Desafio da rasteira: alerta para riscos à saúde de adolescentes

“É um absurdo”. Desta forma, o neurocirurgião Adriano Maeda classifica o “desafio da rasteira” ou o “desafio do quebra-crânio”, uma prática que viralizou recentemente nas redes sociais e que mostra adolescentes tentando derrubar uns aos outros. A “brincadeira” rendeu alertas de profissionais de saúde porque podem causar sérios danos à saúde. O “desafio da rasteira” pode terminar em traumas no crânio e na coluna. Os riscos valeram até mesmo um alerta da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, além da mobilização das escolas, pois muitos jovens aparecem nos vídeos de uniforme escolar.

Maeda, que atualmente é o chefe do do serviço de Neurocirurgia do Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR), afirma que os riscos da prática estão sendo subestimados. Ele explica que, em uma rasteira, é como se a pessoa caísse de uma altura equivalente à própria altura. Por exemplo, se um adolescente tem um 1,70 metro, ele sofreria as consequências de uma queda de uma altura de 1,70 metro. “Você está sendo retirado subitamente da sustentação. E são vários os riscos ao bater a cabeça, como fratura no crânio, hemorragia, inchaço. Além disto, podem também acontecer lesões na coluna cervical e torácica”, alerta.

Aviso sobre o “desafio da rasteira”

A Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) emitiu um comunicado alertando pais e educadores para que alertem crianças e adolescentes sobre os perigos do “desafio da rasteira” ou “desafio do quebra-crânio”, que pode ser praticada tanto nas escolas quanto no ambiente doméstico. Segundo a entidade, a queda brutal, antes mesmo que o jovem possa se defender, pode provocar lesões irreversíveis ao crânio e encéfalo (Traumatismo Cranioencefálico – TCE), além de danos à coluna vertebral. “Como resultado, a vítima pode ter seu desempenho cognitivo afetado, fraturar diversas vértebras, ter prejuízo aos movimentos do corpo e, em casos mais graves, ir a óbito”, traz o documento (confira na galeria de imagens).

A SBN ainda traz que “Os responsáveis pela ‘brincadeira’ de mau gosto podem responder penalmente por lesão corporal grave e até mesmo homicídio culposo. Como sociedade, pais, filhos e amigos, devemos agir para interromper o movimento e prevenir a ocorrência de novas vítimas. Acompanhar e informar/educar sobre a gravidade dos fatos, pode ser a primeira linha de ação”. 

Caso real

Com a repercussão do “desafio da rasteira”, a imprensa do Rio Grande do Norte relembrou a morte de uma adolescente de 16 anos, em novembro de 2019, durante uma brincadeira com duas colegas na escola. O caso aconteceu na cidade de Mossoró. As estudantes seguraram a vítima e tentaram girá-la, em uma espécie de cambalhota, mas ela caiu e bateu a cabeça no chão. A adolescente teve traumatismo craniano e não resistiu.

O neurocirurgião Adriano Maeda, do Hospital Pequeno Príncipe, avisa: cabeça e coluna “não se bate”, ainda mais em uma situação como esta de rasteira ou outros tipos de “brincadeiras” ou “desafios”. “É preciso pensar no outro. Se uma criança morre, quem será responsabilizado? Os adolescentes precisam saber das consequências dos seus atos. E os adultos também, porque já existem vídeos deste tipo sendo feitos por adultos. Uma ‘brincadeira’ como esta pode ter um resultado muito triste”, enfatiza.

Maeda lembra que existem outras situações que podem gerar riscos similares de lesões, especialmente dentro de casa, como deixar uma criança sozinha em cima da cama, ela rolar e cair; deixar a criança em cima do trocador e o mesmo acontecer; e subir em cadeiras e banquinhos para alcançar algum objeto.

Em casos como estes, o atendimento médico deve ser acionado o mais rápido possível para verificar se houve lesões ou outros prejuízos à saúde.

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