Dependência química e emocional do cigarro

cigarro
(Foto: Freepik)

O tabagismo é uma grave ameaça à saúde global, pois mata mais de 8 milhões de pessoas por ano. No Brasil, o fumo mata, por ano, cerca de 162 mil pessoas e custa mais de R$ 125 bilhões aos cofres públicos em gastos diretos e indiretos com doenças recorrentes provocadas pelo ato de fumar, como o câncer de pulmão. Isso equivale a 23% do que o Brasil gastou, em 2020, com o enfrentamento à COVID-19 e não inclui os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) para tratar a dependência de nicotina.

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A fumaça do tabaco contém mais de 7 mil compostos e substâncias químicas e estudos indicam que, no mínimo, 69 delas provocam câncer. O câncer de pulmão é uma das doenças oncológicas mais mortais no mundo, responsável por cerca de 1,8 milhão de óbitos anuais, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

No ano passado, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) projetou que mais de 32 mil pessoas desenvolverão tumores pulmonares a cada ano até 2025, sendo que o tabagismo é responsável por 90% dos casos da doença no Brasil.

Para entender os motivos que levam uma pessoa a começar a fumar e as dificuldades que os fumantes têm de abandonar o vício, entrevistamos o psiquiatra Gustavo Sehnem, médico cooperado da Unimed Curitiba.

O que leva a pessoa a começar a fumar na adolescência?

Gustavo Sehnem: o adolescente é sempre mais influenciável para poder pertencer a um determinado grupo. Isso faz com que muitas vezes ele experimente o cigarro para imitar os outros, por curiosidade ou para ser aceito, e acaba se viciando. Estudos mostram que um adolescente que fuma por três meses consecutivos acaba se viciando por 30 anos. Isso era ainda pior no passado, quando a propaganda das marcas de cigarro só mostrava um lado positivo do tabagismo, associando o hábito aos esportes e sempre com uma dose de charme. Isso foi tão danoso, que acabou sendo proibido. Mas até hoje, mesmo com as mensagens de alerta obrigatórias nos maços de cigarros, tem paciente que pede a carteira que dá câncer ou infarto, mas não quer a campanha que fala sobre impotência sexual.

E por que, mesmo sabendo dos malefícios desse vício, a maioria dos fumantes dizem ter dificuldade para parar de fumar?

Sehnem: porque os problemas causados pelo tabagismo não são imediatos. Eles aparecem depois de décadas do vício. Num primeiro momento, as pessoas acham que os problemas estão muito distantes e que elas podem aproveitar um pouco. O infarto, o enfisema pulmonar, o câncer, os problemas vasculares e o envelhecimento precoce da pele só surgem com o tempo. Como a maioria das pessoas que fuma atrela o ato de fumar a um momento de prazer e relaxamento, muitas vezes sugerimos ao paciente que quer parar que aplique uma punição associada ao tabagismo. Um exemplo é só poder fumar sozinho, em pé, de frente para uma parede branca, sem telefone e sem ouvir música ou o som da TV. Numa situação dessa, o fumar perde muito do prazer.

Qual é a importância do acompanhamento psiquiátrico e psicológico para se livrar do vício?

Sehnem: a dependência química está associada à dependência emocional do objeto cigarro. Muitos sentem mais necessidade de segurar o cigarro com as pontas dos dedos, do que tragar. Por isso, a redução do consumo precisa ser sempre gradual e, se necessário, acompanhada com o uso de medicamentos à base de nicotina, de forma controlada. O uso da goma ou do adesivo com nicotina muitas vezes é importante porque esta é uma substância que atua desde a cognição até no funcionamento intestinal do organismo. Além dessa dependência química e física, a dependência psicológica também está associada a momentos de tensão, nervosismo, tristeza e insegurança, quando a pessoa usa o cigarro como válvula de escape.

Por que alguns ex-fumantes acabam trocando o cigarro por outros hábitos, como a ingestão de doces ou a prática de atividade física?

Sehnem: muitos substituem o cigarro por algo calórico e acabam ganhando peso. Isso porque o cigarro faz com que a pessoa perca parte do paladar e até queime as papilas gustativas. Quando param de fumar, passam a sentir melhor o sabor dos alimentos, a sentir mais prazer ao comer e a comer mais. A substituição do cigarro por atividades físicas é resultado de uma das técnicas usadas para abandonar o vício. Muitos pacientes que fumam o primeiro cigarro do dia antes de levantar da cama são desafiados a só dar o primeiro trago do dia depois de praticar algum exercício. Assim, o organismo vai substituindo a necessidade de nicotina ao despertar pela necessidade de endorfina, que também dá a sensação de prazer. Outra técnica comum que muda hábitos de alimentação é a pessoa que associa o cigarro ao consumo de café e é desafiada a trocar o café pelo chá ou outra bebida não alcoólica.

