Acesso a bulas digitais cai 57,74% em dois anos; plataforma alerta para riscos da desinformação

bulas digitais
(Foto: Freepik)

O Brasil tem taxas de automedicação elevadas – levantamento do Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico (ICTQ) feito em 2022 revelou que 89% dos brasileiros se automedicam. Somado a isso, indicações em redes sociais de uso de medicamentos sem prescrição médica vem preocupando órgãos da área da saúde. Até mesmo o interesse por informações básicas dos medicamentos vem diminuindo. É o que mostra o levantamento realizado pela plataforma Consulta Remédios (CR) que identificou uma queda significativa no acesso às bulas digitais. A plataforma, que possui cerca de 65% do seu tráfego direcionado às bulas, registrou que em 2021, as visualizações chegaram a mais de 297 milhões de visualizações, já em 2023, esse dado diminuiu para pouco mais de 125 milhões.

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“É fato que os dados que temos foram extraídos durante a pandemia e pós-pandemia. E a gente observa que durante a Covid, as pessoas acessavam mais e buscavam mais informação naturalmente pela crise na saúde. Ainda, foi um período em que o comportamento dos consumidores se alterou em decorrência da necessidade de estar em isolamento. Mas essa queda pós-pandêmica preocupa, uma vez que entendemos que a informação é essencial quando se fala em uso de medicamentos, e por isso somos uma das plataformas que mais investe em democratizar o acesso às bulas”, diz Paulo Vion, CEO da plataforma. Hoje a plataforma tem um bulário com mais de 15 mil medicamentos.

Apesar da queda nas visualizações, o levantamento também identificou quais foram as bulas mais lidas. Em 2023, a campeã de buscas foi a Desloratadina, antialérgico utilizado no tratamento de rinite. As buscas do medicamento representaram 65% dentro da plataforma. Ainda outras medicações figuram no top cinco, como a Azitromicina, antibiótico comumente utilizado no tratamento de infecções do trato respiratório, a Nimesulida e o Cetropofeno, ambos anti-inflamatórios, analgésicos e antipiréticos. Em quinto lugar também a Loratadina, outro antialérgico.

“Essa diminuição também reflete um comportamento interessante do público, sobretudo dos jovens, que vêm mudando a forma de adquirir conhecimento sobre determinados medicamentos. A prova disso é que, em contrapartida à queda nas visualizações de bulas, hoje vemos um crescimento exponencial do nosso canal do Youtube, onde farmacêuticas explicam os efeitos no uso das medicações e outras informações relevantes sobre saúde. Ou seja, cada vez mais diversificar a forma de fornecer conteúdo de qualidade é primordial e como empresa do segmento farmacêutico, estamos de olho na inovação e, sobretudo, na aproximação com o nosso público e na humanização da informação.”, reitera o CEO.

Fim das bulas impressas?

Tecnicamente, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a ANVISA, a bula é o documento legal que fornece informações técnico-científicas e orientadoras sobre medicamentos. Ainda segundo o órgão, as bulas devem ser disponibilizadas aos usuários em linguagem de fácil compreensão. “Disponibilizar a informação para o usuário de medicamentos é uma forma de buscar um uso racional dos mesmos”, explica Vion. Segundo pesquisa do ICTQ, no Brasil, 53,9% das pessoas afirmaram ler a bula. Entre os que não leem, estão majoritariamente jovens (51%), e entre as justificativas para não ler estão a falta de tempo (38%) e a não compreensão das informações (23,9%).

A Anvisa cada vez mais vem trabalhando para melhorar acesso a essa ferramenta, e em dezembro de 2023 abriu uma consulta pública para regulamentar a transição das bulas impressas para o formato digital de medicamentos. A proposta busca dispensar a versão impressa – que seria fornecida apenas sob solicitação -, promovendo acesso facilitado e responsável e também estruturando os dados das medicações. “Em 2022 foi publicada a Lei da Bula Digital, e agora temos esse novo cenário, em que os laboratórios teriam que disponibilizar por meio de um QR Code a bula de forma eletrônica. A CR é um dos maiores e mais antigos bulários da internet. Atuamos nessa área desde 2000 e isso mostra o quanto estamos à frente dessa discussão. Acreditamos que as ferramentas online devem ser usadas a favor da sociedade, e democratizar o acesso às informações faz parte da busca de uma sociedade saudável”, finaliza Paulo.

*Informações Assessoria de Imprensa

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