O paciente deseja, acima de tudo, qualidade de tratamento e que seu problema seja resolvido. Mas, nos últimos anos, o mercado entendeu como o ambiente impacta diretamente nisso e também no fluxo do atendimento prestado. A arquitetura na saúde deixou de ser um luxo para se tornar essencial.
Especialistas podem questionar itens de gosto pessoal e até mesmo de tecnologia e conforto para quem passa por uma instalação ou estabelecimento de saúde. E, lógico, o custo para a oferta e manutenção deste tipo de ambiente. Entretanto, ambientes pensados para o bem-estar dos pacientes e visitantes, que estão em momentos delicados, e para os profissionais que atuam diariamente nestes locais geram bons resultados.
A arquitetura na saúde passa pela elaboração de projetos que contemplam melhoras na iluminação, cores, elementos que geram bem-estar e pontos que incrementam o fluxo de trabalho. No Eco Medical Center, empreendimento voltado à saúde inaugurado em Curitiba (PR) no mês de junho deste ano, o projeto contemplava uma série de itens neste sentido, mas precisou ser adaptado em função da pandemia de Covid-19. O CEO do Eco Medical Center, Patrick Gil, contou ao Saúde Debate que foram realizadas adaptações sobre a renovação do ar dentro do edifício, assim como nas larguras dos corredores.
“Ampliamos a renovação do ar em função da pandemia – e já permanece em uma condição de segurança constante, independentemente da Covid-19 – e os corredores ficaram mais largos, para que os pacientes pudessem permanecer em distâncias mais seguras. Além disso, nosso projeto já contempla uma película que reduz o calor, mesmo com parte da fachada de vidro”, contou Gil, salientando a eficiência energética do prédio.
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O projeto do Eco Medical Center também contou com o estudo de cores para deixar os pacientes mais confortáveis, assim como a escolha de músicas para ambientação adequadas para o momento e local. Também há árvores e paredes verdes dentro do prédio, Toda a infraestrutura de dados possui instalações modernas e elaboradas para permitir segurança de dados e facilitar o trabalho de todos os profissionais.
Um dos destaques dentro da arquitetura na saúde é a justamente a adoção da biofilia, que consiste na conexão instintiva do usuário com a natureza, seja por meio de plantas, texturas ou imagens que remetam ao mundo natural. “As janelas proporcionam iluminação e ventilação natural que auxiliam na saúde e nos momentos de descanso. Além do conforto emocional, a luminosidade natural regula o ciclo circadiano do corpo. Assim, ajuda o corpo a regular o relógio biológico, o que se reflete em diversos aspectos da saúde, como qualidade do sono e memória”, explica Denise Moraes, diretora da AKMX Arquitetura e Engenharia. Ela destaca que a arquitetura de ambientes de saúde foi a precursora de uma abordagem mais humanística, que relacionasse a qualidade ambiental à melhoria das condições de saúde e recuperação de pacientes em tratamento.
Mas é preciso lembrar que a arquitetura na saúde é complexa pela necessidade de unir esses itens com normas técnicas e estruturas específicas. “A questão que tende a ser cada vez mais presente a partir de agora será a qualidade ambiental e os reflexos sensoriais e fisiológicos que provocarão nos usuários”, ressalta Denise.
Nesse contexto, olhares se voltam a novos campos e conhecimentos fora das disciplinas clássicas da arquitetura. A contribuição da neurociência na arquitetura, denominada neuroarquitetura, tem demonstrado fundamental importância para garantir ambientes que promovam bem-estar, além de saúde física e mental a pacientes e colaboradores.
Aplicar a neuroarquitetura de forma eficiente em qualquer edificação requer conhecimento e atenção na relação entre os diversos componentes do espaço e os reflexos provocados no corpo humano. Cores, luzes, conexão com o exterior, orientação espacial, texturas, imagens, sons, cheiros, dimensões e formas são captados a todo momento pelo usuário de um espaço. Essa percepção provoca reações positivas ou negativas e desencadeiam reflexos físicos e mentais, como alteração do batimento cardíaco, alteração do ritmo respiratório, stress, transpiração, além de sentimentos como medo, conforto, atenção, nervosismo, relaxamento ou diversos outros.
A neuroarquitetura se baseia nos estudos científicos que investigam a percepção e os reflexos do ambiente no cérebro humano. Um estudo de caso realizado pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) sobre humanização em unidades de quimioterapia ambulatorial pediátrica apontou como estratégias de humanização o uso de paisagismo, ampla entrada de luz natural, disponibilização de janelas voltadas ao ambiente externo, iluminação suave em departamentos assistenciais e atenção à família.
O conforto assegurado pelo uso bem-sucedido desta ferramenta da neurociência traz aos pacientes uma sensação de acolhimento como se estivessem hospedados, e não apenas internados por problemas de saúde.
“Considerando, também, os atendimentos adultos, esse novo conceito arquitetônico passa a ser percebido nos quartos de internação, nas áreas de medicação e em todo o local por onde o paciente circula, se parecendo cada vez mais com um hotel. Com a pandemia, o que se percebeu foi a necessidade de ampliar esse olhar humanizado para os profissionais da saúde, que enfrentam jornadas longas, grande carga de trabalho e, consequentemente, alto nível de estresse”, completa Érica Prata, diretora comercial da AKMX Arquitetura Corporativa.
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