As clínicas privadas fazem mais mamografias no mês de outubro do que em todo o restante do ano. Isto acontece em Curitiba (PR) e mostra a força e a importância da campanha Outubro Rosa, segundo o médico especialista em Mastologia e presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Paraná, Helio Rubens de Oliveira Filho.
No entanto, os esforços para a prevenção do câncer de mama não podem ficar concentrados em apenas um mês. Até porque os médicos estão percebendo e os estudos apontam que a incidência da doença vem aumentando entre as mulheres devido ao estilo de vida atual. Isto inclui alimentação incorreta, pouca atividade física, sobrepeso, dormir mal, muito estresse, fumo e consumo de bebidas alcoólicas.
Por isto, a prevenção do câncer de mama é uma construção a longo prazo. Além de todos estes fatores, muitas mulheres estão adiando a maternidade ou decidem não ter filhos, o que aumenta o risco da doença. “Batemos nestas teclas, mas poucas pessoas aderem a uma mudança. Ela vem quando já é tarde demais, quando já vem a notícia. Daí mudam radicalmente de vida. Não adianta mais? Lógico que adianta. A partir do momento que ela muda, a chance de cura também será maior. Mas isto acontece basicamente com o susto”, alerta Oliveira Filho, que é médico cooperado da Unimed Curitiba.
O médico lembra que a o câncer de mama é o tipo de câncer mais prevalente, incidente e letal entre as mulheres em todo o mundo. Em contrapartida, é um câncer que pode ser prevenido. Descoberto em um estágio inicial, a chance de cura ultrapassa 95%. “Mas por que então o câncer de mama causa tantas mortes? Porque ainda há falhas na prevenção”, opina.
A prevenção acontece de duas formas. A primeira delas é a primária, que passa pelas mudanças de hábitos. Um estilo de vida saudável reduz o risco de incidência de câncer de mama em cerca de 30% na comparação com as mulheres que não têm as mesmas atitudes, conforme estudos citados por Oliveira Filho. E estas recomendações valem não apenas para esta doença, mas para qualquer tipo de câncer e outros tipos de enfermidades.
Já a prevenção secundária trata do diagnóstico precoce e isto passa pela realização da mamografia. “E quem deve fazer? No Brasil, a recomendação para mulheres com risco normal, entre a população em geral, é a realização da mamografia anualmente a partir dos 40 anos de idade. Isto reduz a mortalidade entre 30% a 40%. Agora, mulheres com alto risco, com histórico familiar importante, terão que avaliar uma conduta apropriada e o mais recomendado é que procure um mastologista para avaliar efetivamente o risco para dar recomendação adequada”, salienta Oliveira Filho.
Também é importante a mulher ficar alerta a sinais como nódulos palpáveis, alterações na cor da pele (avermelhada e/ou enrugada), descamação do mamilo, saída de secreção pelo mamilo, mama quente, nódulos embaixo do braço. “Se isto aparecer, não significa que seja a doença, mas é importante que as mulheres fiquem alertas”, enfatiza o médico.
Desafios
Na opinião do presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Paraná, um dos grandes desafios no enfrentamento do câncer de mama é o diagnóstico tardio e a falta de acesso ao tratamento. Isto contribui para que a mortalidade no Brasil esteja entorno dos 25%, enquanto em países desenvolvidos o índice seja aproximadamente 10%.
“Isto basicamente acontece porque o diagnóstico é mais tardio e porque as mulheres não fazem mamografia. E elas não fazem porque não querem? Não, porque elas não têm acesso. Cerca de 70% da nossa população depende da saúde pública. Curitiba e outras capitais são ilhas. Em muitos lugares, o acesso é mais difícil. E, se ela têm acesso à mamografia e há alguma alteração, muitas vezes esta mulher não tem acesso à investigação desta alteração. E, se por ventura isto acontecer e descobrir um tumor, nem sempre ela tem acesso ao tratamento”, comenta.
Por isto, de acordo com Oliveira Filho, “o mote da Sociedade Brasileira de Mastologia é acesso a médico, à mamografia, à biópsia e ao tratamento. A conscientização é extremamente importante, mas não vai adiantar se não houver acesso. Só a melhoria de infraestrutura de saúde vai conseguir isto”.
Outros exames
Este momento também é importante para a mulher na prevenção de outro tipo de câncer e de doenças sexualmente transmissíveis. Quem faz o alerta é a enfermeira e coordenadora da Comissão da Saúde da Mulher do Conselho Regional de Enfermagem do Estado do Paraná (Coren/PR), Alessandra Reis.
Nas consultas com o médico ginecologista, que devem ser anuais, também são realizados exames preventivos ao câncer de colo de útero, além da solicitação e encaminhamento à mamografia. Também é a oportunidade para a identificação de possíveis doenças transmitidas sexualmente e de orientação para evitá-las.
“São observadas situações que podem não apresentar sintomas ainda e que poderão ser observadas pelos profissionais de saúde”, alerta Alessandra.
Apoio
“O apoio faz toda a diferença em um momento como este”. A afirmação é de Tania Mary Gomez, que já enfrentou o câncer de mama e que hoje é presidente do Instituto Humanista de Desenvolvimento Social (Humsol), entidade de Curitiba (PR) que auxilia mulheres que estão passando pelo tratamento contra a doença.
“É muito importante o contato das mulheres que estão passando por este momento tão delicado com mulheres que já superaram porque renova a esperança e a vontade de superação. Este é um estímulo essencial para quem precisa passar pelo tratamento, para ter força. A vida nunca foi tão maravilhosa como hoje”, comenta Tania.
A rede de apoio, que também integra familiares e amigos, influencia na mudança de hábitos e no resultado do tratamento.
Instituições como a Humsol ou a Amigas da Mama prestam atendimento a mulheres que passam por esta situação delicada e que encontram apoio especializado e identificado. Um dos trabalhos mais frequentes é a confecção e doação de perucas para o período da quimioterapia. Além disto, ajudam na conscientização sobre a prevenção ao câncer de mama, revelando histórias de superação da doença.
Dados
Confira os dados do Ministério da Saúde sobre câncer de mama no Brasil:
– A mortalidade do câncer de mama no País é baixa em relação a outros países. O Brasil está situado na segunda faixa mais baixa com uma taxa de 13 por 100 mil, ao lado de países desenvolvidos como EUA, Canadá e Austrália, e melhor do que alguns deles, como a França e o Reino Unido.
– Por outro lado, figura também na segunda faixa mais alta de incidência de câncer de mama entre todos os países. Nesse caso, a taxa de incidência é de 62,9 casos por 100 mil habitantes (taxa padrão utilizada mundialmente). A análise da situação do câncer de mama no Brasil em 2018 foi apresentada pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) no mês de outubro.
– Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil vem conseguindo aumentar o percentual de casos diagnosticados nos estágios in situ (considerado zero) e I de 17,3% em 2000 para 27,6% em 2015. Mas essa proporção continua muita baixa na região Norte (12,7%), em contraste com as regiões Sul (29,2%) e Sudeste (30,8%). Mas é necessário avançar na prevenção e diminuição das desigualdades regionais e socioeconômicas.