O presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná (Femipa) e do Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Sindipar), Flaviano Feu Ventorim, e os presidentes da Associação dos Hospitais do Paraná (Ahopar), José Octávio da Silva Leme Neto, e da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Paraná (Fehospar), Rangel da Silva, concederam, nessa quinta-feira (09 de abril), uma nova coletiva de imprensa para falar sobre as medidas adotadas pelos hospitais no combate à pandemia de Covid-19.
O setor já havia repassado informações no dia 23 de março sobre a pandemia.
Desta vez, a principal questão abordada na conversa com os jornalistas foi a saúde dos profissionais que estão atuando na linha de frente contra o vírus. Ventorim explicou que, em média, a taxa de absenteísmo nos hospitais gira em torno de 3%, número que aumenta no inverno. Desde que a pandemia começou, o afastamento subiu, porque como houve transmissão comunitária do vírus no país, pessoas com qualquer sintoma de gripe são consideradas suspeitas até que se prove o contrário.
“Temos acompanhado os colaboradores, sejam funcionários dos hospitais ou terceiros. Por enquanto, na média, o afastamento está dentro do esperado. Continuamos com uma organização intensa para manter colaboradores protegidos, preparados para um eventual aumento da curva e aumento da procura por parte dos pacientes. Sabemos que muitos profissionais atuam em mais de um estabelecimento de saúde. É difícil o controle, até porque as pessoas estão se movimentando, inclusive entre cidades. A contenção dentro de um único hospital já não é simples. Por isso, o cuidado está sendo redobrado, com grande distribuição de equipamentos de proteção individual (EPIs). Estamos seguindo todas as orientações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e dos demais órgãos competentes”, explicou.
Outro problema enfrentado pelos hospitais, segundo o presidente da Femipa, é com relação ao aumento dos custos. Antes da pandemia, ele citou que uma máscara cirúrgica era adquirida por R$ 0,09. Agora, há fornecedores comercializando o material por R$ 2,50, no mínimo.
“Estávamos vindo de um custo controlado e o custo disparou, seja na compra de EPIs, seja com o absenteísmo, ao mesmo tempo em que os hospitais perderam receitas, por conta do cancelamento de outros serviços, como cirurgias eletivas, por exemplo. Não temos previsão de quando o custo vai se estabilizar. Temos conversado com as operadoras para que se crie uma forma temporária de fazer frente aos custos. No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), estão sendo votados dois projetos, e um deles garante pagamento da média dos recebimentos dos hospitais em função de os hospitais estarem de prontidão”, detalhou.
Média de ocupação e cirurgias eletivas
Segundo Ventorim, os hospitais cancelaram as cirurgias, o que ocasionou uma redução entre 50 e 60% do volume cirúrgico, dependendo do perfil do hospital, por orientação do Ministério da Saúde e dos demais órgãos oficiais. Essa diretriz tem por objetivo manter um maior número de UTIS disponível, em função de um possível aumento de pacientes mais graves, com síndromes respiratórias, em especial com COVID-19. Com isso, no momento, a taxa de ocupação dos hospitais está, em média, entre 40 e 50%.
“Dependendo do perfil do hospital, a redução de cirurgias eletivas chegou a 80%. Isso é um problema grave para os hospitais, pois a partir do próximo mês, essas instituições começam a não ter receita. O processo de retomada demora aproximadamente 60 dias. Por isso, vemos um cenário muito dramático de modo geral, especialmente aqueles que não têm lastro financeiro, como as santas casas, hospitais menores etc.”, citou.
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Boletins informativos
Uma demanda que surge da imprensa e que o presidente da Femipa fez questão de esclarecer na coletiva é com relação aos boletins de casos suspeitos, casos confirmados e óbitos. Segundo ele, todos os hospitais estão informando, diariamente, as secretarias municipais e estadual de Saúde, que são os órgãos oficiais. Ele ressaltou que os hospitais não devem disponibilizar esses dados aleatoriamente, porque eles mudam a todo momento, o que pode gerar desencontro de informação. Por isso, ele sugeriu que os jornalistas sigam o que é informado pelo Estado e por cada município.
Ventorim lembrou, ainda, que não é possível detalhar o número de colaboradores suspeitos, pois há afastamentos por outros motivos também. Portanto, a divulgação desse tipo de informação não necessariamente vai retratar a realidade e pode gerar pânico. Mais uma vez, ele reforçou que todos os números estão englobados nos boletins oficiais disponibilizados pelos órgãos. Quando um caso suspeito passa a ser confirmado, por exemplo, a informação é atualizada em tempo real.
O presidente aproveitou o espaço para reforçar que todo caso suspeito exige uma série de restrições por parte do hospital, com um fluxo específico, o que causa muita dor às famílias. Nesse sentido, ele disse que os hospitais têm tentado, dentro do possível, dar atenção aos familiares. “Porém, há restrição de entrada no hospital, acesso das famílias à pessoa com suspeita ou confirmada. Em caso de óbito, há fluxo de restrição de pessoas aos velórios, por exemplo. Se a pessoa falecer em uma cidade e for de outra, há, inclusive, limitação de distância para traslado. Sabemos que é algo muito difícil, mas estamos tentando lidar da melhor forma”, esclareceu.
Leitos
Ventorim destacou que o Paraná tem, hoje, 15.191 leitos, sendo 10.805 do Sistema Único de Saúde (SUS). Desse total, são 2.022 leitos de UTIs adulto – 1.218 do SUS. Na avaliação dele, o Paraná tem uma boa relação de leito-paciente quando comparado aos números do Brasil. Também é importante reforçar que há a possibilidade de se transformar enfermarias em leitos de cuidado intensivo, mas isso vai depender da demanda e da logística de equipamentos e insumos.
Imprensa
Para finalizar a coletiva, os presidentes das entidades representativas pediram apoio dos jornalistas na condução da informação. Eles sugeriram que sejam feitas campanhas de apoio aos profissionais de saúde; materiais para esclarecer quanto ao uso de máscaras e seus diferentes tipos; e apuração detalhadas de denúncias, que, muitas vezes, podem ser falsas e acabam trazendo problemas aos hospitais, que precisam de tempo e profissionais para responder aos questionamentos.
José Octávio da Silva Leme Neto, presidente da Associação dos Hospitais do Paraná (Ahopar), finalizou a entrevista dizendo que os hospitais são o elo da cadeia de valor mais impactados com a pandemia. Ele citou que os custos fixos são altos, uma vez que a estrutura fica ociosa, e isso impacta na sustentabilidade. Fora isso, é preciso criar novas estruturas e ampliar quadros, o que aumenta ainda mais o fluxo e o custo.
“Estamos fazendo um esforço enorme para poder dar conta do recado. Além disso, é preciso ressaltar que os profissionais de saúde estão sendo fundamentais nesse momento, pois estão enfrentando grande pressão o tempo todo, mas não estão fugindo da responsabilidade. Precisamos apoiá-los e homenageá-los. O desafio realmente tem sido grande e contamos com os veículos de comunicação para que possamos coordenar a informação e acabar com a desinformação”, salientou.
Rangel da Silva, presidente da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Paraná (Fehospar), complementou: “contamos com a imprensa para exaltar os profissionais de saúde e também nos ajudar a vencer essa guerra. Há uma avalanche de coisas acontecendo. Por isso, mais do que nunca, fake news devem ser combatidas”.
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