A solidão da pandemia atinge idosos

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O isolamento social e o distanciamento foram essenciais – e continuam sendo – na pandemia de Covid-19. A orientação foi ainda mais incisiva para o público acima dos 60 anos, considerado grupo de risco. Mas teve um efeito “silencioso”: a solidão da pandemia atingiu os idosos em cheio. A ausência do contato físico e as mudanças nas atividades não alteraram apenas a rotina. Fizeram com que o sentimento de solidão viesse à tona.

“É um sentimento de abandono. As visitas são mínimas, sem beijos e sem abraços, sempre com muito medo e uma atenção a todas as medidas, que não deixa a gente relaxar e desfrutar dos momentos com nossos filhos e netos. Por três meses, nem minha caminhadinha pelo quarteirão eu dei, com medo desse vírus. Agora, estou fazendo, aos poucos, mas de manhã cedinho, para cruzar com o mínimo de pessoas possível”, conta Ivone Ribeiro, dona de casa, 67 anos.

“O mais triste é eu estar perdendo uma fase muito legal da vida dos meus netos. Um aprendendo a escrever, outro a andar, outro a falar e nós em casa, só recebendo mensagens e vendo vídeos. Como tenho vários fatores de risco, não saio nem para ir ao mercado, meus filhos trazem as compras e deixam na porta, e esse é o contato que estou tendo com eles nesses seis meses”, relata Rodolfo Costa, aposentado, 73 anos.

Ivone e Rodolfo são dois entre os 1,78 milhão de paranaenses (16% da população do estado) com mais de 60 anos, considerado grupo de risco para a Covid-19. Dos 4.335 óbitos registrados no Paraná até o dia 28 de setembro, 3.255 foram de pessoas com mais de 60 anos. Principal grupo de risco da pandemia de Covid-19, a população idosa está há mais de seis meses em isolamento. Se cumpriram a orientação de não sair de casa e não receber visitas, os idosos conseguiram se proteger do coronavírus, mas podem ter descompensado o controle de outras doenças como diabetes, hipertensão, osteoporose e, principalmente, problemas psicológicos como depressão ou ansiedade.

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Agravamento do quadro de saúde: a solidão da pandemia que atinge os idosos

O geriatra Carlos Sperandio, que tem visitado asilos de Curitiba para atendimento domiciliar aos moradores dessas instituições, constata o agravamento do quadro de saúde dessa população isolada.

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“A gente tem vivido, no Brasil, uma morte social do idoso. Ele já é um grupo populacional marginalizado. Agora, eles estão em uma prisão domiciliar decretada pelo senso comum. Isso está sendo extremamente doloroso e vai cobrar o seu preço”, lamenta o profissional. “Já é constatado o aumento nos casos de suicídio, de depressão e ansiedade; casos de piora clínicas de pacientes que precisavam respirar o ar de fora de casa, para manter sua inteligência, sua cognição, seu emocional, ou de doenças orgânicas que exigem que a pessoa se movimente; ou casos mais graves em que a pessoa precisa frequentar o hospital e está deixando de fazer por medo de Covid”, diz. “A Covid veio para escancarar como essa morte social é dolorosa”.

Para o geriatra, com o aumento do conhecimento sobre as formas de transmissão do coronavírus, permite-se pensar em uma forma de promover uma “saída segura” para o idoso ou, até, que ele receba visita. “Se a gente conseguir passar para esses idosos e seus familiares como funciona a transmissão do vírus, a gente consegue apontar uma lacuna para uma saída de casa ou uma visita bem-feita. Até porque seria hipocrisia achar que as pessoas não tenham, vez ou outra, quebrado a quarentena. Estão fazendo sim e, às vezes, de modo muito inseguro”, diz.

Carlos Sperandio evita criticar a política de isolamento adotada pelo Paraná no início da pandemia, mas defende que, ao se conhecer melhor o vírus deve-se praticar o isolamento respiratório e não social. “A partir do momento que a gente entende que a transmissão do vírus ocorre de árvore respiratória para árvore respiratória, a gente começa a entender como é o mecanismo de contágio. A secreção de via aérea. Se você conseguir escapar de secreção de via aérea, você está ‘safo’. Então, higienizando sistematicamente as mãos, usando máscaras o tempo todo e mantendo-se a dois metros de distância de outras pessoas, estamos protegidos”, afirma.  

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Cuidado para não deixar a solidão da pandemia afetar os idosos

Ele afirma ser saudável que o idoso consiga sair de casa para se exercitar e tomar sol, evitando o sedentarismo e o agravamento de doenças crônicas. “Para isso, ele deve utilizar uma das máscaras que protejam ele e não os outros. Então, idosos não devem usar máscaras de pano, mas sim as máscaras N95, que filtram até 95% dos microorganismos. Daí, pode fazer uma caminhada ao sol, sem entrar em ambientes fechado, mantendo distância de dois metros das outras pessoas, carregando álcool em gel para fazer higiene das mãos se encostar em algo e quando voltar para casa”, diz.

O médico também diz que é possível o idoso receber visita de forma segura. “Você pode visitar seu pai ou seu avô, desde que você seja uma pessoa que esteja se protegendo muito, que não esteja indo à balada, frequentando aglomerações, se expondo a contato com pessoas que você não sabe se está se cuidando. Se você está se cuidando e você vai visitar seu pais, mantendo a distância de dois metros, deixando o sapato fora da casa deles, higienizando as mãos, utilizando a máscara mesmo dentro de casa. É uma visita segura”, explica. “Não podemos ir contra a orientação da autoridade sanitária, mas temos que ter bom senso que esses idosos estão pagando um preço muito grande por esse isolamento obrigatório. Então, com segurança, dá para fazer algo para melhorar”.

Por conta dessa marginalização do idoso, o médico condena a proposta de isolamento vertical, que consiste em isolar apenas as pessoas do grupo de risco, mantendo as atividades normais dos demais. “Não há dúvida que se fizermos esse tipo de isolamento estaremos sendo cruéis e decretando oficialmente a morte social dos idosos, que já vinham compadecendo”, diz Sperandio.

“Por isso que o melhor é o caminho do meio. Manter os idosos e demais grupos de risco fechados, primeiro não impede o contágio de todos, pois muitos ou vivem com alguém ou precisam de pessoas que vão e vêm. Segundo, muitos precisam da vida em sociedade para se manter vivos, cuidando de sua estabilidade emocional e das doenças crônicas não transmissíveis”.

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