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Somente no Brasil, desde 2020, mais de 700 mil pessoas morreram por complicações da COVID-19 e quase 40 milhões de casos da doença foram confirmados. Ainda que a enfermidade não seja mais considerada uma emergência de saúde pública, é certo que seu impacto foi imenso e que estudos a respeito do vírus podem ajudar a sociedade a se preparar melhor para eventuais futuras pandemias.
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Nesse sentido, pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e da Universidade de Queensland, na Austrália, uniram-se para analisar tecidos de pacientes que foram a óbito em decorrência da doença e estabelecer um perfil de expressão gênica do vírus. A expressão gênica controla quais – e em que momento – genes são ativados em uma célula, o que vai determinar as funções e características específicas dessa mesma célula.
A principal conclusão do trabalho foi que áreas de tecidos ricas em macrófagos, ou seja, células de defesa do organismo que atuam no sistema imunológico, expressam a proteína IFI27 em níveis mais altos. Ainda, no caso dos pacientes infectados pelo SARS-CoV-2, havia mais macrófagos expressando a IFI27 em comparação com pessoas não infectadas. A IFI27 se trata da proteína 27 induzível por interferon alfa (IFN I), principal imunorregulador em infecções virais.
“Essa molécula, a IFI27, portanto, tem papel importante nas doenças virais, entre elas a COVID-19. Isso é bem interessante porque é uma molécula que aumenta a expressão de outras proteínas envolvidas na inflamação, que é o que desencadeia os sintomas no paciente”, explica Lucia de Noronha, professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCS) da Escola de Medicina e Ciências da Vida da PUCPR e uma das autoras do estudo.
“ Quando você sabe quais genes estão sendo expressos você também sabe que vias estão sendo ativadas, por exemplo, qual via inflamatória, qual via de morte celular. Com essa informação, é possível definir melhor o tratamento”, acrescenta Cleber Machado de Souza professor da Escola de Medicina e Ciências da Vida da PUCPR.
A tecnologia disponível nos laboratórios da Universidade de Queensland e de difícil alcance no Brasil permitiu a análise de centenas de genes ao mesmo tempo, numa única amostra. Os pesquisadores, assim, conseguiram ter acesso a um painel de expressão gênica bastante amplo.
“Por mais que a COVID -19 não seja mais considerada uma pandemia, a doença ainda existe. Além disso, tudo o que pudermos aprender com um vírus pandêmico com certeza terá valor amanhã, já que a projeção é de que pandemias futuras também devem ser virais”, esclarece Lúcia.
Publicação internacional
O estudo “In situ single-cell profiling sheds light on IFI27 localisation during SARS-CoV-2 infection” (“O perfil de célula única in situ esclarece a localização do IFI27 durante a infecção por SARS-CoV-2”, em tradução livre) foi publicado na revista médica eBioMedicine, apoiada pela prestigiada The Lancet.
O artigo está disponível na íntegra no link: https://www.thelancet.com/journals/ebiom/article/PIIS2352-3964(24)00051-3/fulltext .
*Informações Assessoria de Imprensa