O processo de dependência e dificuldade de largar o vício é o mesmo com o cigarro eletrônico?

Sehnem: a indústria, para angariar novos clientes, criou o cigarro eletrônico sem cheiro porque essa sempre foi a principal reclamação do usuário, seus familiares e amigos. Mas ele vicia tanto quanto ou até mais que o próprio cigarro comum. Uma tragada num cigarro eletrônico pode equivaler ao consumo de um cigarro comum inteiro. Por isso, o processo de dependência e abandono do vício pode ser mais difícil com o cigarro eletrônico.

Para seus clientes com mais de 18 anos de idade, a Unimed Curitiba oferece o programa Você Sem Cigarro para que uma equipe multiprofissional os ajude a abandonarem o vício. A troca de informações também acontece de forma online, com envio de materiais didáticos e compartilhamento de experiências entre os participantes e a equipe da Unimed Curitiba, para evitar recaídas. A inscrição é livre e voluntária, não tem custo e pode ser feita pelo telefone (41) 3021-4735 ou pelo e-mail pse@unimedcuritiba.com.br.

Participantes do programa Você Sem Cigarro contam suas experiências de superação

Depois de 38 anos e quase de 300 mil cigarros tragados, o assistente administrativo Josuel Rodrigues do Prado (57) comemorou em agosto seus 16 meses sem fumar. “Já tinha tentado parar várias vezes, sem qualquer tipo de apoio, mas nunca consegui ficar sem fumar por mais de duas semanas. E cada vez que eu voltava, fumava mais ainda. Durante muito tempo, fumei uma carteira e meia por dia”, conta.

Josuel fumava desde os 19 anos de idade. Há quatro anos, começou a sentir mal-estar, fraqueza e dificuldade de caminhar, atividade que faz regulamente para estimular a sua mobilidade, já que teve poliomielite na infância. Foi quando decidiu procurar ajuda para parar de fumar.

Cliente da Unimed Curitiba, ele conheceu o programa Você Sem Cigarro no aplicativo da cooperativa. “Estava buscando algo para me ajudar e vi o banner do programa, cliquei e fiz minha inscrição”, lembra. Foram 40 dias de acompanhamento com médico-cardiologista, muitas palestras, material de apoio, dicas de alimentação e de exercícios e troca de experiências com outros dependentes.

“O programa é bem completo e eficaz. Exige muito da gente, mas para conseguir tem que pagar o preço e fazer tudo o que nos orientam. O dia mais crucial do programa é o Dia D, quando você fala: eu vou parar de fumar. Eu decidi parar no dia 14 de abril de 2023. As primeiras 24 horas depois disso foram terríveis! Mas eu consegui!!!”, celebra o ex-fumante.

Josuel afirma que ganhou qualidade de vida sem o cigarro. “Ganhei motivação, disposição e equilíbrio, voltei a sentir o sabor dos alimentos e o aroma das coisas e voltei a fazer caminhada todos os dias. Mudei totalmente meus hábitos”, garante.

A terapeuta integrativa Elizabete de Souza (63) completa em outubro próximo três anos sem cigarro. Ela fumou desde os 15 anos de idade e já tinha ficado dois anos sem fumar. Mas a pandemia do COVID-19 e a chegada da neta foram os principais gatilhos para ela decidir abandonar definitivamente o vício. “Eu tenho asma alérgica e fiquei com muito medo de pegar COVID-19 e morrer. Por isso, voltei ao programa Você Sem Cigarro e fiz de tudo para parar definitivamente”, relata.

Como muitos participantes, Elizabeth tinha passado pelo programa Você Sem Cigarro e abandonado antes do fim. Mas na segunda vez, estava mais determinada, fazendo terapia e se dedicou ao tratamento, com uso de medicamentos, acupuntura, aromaterapia e florais. “Foi um tempo que me dediquei a isso e consegui. Parar de fumar não é difícil, mas tem que querer e persistir”, afirma.

Para quem quer parar de fumar também, as dicas dos dois ex-fumantes é ter determinação, buscar apoio e persistir.

*Informações Assessoria de Imprensa