Segundo dados da base ativa de clientes da Contabilizei, maior escritório de contabilidade do país, líder em abertura de empresas e gestão de CNPJs, ano após ano têm aumentado o número de notas fiscais emitidas para o exterior. De 2022 para 2023, a porcentagem de profissionais que emitiram invoices, documento semelhante à nota fiscal, obteve um avanço de 88%. A área da Saúde foi a que mais apresentou crescimento, com 156%.
Para o vice-presidente de aquisição e receita da Contabilizei, Guilherme Soares, a informação representa um movimento importante para a economia brasileira uma vez que essas pessoas prestam serviços ao exterior do conforto de suas casas aqui no país e tendem a consumir dentro do território nacional. “Há muitos serviços brasileiros sendo exportados para fora. Além de aumentar o total de volume, teve um grupo de profissionais que também incrementou o faturamento médio: as atividades de consultoria, que obtiveram um aumento real de 10,66% em média de faturamento, de R$ 187 mil para R$ 226 mil, ao comparar um ano contra o outro.”
Essa tendência tem se mostrado cada vez mais comum após a pandemia, quando profissionais optaram pelo modelo de trabalho remoto, possibilitando morar onde quiser e fazer as entregas online, recebendo em qualquer moeda e convertendo ao câmbio local. O cenário internacional é bastante atrativo. Entretanto, é importante entender a tributação sobre a exportação de serviços, quando não há remessa de produto a ser feita: o que caracteriza é a intangibilidade do que é comercializado, portanto, não existem taxas alfandegárias e aduaneiras.
O mercado internacional atrai diversos profissionais. Assim, cada dia mais, as empresas estão de olho nas possibilidades de contratar talentos de outras localidades, tanto em razão do perfil como pela escassez de ambientes competitivos. A partir do mapeamento da Contabilizei, abaixo seguem as atividades que mais apresentaram aumento na porcentagem de emissão de invoices de um ano para o outro:
Dentre os casos de pessoas que realizaram o sonho de trabalhar para empresas internacionais, emitindo nota fiscal ao exterior, existe a realidade da tradutora Tania Jacomini, de 42 anos, contratada direto de Campinas (SP) por agências estrangeiras para prestar serviços de tradução de inglês ao português. Com mais de nove anos atuando na área, o sonho de seguir nesta carreira começou lá na época da faculdade, mas foi concretizado anos depois de algumas aventuras no universo da cultura e do audiovisual.
A primeira oportunidade surgiu por indicação de um amigo da Argentina, que pediu apoio para a revisão de um texto. Esta experiência foi gratuita, mas acendeu uma luz para investir neste caminho. “Em princípio, eu revisava as traduções, mas depois fiquei interessada de verdade pela atividade e resolvi me aprofundar melhor. O primeiro passo foi fazer uma pós-graduação para ser tradutora porque saber o idioma não é suficiente, afinal não estamos traduzindo de uma língua para a outra, mas de uma cultura para outra”, explica Tania.
Hoje ela trabalha por meio da sua microempresa (ME) e emite nota fiscal dos seus serviços para diversos contratantes no exterior. “Na época em que só fazia edição e revisão, eu tinha aberto um CNPJ como MEI. Daí, quando fiz a transição, precisei me tornar ME, justamente porque o tradutor não pode atuar como MEI”, lembra. Com a organização dessa mudança, ela tem disponível um teto maior de faturamento. “Agora posso ampliar os negócios sem ficar limitada ao valor da cobrança e estou regularizada, tenho uma média de 3 a 4 NFs por mês”, conta.
Atualmente, ela trabalha como tradutora fixa para uma agência da Argentina e tem cadastro em agências de diversos países, como EUA, Reino Unido, Polônia, Ucrânia, entre outros. De acordo com a Tania, essa é uma jornada bastante comum dos tradutores. “É a trajetória natural interagir com contratantes de inúmeras localidades do mundo, mas para isso precisa fazer cadastro nas agências, acompanhar postagens de trabalho em diversas redes sociais, fazer relacionamento, conhecer as plataformas específicas daquele mercado”.
“Quando você trabalha como prestador de serviços, você está sempre captando clientes. Aliás, acredito que essa é uma dinâmica frequente de todas as empresas. Esse movimento de buscar ativamente novos trabalhos é praticamente eterno, não pode ficar estagnado e esperar cair do céu. Tem que ser proativo”, avisa. Para desenvolver as suas habilidades como vendedora, ela fez um curso livre de Marketing, voltado para tradutores, que ensina como abordar contratantes, atualizar o portfólio, orientações de mercado.
Receber em outra moeda é o sonho de consumo de parte dos brasileiros e, para quem deseja começar a trabalhar para o exterior, Tania recomenda o óbvio. “É fundamental falar muito bem em inglês. Por exemplo, colocar os seus perfis nas redes sociais em inglês. Se quiser lidar com contratantes internacionais, portfólio e currículo precisam estar traduzidos para a língua universal”, ressalta. “Não utilize ferramentas de tradução automática. Trabalho muito com empresas argentinas: o tratamento é todo em inglês e o recebimento em dólar”.
