Desaconselhado por parte dos médicos, descongestionante nasal pode causar arritmia e hipertensão

    Um dos mais populares medicamentos vendidos sem receita, o descongestionante nasal é o preferido de quem tem o sistema imunológico vulnerável e, por incrível que pareça, um vilão para os médicos. Por se tratar de um paliativo, o remédio apresenta mais efeitos colaterais do que benefícios, uma vez que cria um ciclo vicioso de automedicação mais intensa a cada utilização.

     

    “Há profissionais que defendem, inclusive, que o descongestionante deveria ter sua venda restrita, como acontece hoje com os antibióticos”, argumenta Paulo Mendes Junior, otorrinolaringologista do Hospital IPO. “Na prática, seu efeito é uma vasoconstrição, ou seja, contrai os vasos que causam a secreção. Isso melhora a congestão de forma muito rápida, mas de forma artificial: em pouco tempo, os vasos voltam a se dilatar e a situação vai se agravando. Em pouco tempo, a situação se torna crônica”.

     

    Mesmo quando estamos com a saúde em dia, nosso nariz está produzindo secreções. O que acontece é que, nesses casos, essas impurezas acabam sendo eliminadas pelas vias aéreas posteriores, de forma discreta. Já no quadro de uma doença viral – que provoca a chamada “congestão nasal” – o líquido passa a ser produzido de forma mais intensa, tornando difícil para o organismo absorvê-lo de forma discreta.

     

    “O descongestionante é indicado em fases muito específicas de uma doença e, mesmo assim, com limitações”, diz Mendes Junior. “Um dos efeitos colaterais é o ressecamento da boca e, em casos mais graves, arritmia e hipertensão. São consequências muito graves para um paliativo”.

     

    Parte da solução

    É difícil não conhecer alguém que não carregue consigo, sempre à mão, um frasco de descongestionante, pois o produto também causa dependência. Por isso, em casos de sintomas de congestão o melhor é manter a área hidratada com soro fisiológico. “É uma solução que não tem nenhuma contraindicação e, por isso, pode ser utilizada várias vezes ao dia”, defende Mendes Junior. “Além disso, manter os ambientes com umidificadores e permanecer longe do ar condicionado também é uma solução. Durante o banho, mantenha a água quente para que o vapor da água umedeça as vias respiratórias”.

     

    O problema é tão grave que alguns especialistas argumentam que sua venda deveria ser restrita, assim como ocorre com antibióticos. “Há projetos de lei em curso para isso, uma vez que se tornou até um costume o descongestionante ser o primeiro solucionador deste tipo de problema”, diz. “Sempre que possível, deve se evitar seu uso. Mas, caso inevitável, restrinja a duas aplicações por dia e, claro, no menor período de tempo que for possível”.