O uso de medicamentos cresceu exponencialmente nos últimos anos devido ao aumento da expectativa de vida e consequente inversão das pirâmides de idade populacional. Esse aumento do consumo de remédios foi maior proporcionalmente entre os idosos, onde o índice de doenças crônicas é maior quando comparados com a população mais jovem. Neste cenário um problema antigo vem à tona: afinal o que fazer com as sobras de medicamentos ou ainda aqueles que já venceram?
De acordo com o IQVIA, empresa responsável pela auditoria do varejo farmacêutico brasileiro, de janeiro a setembro de 2020 foram comercializados 3.529 bilhões de medicamentos, um aumento de quase 10% quando comparado ao mesmo período do ano anterior. Esse aumento reflete de forma direta na geração de resíduos que, em contato com o meio ambiente, se comportam como contaminantes tóxicos a diversos organismos, incluindo os seres humanos que podem ingerir residuais tóxicos por meio da alimentação ou da água potável.
Por falta de conhecimento sobre o que fazer com os medicamentos depois que deixam de ser úteis muitas pessoas realizam o descarte no lixo comum, onde os fármacos serão levados até os aterros sanitários, e com a decomposição os resíduos tóxicos podem contaminar o solo e os lençóis freáticos, além de colocar em risco a vida de pessoas que entram em contato direto com este material como os garis e catadores.
Quando descartados na pia ou no vaso sanitário irão contaminar rios, lagos e mares, pois devido à falta de tecnologia eficiente os resíduos medicamentosos não são tratados adequadamente pelas redes de esgoto, e mesmo em baixas concentrações tais contaminantes são capazes de gerar efeitos tóxicos em organismos aquáticos.
Um estudo ambiental revelou que no Brasil a maior concentração de fármacos em águas superficiais está relacionada a cafeína e hormônios, resíduos capazes de gerar alterações sexuais nos peixes causando hermafroditismo ou feminização dos peixes. O Ibuprofeno é o terceiro medicamento mais consumido no mundo e também o mais encontrado nas águas da Inglaterra sendo capaz de alterar o padrão de reprodução dos peixes, enquanto que o antidepressivo Fluoxetina é capaz de alterar o comportamento de fuga destes animais sendo o medicamento mais encontrado nas águas do Canadá.
Além dos resíduos dos medicamentos, as embalagens denominadas primarias, aquelas que ficam em contato direto com o fármaco, também representam potencial risco de contaminação e devem ser descartadas junto com o medicamento. Já as embalagens secundárias, que é o caso das caixas de papel e também das bulas, podem ser descartadas normalmente pois não entraram em contato com o medicamento.
O Brasil ainda não possui uma legislação especifica que trate do descarte de medicamentos por parte do consumidor doméstico. Cabe ao consumidor fazer o descarte consciente junto aos postos de coleta adequados como farmácias, unidades básicas de saúde, caminhões de coleta especial ou supermercados. Estes estabelecimentos serão responsáveis pelo destino final adequado destes resíduos fazendo o encaminhamento para incineração por usinas ambientalmente preparadas. Para encontrar um posto de coleta na sua cidade a população deve buscar por tal informação nos sites da prefeitura ou com a vigilância sanitária local.
Para reduzir os resíduos gerados devemos evitar o acúmulo de medicamentos, o que é possível com a não suspensão do tratamento antes do prazo determinado, com a compra da quantidade exata (ou mais próxima) dos medicamentos que serão consumidos, a recomendação também é válida para aqueles que são isentos de prescrição.
É importante lembrar que acumular medicamentos não é um bom hábito, e que mesmo dentro do prazo de validade, o medicamento pode não estar em condições adequadas de uso. Portanto nunca utilize medicamentos que possuem alterações de cor, textura ou odor.
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* Patrícia Rondon Gallina é farmacêutica, mestranda em Ciências Farmacêuticas e professora do Centro Universitário Internacional Uninter
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