“Achei que não seria possível me tornar mãe. Claro que não é uma gestação comum, mas poder gerar uma vida e fazer de tudo para que tenha mais segurança durante esse momento mágico é incrível”. Assim descreve a biomédica Rafaela Benatti de Oliveira, 32 anos, após, em junho, passar por uma cirurgia que visa prevenir a ocorrência de parto prematuro em pacientes que apresentam alterações no colo uterino. A operação foi a primeira cerclagem abdominal robótica assistida da história do Vera Cruz Hospital.
Além de ser a principal causa de morte neonatal, o parto prematuro também pode contribuir para a ocorrência de sequelas neurológicas, visuais, auditivas, pulmonares e outras, sejam temporárias ou permanentes. “Existem mulheres que apresentam modificações no colo uterino que promovem um quadro chamado insuficiência istmocervical. Nessas condições, o colo uterino pode sofrer dilatação e esvaecimento de maneira indolor durante o segundo e terceiro trimestre de gestação, permitindo a exposição da bolsa amniótica, o que pode aumentar o risco de infecções, rompimento prematuro de membranas e parto pré-termo”, alerta o cirurgião ginecológico Carlos Eduardo Godoy, cirurgião robótico que conduziu a intervenção, que ainda contou com o cirurgião oncológico Marcelo de Andrade Vieira, a ginecologista e obstetra Ana Maria Dias Fachini e o obstetra Marcelo Luís Nomura, especialista em gestação de alto risco.
Leia também – Gravidez e os cuidados com o recém-nascido: tire dúvidas
A intervenção, minimamente invasiva, diminui riscos de sangramento, infecção e dor pós-operatória. “Realizamos a dissecção de artérias e veias uterinas com alto fluxo sanguíneo, encontrando espaços avasculares para a passagem de uma agulha de grosso calibre, trazendo uma fita que irá envolver o colo e conferir resistência para que suporte a gravidez até o fim”, detalha Godoy.
“As principais vantagens do uso do robô em detrimento da via laparoscópica estão associadas aos benefícios da visão tridimensional e da precisão dos movimentos que conseguimos executar com o uso das pinças. É preciso trabalhar em uma área nobre, evitando-se o risco de sangramento, com extrema precisão e com velocidade satisfatória, já que temos a mãe e o feto expostos ao ato cirúrgico e ao procedimento anestésico”, adiciona.
No caso de Rafaela, o risco estava em um antecedente de neoplasia maligna do colo uterino. Por isso, em 2021, ela realizou a remoção parcial do colo pela técnica de conização. “A cirurgia de remoção do tumor deixou um encurtamento do colo residual, o que poderia constituir um fator de risco para a ocorrência de parto prematuro”, pontua o médico.
A alta hospitalar foi realizada após 24 horas de internação, após um ultrassom obstétrico que avaliou o bem-estar fetal. Após cinco dias de repouso, a biomédica foi liberada para retornar à rotina de forma mais leve. “Eu achei incrível ser operada por um robô. Não senti dores no pós-cirúrgico e não tive cólicas e nem sangramento, sintomas comuns neste caso. Sigo normalmente minha rotina de trabalho, mas ainda não posso fazer exercícios físicos, à exceção de caminhadas e alongamentos leves. Mais próximo do Ravi nascer, terei que diminuir mais o ritmo”, brinca.
Números e fatos
A cerclagem abdominal robótica assistida é o mesmo procedimento que foi realizado na apresentadora Eliana, que precisou se afastar dos palcos durante a gestação para preservar a saúde da filha Manuela, hoje com quatro anos de idade.
O procedimento mais frequente é realizado por via vaginal, preferencialmente entre 12 e 14 semanas de gestação. Já a transabdominal pode ser realizada por via aberta ou pela via minimamente invasiva. “Usar um manipulador uterino se tornou inviável por se tratar de um útero gravídico mais volumoso, com aumento da vascularização e redução da mobilidade. Portanto, neste caso, optamos por realizar o procedimento pela técnica robótica”, conclui.
*Informações Assessoria de Imprensa