A parte mais desafiadora dessa missão é a sazonalidade do serviço. Segundo Tania, o mais difícil é lidar com a insegurança interna da entressafra: o que fazer com esse tempo livre porque às vezes tem cinco projetos simultâneos e outras vezes nenhum. “O segredo é a organização. Esses momentos são fundamentais para construir outras bases, como atualizar o currículo, divulgar o portfólio, procurar outros contratantes, fazer um curso de aperfeiçoamento. Estar em movimento no período de baixa faz parte do trabalho, assim como equilibrar as finanças, cuidar da contabilidade, fazer prospecção, não se restringe na tradução”.
Tania acredita que os profissionais brasileiros são muito atrativos para empresas globais, além das competências técnicas e comportamentais que chamam atenção, o Brasil reúne uma diversidade enorme de talentos com boas formações e bagagem profissional. “Se uma empresa consegue utilizar esses serviços sem ter que importar as pessoas, os custos diminuem para o contratante. É benéfico para ambos os lados: acessível para quem contrata e vantajoso para quem recebe em dólar, já que o salário multiplica em quase cinco vezes”, destaca.
Guilherme endossa este ponto importante mencionado por Tania em relação ao câmbio. Para o executivo, vale atenção às mudanças de valor do real x dólar (ou outras moedas estrangeiras) a fim de entender como isso afeta a receita. “É necessário acompanhar a cotação com frequência para perceber as variações cambiais e avaliar com mais propriedade as vantagens do melhor momento de fazer o câmbio. Por exemplo, ao comparar um ano contra o outro, o dólar versus o real desvalorizou 7%. Além disso, existe a complexidade de fazer a troca da moeda estrangeira para real, onde tem os efeitos de taxa que são cobrados nesse processo”, ressalta.
Sobre o futuro do mercado de tradução, Tania é otimista. “As oportunidades são infinitas porque as pessoas estão cada vez mais globalizadas e precisam desse intercâmbio”, ressalta. Quando questionada sobre a evolução da inteligência artificial, ela é categórica em não se preocupar, já que isso não é uma novidade na área de tradução. “Convivemos com a tecnologia há bastante tempo, tradutores digitais famosos e suas variações não substituem o olhar minucioso e o cuidado de um profissional de tradução no refinamento do processo”, enfatiza.
Aliás, para ela, aprender a usar as ferramentas disponíveis no mercado a favor da profissão é essencial para quem deseja se destacar nesse universo de trabalhar para o exterior. “As pessoas não podem ter resistência ou torcer o nariz para novidade. Não há mais espaço para cara feia. O mundo inteiro está aprendendo junto a usar a inteligência artificial. Por isso, recomendo ter essa visão ampla e a cabeça aberta para absorver as inovações, sem ficar com nenhum receio. A tecnologia só chega para contribuir com o trabalho”, completa.
Para o COO da Runtalent, consultoria especializada em alocação de profissionais de TI, serviços gerenciados e squads ágeis, Gilberto Reis, a explicação para o crescimento de 91% na emissão de invoice na área de TI pode ser atribuída a uma série de fatores, como a questão cultural. “O brasileiro tende a possuir conhecimento técnico e habilidade para se adaptar a diferentes situações. Essa capacidade é valorizada, já que as demandas nas empresas podem ser bastante diversas e imprevisíveis”, ressalta. Outro aspecto relevante apontado pelo executivo é o salário. “Devido à valorização do dólar, ou euro, em relação ao real, os salários oferecidos pelas empresas estrangeiras podem ser muito mais atrativos para os profissionais brasileiros. Isso cria uma situação vantajosa para ambas as partes”, ressalta.
Invoice é um documento comercial internacional que formaliza transações de importação e exportação detalhando o produto ou serviço, valores e outros termos da transação. A emissão é obrigatória quando o valor da operação for superior a três mil dólares americanos ou quantia equivalente em outra moeda. Para valores abaixo, mesmo não obrigatório, é recomendada a emissão como forma de indicar o código da natureza da operação e comprovante da transação, evitando problemas futuros com os órgãos fiscalizadores.
O pagamento da invoice é feito por transferência internacional e a transação financeira pode acontecer por intermédio de bancos tradicionais ou de plataformas especializadas nesse tipo de serviço. Sobre as receitas de exportação de serviços e mercadorias não há a incidência das contribuições federais PIS e Cofins, do imposto estadual sobre mercadorias ICMS e, em muitas vezes, do imposto municipal ISS, este último depende do posicionamento do município, alguns serviços não há incidência, mas para outros há, como é o caso de São Paulo. Porém, não está livre de outros tributos, como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) — atualmente, 0,38% sobre o valor da operação.
Deve-se considerar a variação cambial até o dia do recebimento do valor do produto ou serviço comercializado. No entanto, para fins de faturamento, vale atentar-se para câmbio a taxa publicada pelo Banco Central relativa ao dia anterior ao da emissão da nota fiscal.
*Informações Assessoria de Imprensa
Confira mais notícias de Negócios & Mercado no Saúde Debate