O início da implantação do 5G no Brasil gera expectativas de novos serviços que melhorem a qualidade do atendimento fornecido ao paciente em todo o Brasil em um horizonte de oito anos, quando a tecnologia deverá estar disponível em 100% dos municípios com até 30 mil habitantes. (Nota do Saúde Debate: trata-se de democratização da saúde, conforme revela o autor)
A implantação e a consequente expansão da rede 5G deve promover a evolução de serviços médicos como a telecirurgia, que será ampliada e poderá evoluir devido à menor latência e maior estabilidade na conexão; a telemedicina, que deverá se beneficiar da qualidade de imagem e som, além da possibilidade do profissional de saúde receber dados do paciente, gerados por medical devices e wearables de saúde conectados, em tempo real.
O desenvolvimento desses dispositivos também poderá gerar a criação de centros de comando com especialistas em patologias de alta complexidade que poderão monitorar as alterações nos dados médicos dos pacientes ou mesmo fazer ajustes em dispositivos como marcapassos, independente da cidade em que estes residam e por consequência, melhorando o cuidado preventivo.
Preparar a estrutura para a democratização da saúde
Segundo pesquisa da plataforma Sling Hub, que mapeia informações sobre startups na América Latina, o número de Health Techs mais do que dobrou no Brasil em apenas um ano e passou de 542 em 2020 para 1.158 em 2021. Entre elas estão empresas voltadas para as áreas de telemonitoramento, teleatendimento, telediagnóstico, medical devices e wearables. Esse número mostra que o mercado de saúde no país está em evolução.
Mas, para que novos serviços e produtos sejam criados, já incorporando os benefícios que o 5G pode trazer, será necessário investimento e preparação das operadoras de telecomunicações e das empresas do setor de saúde.
As operadoras precisarão investir na estrutura de análise dos dados que trafegam em sua rede para provisionar serviços como o networking slicing ou fatiamento de rede, que possibilita alocar os recursos ao usuário de acordo com parâmetros como velocidade, latência, largura de banda, segurança e tipo de aplicação. Este fatiamento pode se dar em vários níveis, desde a frequência que vai ser utilizada por uma determinada aplicação ou produto até a forma como a rede processa e prioriza as informações ali trafegadas. O usuário final poderá então ter uma rede configurada e moldada em função de suas necessidades e aplicações, seja para coordenar centros médicos ou para a realização de telecirurgias.
As empresas do setor de saúde também precisam se preparar, pois, o volume de dados crescerá e essas informações podem ser provenientes de postos de atendimento e unidades básicas de saúde que ainda possuem alguma deficiência de conexão, o que deverá ser solucionado nos próximos anos, como também poderão ter origem em wearables e medical devices modernos.
Esse aumento no volume de dados deve demandar investimentos em servidores internos ou no armazenamento em cloud, que pode ser escalonada de forma mais rápida. Como os dados poderão ser originados de sistemas legados e modernos e, portanto, terão diferentes padrões será necessária a adoção de ferramentas que transformem qualquer dado no padrão internacional HL7 FHIR (Fast Healthcare Interoperability Resource), usado na transmissão de dados administrativos e clínicos no setor de saúde; e a utilização de repositórios digitais capazes de armazenar de forma organizada os registros eletrônicos de saúde (EHR – Electronic Health Records) e arquivos no padrão HL7 FHIR.
Outros benefícios da democratização da saúde
O leilão das frequências do 5G também deve solucionar problemas de conexão que existem em cidades pequenas, como acesso a rede pela atenção básica de saúde, pois entre as contrapartidas demandadas pelo governo às empresas que adquiriram as faixas de frequência está a instalação de antenas com tecnologia 4G ou superior nas áreas em que ela ainda não está disponível.
Como exemplo podemos citar problemas de conexão geram a subnotificação de dados de vacinação infantil e a diferença de informações entre o Ministério da Saúde e os estados da federação, pois uma das dificuldades encontradas para cadastrar os dados de vacinação era que os dispositivos desconectam da internet com facilidade, o que impossibilita em determinadas regiões cadastrá-los de forma rápida.
Pode levar alguns anos para que toda a população se beneficie das vantagens que a tecnologia de 5G deve gerar na saúde. Mesmo que ainda não seja possível a adoção de tecnologias como a telecirurgia ou a telemedicina de forma mais completa com elevadas qualidades de som e imagem e transmissão de dados em tempo real, a população residente nos municípios menores poderá ter a sua disposição a tecnologia 4G e usufruir dos benefícios que esta já proporciona.
Fica o alerta de que em 2030, um após a implantação do 5G nas cidades com menos de 30 mil habitantes, mais de 18% da população brasileira será formada por pessoas com mais de 60 anos, índice 3% maior do que o atual, segundo projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A preparação para que seja possível usufruir dos benefícios da nova tecnologia também depende de outras questões. A telemedicina, por exemplo, ainda não tem uma regulação permanente e o Projeto de Lei 1998/2020, que autoriza e define a prática da telemedicina em todo o território nacional ainda não foi aprovado.
* Bruno Toldo é Chief Medical Information Officer na Infor, empresa que desenvolve software de nuvem empresarial especializado por indústria. Desenvolve soluções completas para setores de foco, incluindo manufatura industrial, distribuição, saúde, alimentos e bebidas, automotivo, aeroespacial e defesa e alta tecnologia.
Leia outros artigos publicados no Saúde Debate
Conheça também os colunistas do Saúde Debate