A pandemia de Covid-19 impactou áreas diversas, contudo, obviamente, em maior grau a área da saúde. A questão é que os desafios impostos pelo cenário encontraram sistemas de atenção à saúde em crise, fragmentados e desorganizados, o que dificultou o enfrentamento da doença. Essa necessidade de integrar, coordenar e organizar os sistemas de atenção primária à saúde foi o tema da palestra magna do consultor em saúde pública, Eugênio Vilaça, no 11º Seminário UNIDAS – Atenção Integral à Saúde, que será realizado até o dia 21 de agosto.
Segundo o especialista, a fragmentação dos sistemas se dá pela falta de comunicação entre seus principais pontos de atenção como atenção primária, atenção ambulatorial especializada e atenção hospitalar. “Além disso, esses sistemas voltam-se para indivíduos isoladamente, atuam com ações reativas às necessidades de saúde das pessoas, têm ênfase excessiva nas ações curativas e reabilitadoras, são frágeis em prover o cuidado interdisciplinar e não contam com um centro de coordenação. Isso se manifesta, igualmente, no SUS e no sistema de saúde suplementar”.
De acordo com Vilaça, em função da transição demográfica e epidemiológica aceleradas que se deram nos últimos anos 50 anos, houve um aumento da presença relativa das condições crônicas de saúde, que atingem aproximadamente 80% da carga de doença no Brasil. “Estudos internacionais e nacionais demonstram que os sistemas fragmentados vigentes não respondem adequadamente a essas condições crônicas porque não conseguem fazer o acompanhamento adequado, nem, consequentemente, estabilizá-las”.
Com a pandemia, as pessoas passaram a evitar unidades de saúde, o que provocou redução significativa de atendimentos de pessoas com doenças como câncer, diabetes, doenças cardiovasculares e de atenção às gestantes, às crianças e às pessoas idosas. Essa demanda reprimida vai pressionar fortemente os sistemas de saúde após a pandemia, seja em termos financeiros ou na dimensão sanitária. “A reorganização dos sistemas público e privado de saúde convocará respostas mais profundas e será a vez de se pensar nas redes de atenção à saúde”, ressalta.
As redes de atenção à saúde, conforme Vilaça, são a resposta adequada à situação de saúde vigente em nosso país – independentemente de pandemia, já que já era necessária uma mudança – e implicam organizar, de forma integrada, sob coordenação da atenção primária à saúde, os pontos de atenção ambulatoriais e hospitalares secundários e terciários, os sistemas de apoio (sistema de assistência farmacêutica, sistema de apoio diagnóstico e terapêutico e sistema de informação), os sistemas logísticos (sistema de regulação da atenção, registro eletrônico em saúde e sistema de transporte em saúde) e o sistema de governança.
As redes têm ainda um olhar voltado para o paciente, transformando-o em agente de sua própria saúde, por prestarem uma atenção integral expressa em promoção da saúde e prevenção, cuidado, reabilitação e paliação das condições de saúde. “Desse modo, essas redes são um elemento fundamental para o cumprimento da tripla meta de mudanças nos sistemas de saúde que são: a saúde da população, a melhoria da experiência do cuidado individual e a redução dos gastos per capita”.
Os desafios para essa integração são enormes, pondera o especialista. “É preciso ter o entendimento de que os problemas só serão resolvidos se houver cooperação e interdependência entre todos os atores envolvidos nessas redes”. Além disso, a implantação dessas redes de atenção convoca uma agenda de mudanças, concomitantes e alinhadas entre si nos modelos de gestão, de atenção a condições agudas e crônicas e nos sistemas de pagamentos. “Não será fácil construir e implantar essa agenda em nosso país, tanto no SUS, quanto na saúde suplementar. Falta consciência do tamanho da crise, consenso sobre as formas de enfrentá-la e disposição para promover as mudanças profundas que serão necessárias”, afirma Vilaça.
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