época, como uma irmã mais velha. Eu estava grávida do meu primeiro filho e essa vivência me marcou muito e me fez ser enfermeira com mais garra ainda, indo além da parte técnica. Foi um novo impulso: valorizar ainda mais a vida! Se há uma bandeira a ser levantada é esta. Que nos une e nos torna iguais.
Hoje, olhando para o quanto crescemos, afirmo: tudo é possível para nós mulheres, filhas, mães e esposas, que trilham suas trajetórias, abdicando de muitos outros caminhos possíveis. Ser mulher é fazer opções e ser plenamente consciente delas. Eu cheguei lá? Não estou nem na metade do caminho. Mas aprendi que tudo é uma questão de resistir, persistir e enfrentar os desafios.
A defesa dos ideais em que acredito, essa base e, sobretudo, a percepção da importância do bem-estar do paciente me fizeram enxergar a oportunidade do empreendedorismo, me transformando em uma empresária. Aos poucos o caminho foi sendo construído e nada veio pronto.
O que vejo para o caminho das mulheres empreendedoras da área da saúde hoje? Com certeza já conseguimos transpor barreiras enormes e temos muito mais a conquistar. Digo isso com orgulho por ter sido uma das pioneiras na área da gestão em saúde com foco em OPMEs (Órteses, Próteses e Materiais Especiais), cenário predominantemente masculino. Muitas e muitas vezes, até mesmo ferrenhos opositores foram capazes de mudar de opinião, diante do diálogo e da verdade. Jamais com o silêncio. Foi o caso do desafio que vivi em Brasília num Fórum de Defesa do Consumidor, em que participei explicando e defendendo, como especialista da área, sobre as dificuldades que vivemos no mercado de OPME.
Chegar a 2022 e ver a consolidação de uma carreira e de uma vida dedicada à saúde está sendo sensacional. Ainda mais, olhando para a AdviceHealth e percebendo que é uma empresa em que as mulheres são mais de 80% da força de trabalho: um grupo que impulsiona o mercado e vai sempre além em nome de todas as milhares de vidas das quais cuidamos por meio dos clientes, que são as operadoras de saúde. A AdviceHealth é uma referência, é uma potência, muito porque as mulheres que estão comigo são fortes referências no que entregam.
Que a gente possa usufruir desta data, com muita consciência. Se eu pudesse dar um recado para as mulheres, seria para que acreditem em seus sonhos e, antes de esperar por algo ou alguém, realizem por si mesmas aquilo que faz sentido para suas vidas. Que se pautem sempre por conhecimento, verdade e amor. E, acima de tudo, saibam que não há receita de bolo. Para cada mulher há um caminho diferente, que deve ser construído com entendimento das diferenças e respeito às pessoas.
Que a gente trabalhe bastante, persista e invista todos os dias nos nossos sonhos para conquistar tudo o que é nosso!
* Andréa Bergamini tem uma longa jornada de contribuições para o bem-estar das pessoas. Foi pioneira para a visibilidade do tema e a defesa das boas práticas em relação às OPMEs (Órteses, Próteses e Materiais Especiais). Encontrou um caminho que equilibra a sustentabilidade da saúde suplementar sem perder de vista a valorização da vida. Também é Mestre em Ciências da Saúde. Universidade de Brasília (UNB); Especialização em Cardiologia Intervencionista e Cirurgia Cardíaca- Instituto do Coração (INCOR); Especialização em Formação Pedagógica em Educação Profissional – Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ-RJ); Graduação em Enfermagem – UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro; Consultora técnica especialista em materiais de alto custo (OPME) em operadoras de saúde; Integrante da Câmara Técnica de Implantes da Associação Médica Brasileira (AMB); e Integrante da Comissão de OPME do Conselho Federal de Medicina (CFM).
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