Alberto Leite fala sobre inovação e tendências para os negócios
Com os constantes desafios enfrentados pelos gestores de Saúde, a máxima para qualquer instituição é investir em inovação. Para Alberto Leite, CEO da Healthers, uma plataforma para se relacionar com executivos das maiores empresas de Saúde do país, os agentes do setor, prestadores de serviço, têm a dura tarefa de agradar a todos com poucos recursos. “Não há outra maneira de fazer isso se não for pela criatividade de fazer mais com menos, e isso se chama inovar”. Jornalista e publicitário, nos últimos anos o CEO trabalhou nas áreas de Marketing, Vendas e Jornalismo da IT Mídia S.A, sendo diretor executivo e publisher da empresa por seis anos.
Na área de pesquisas, desenvolveu alguns dos maiores benchmarks do setor da Tecnologia da Informação com a consultoria Deloitte e na área da Saúde com a consultoria PWC. Hoje, ele é professor da cadeira de Inovação no MBA da Fundação Instituto de Administração (FIA) da Universidade de São Paulo (USP). Além disso, Alberto Leite é também colunista e articulista das revistas InformationWeek, FH e CRN e dos jornais Valor Econômico e Propaganda e Marketing, sempre difundindo conceitos sobre negócios em tecnologia, tendências, novos mercados, oportunidades e mudanças comportamentais. Ele conversou com o jornal Voz Saúde para falar sobre inovação e tendências nos negócios. Acompanhe a entrevista a seguir:
– De que forma é possível inovar em Saúde?
Em primeiro lugar, entender quem é o cliente envolvido em cada momento. A saúde, pela sua peculiaridade, tem diferentes atores que se conectam em múltiplos momentos: pacientes, médicos, planos de saúde, governo, entidades de classe, corpo assistencial, enfim, é diferente de todos os outros setores da economia. Adiciona-se a tudo isso a questão simbólica de que quem paga a conta não usa o serviço e vice-versa. Temos nas mãos um cenário propício ao caos e que só não se estrangula, pois há duas verdades universais sobre o setor: ele tem demanda e o governo é responsável por parte da oferta. Sendo assim, os agentes do setor, prestadores de serviço, têm a dura tarefa de agradar a todos com poucos recursos.
Não há outra maneira de fazer isso se não for pela criatividade de fazer mais com menos, e isso se chama inovar. Criar e, a partir disso, fazer da criação uma parte do lucro, lucro este que pode ser obtido através da redução de custo, aumento da performance ou, simplesmente, um novo negócio que traga lucro real. Para se chegar nisso precisa-se gastar mais tempo perguntando “o que fazer” do que respondendo sobre o que se acha que se sabe. É um processo de aprendizagem duro para quem acha que já conhece de tudo, mas tem muitos benefícios.
– Quais as tendências futuras para a área da Saúde?
Acreditamos que o mundo muda a partir de uma simples troca de raciocínio, onde o cliente passa a não pensar mais através do dueto DIAGNÓSTICO e TRATAMENTO, como sempre fizemos, mas um olhar pela PREVISÃO e PREVENÇÃO. Sendo assim, temos a possibilidade de pensar que milhares de soluções, que vão de aplicativos a produtos de exames, conteúdo a academias de nova geração, devem participar do elo transformador da cadeia. O paciente mudou e exige que a cadeia mude também.
– Como criar valor para um hospital?
O primeiro ponto é entender que tipo de hospital temos nas mãos. Um hospital público tem viés de custo. Um particular já nasce com viés de lucro. O filantrópico com viés de atender uma comunidade. O hospital de plano de saúde é custo puro. Entendendo a natureza dessa operação e considerando sua natureza fim, que é a de atender quando o cliente chega, o hospital precisa atuar em duas frentes: a primeira é a de criar eficiência para chegar ao atendimento eficaz com menor custo possível; a segunda é a de criar laço com a sociedade, seja através de conteúdos sobre a prevenção, seja através da pesquisa. Não há caminho mais curto para se criar valor do que abraçar o cliente quando ele mais precisa, seja após o evento traumático, seja antes que ele ocorra.
– O que é preciso para uma gestão moderna?
Nenhuma gestão moderna nasce sem que o executivo na ponta não seja contemporâneo. Tudo nasce através da missão da empresa e de suas pessoas. Se essas acompanharem o que de mais moderno existe, teremos êxito. Hoje em dia, palavras como governança, compliance, tecnologia e planejamento deveriam ser a base da cartilha da gestão. Infelizmente, as barreiras para isso são enormes, em especial pelas pessoas.
O hospital do futuro deve primar pela discussão sadia sobre seu propósito e persegui-lo, usando ferramentas de gestão, tecnologia da informação, tecnologia médica, processos auditáveis e certificações de qualidade, indicadores de sucesso, performance e equipes maduras e preparadas para ambientes de discussão próprios de gestão. A sustentabilidade deve permear todo esse processo através da visão segura sobre a cadeia e como atingir com maturidade o triple botton line: econômico, ambiental e social.
– Benchmarking pode ser uma solução para o setor de Saúde? De que forma? Qual sua opinião sobre o assunto?
Sem dúvida. Temos visto que o aprender com o par e com outros de outros setores tem desenvolvido mais rápido do que aprender com a academia. A academia deve trazer as bases e sustentar com métodos. Porém, o olhar sobre a prática tem trazido o que chamamos de “learning from the job”, ou o “aprendizado sobre a tarefa”. Empresas maduras têm programas específicos e bastante atraentes baseados totalmente em benchmark, com indicadores claros de aprendizado e implementação.
– Quais dicas você daria para os gestores com base nas questões apresentadas nesta entrevista?
Acredito ser absolutamente interessante uma pequena indicação de biografia para as pessoas. Ler sobre isso traz inspiração. Indico fortemente os livros, mesmo que datados de 11 anos já, “A estratégia do oceano azul”, do Chan Kim e da Renëe Malbourne; “Ativos Ocultos”, do Chris Zook; “Free” e “A Cauda Longa”, ambos do Chris Anderson; e “Canvas”, talvez o mais moderno de todos.