Resultados recentes de países com alta cobertura vacinal, como Israel e Islândia, mostram que a proteção conferida pelas vacinas contra o coronavírus, apesar de minimizar o número de casos graves e óbitos, possuem eficácia reduzida para casos sintomáticos. Ou seja, a contaminação pelo vírus não está controlada. Segundo dados de Israel, a vacina da Pfizer, por exemplo, tem eficácia de 90% contra casos graves causados pela variante Delta, mas a proteção contra os sintomas da nova variante é de apenas 40%. Já na Islândia, onde 93% da população acima dos 16 anos está vacinada, houve um aumento de 800x no número de casos em relação ao mês anterior, sendo a maioria deles causados pela variante Delta.
Segundo David Schlesinger, médico geneticista e CEO da Mendelics, primeiro e maior laboratório brasileiro especializado em Sequenciamento de Nova Geração (NGS) que está ativamente sequenciando o vírus da SARS-CoV-2, isso pode significar que a COVID-19 se tornará pan-endêmica, independentemente do que o país faça a curto prazo. “Já conseguimos perceber que não haverá imunidade de rebanho, somente proteção individual pelas vacinas. A médio prazo, produziremos vacinas melhores contra a Delta, mas isso ainda deve demorar entre 12 a 24 meses. Até lá, se mantermos as taxas de transmissão altas, possivelmente já teremos outras variantes que necessitem de vacinas específicas, já que as altas taxas de transmissão estão diretamente relacionadas ao surgimento de novas variantes. Quanto mais o vírus se multiplica, mais variantes surgem”, explica David.
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O médico destaca a importância de manter a estratégia de proteger os grupos que estão sob maior risco de morrerem. Como mostra a tabela abaixo, segundo o CDC, se considerarmos que pessoas de 20 a 29 anos tem risco 1x de contrair e falecer de COVID-19, pessoas na faixa dos 40 a 49 teriam risco 10x maior, as de 65 a 74 teriam risco 95x maior, as de 75 a 84 teriam risco 230x maior e o grupo com mais de 85 anos têm risco 600x maior.
O alerta é para que, após a vacinação de pessoas com mais de 18 anos no Brasil, ao invés de vacinar crianças e adolescentes com a primeira dose, deve-se voltar a vacinar idosos com uma terceira dose para reforço. “É importante notar que, mesmo que os idosos tenham tomado as 2 doses e portanto tenham 1/10 de chance de morrerem em comparação com idosos não vacinados, uma pessoa de 65 anos ainda tem pelo menos 10 vezes mais chance de morrer que um adolescente, mesmo vacinada”, analisa David.
Dada a pirâmide demográfica, o mesmo número de doses, se aplicadas como reforço aos grupos de risco, vai reduzir ainda mais a sobrecarga potencial com uma onda Delta que certamente virá nos próximos meses (ou semanas). Segundo o Ministério da Saúde (Informe Semanal n° 26 de Evidências sobre Variantes de Atenção de SARS-CoV-2), a variante Delta já soma 21,5% das amostras sequenciadas no Brasil, sendo a segunda mais prevalente.
Em Israel a aplicação da terceira dose em idosos já se iniciou em 30 de julho, sendo a primeira nação a iniciar a vacinação de reforço. Nesta semana (18/08) oficiais do Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano (Center for Disease Control and Prevention, CDC) também afirmaram que uma terceira dose será necessária para maximizar a proteção induzida pelas vacinas de forma mais duradoura.
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