Interoperabilidade de dados é essencial, mas ainda é uma realidade distante, destacam painelistas do 27° Congresso Internacional UNIDAS

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(Foto: Divulgação)

A interoperabilidade de dados na saúde é um dos maiores desafios enfrentados por operadoras, hospitais e governos no Brasil. Apesar dos avanços tecnológicos, a ausência de sistemas integrados que permitam o compartilhamento eficiente e seguro de informações afeta tanto a eficiência operacional quanto a qualidade do atendimento ao paciente. O tema ganhou destaque no 27º Congresso Internacional UNIDAS, realizado em Florianópolis, onde líderes do setor debateram os impactos da falta de integração nos sistemas de saúde suplementar e público.  

“Resolver os desafios da interoperabilidade é essencial para garantir a sustentabilidade não apenas das autogestões ou da saúde suplementar, mas do sistema público também. Mais do que uma questão técnica, é uma necessidade estratégica que pode transformar a experiência do paciente, proporcionando uma trilha de cuidados mais efetiva e menos dispendiosa”, explica o presidente eleito da UNIDAS, Mário Jorge Vital. 

A interoperabilidade ganhou destaque durante o painel de abertura do evento que teve como tema “Como o uso da tecnologia pode tornar nosso mercado mais eficiente – quais os desafios e oportunidades para sustentabilidade do setor”. Para Vera Valente, diretora executiva da FenaSaúde, o cenário atual dificulta a organização da jornada do paciente e compromete os avanços tecnológicos. “A ausência de prontuários eletrônicos unificados e de interoperabilidade é um obstáculo significativo tanto para o cuidado integral quanto para a otimização de recursos. O sistema fragmentado impede a visão integral do usuário e gera desperdício”, destacou. 

No mesmo painel, Fernando César, diretor da Saúde Suplementar da Confederação Nacional das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos (CMB), enfatizou que o problema não é apenas técnico, mas cultural. “O setor precisa se preparar não só tecnologicamente, mas também em termos de mudança de mentalidade. Interoperabilidade não é um luxo; é uma necessidade para a sustentabilidade e eficiência do sistema de saúde.” 

Embora existam soluções tecnológicas capazes de facilitar a interoperabilidade, como o padrão internacional HL7 FHIR, especialistas apontam que o Brasil enfrenta barreiras regulatórias e financeiras que atrasam sua implementação. O HL7 FHIR (Fast Healthcare Interoperability Resources) é um padrão internacional de interoperabilidade de dados em saúde desenvolvido com o objetivo de facilitar o compartilhamento e a integração de informações clínicas e administrativas entre diferentes sistemas de saúde, garantindo que dados sejam trocados de forma rápida, segura e estruturada. Para Celina Maria Ferro de Oliveira, gerente de interoperabilidade na ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) e painelista do tema Uso da tecnologia na Saúde – abordagem central, afirmou que “a transição para padrões internacionais é essencial, mas exige investimentos robustos e planejamento estratégico, além de regulamentações claras para garantir segurança e ética no uso de dados”. 

O custo da fragmentação de dados

A falta de interoperabilidade impacta diretamente os custos operacionais e o cuidado ao paciente. Sem sistemas integrados, é comum que exames e procedimentos sejam repetidos desnecessariamente, onerando tanto operadoras quanto o sistema público. Além disso, a ausência de uma visão consolidada do histórico do paciente compromete diagnósticos precisos e tratamentos eficazes. 

Marcos Novais, diretor executivo da Abramge, ressaltou, no painel Como o uso da tecnologia pode tornar nosso mercado mais eficiente: desafios e oportunidades para a sustentabilidade do setor o impacto financeiro: “O desperdício gerado pela falta de integração encarece o sistema como um todo. Investir em interoperabilidade pode parecer caro no curto prazo, mas gera economia significativa a longo prazo.” 

Privacidade e segurança: uma preocupação crescente

Além dos desafios técnicos e financeiros, a interoperabilidade traz à tona questões relacionadas à privacidade e segurança dos dados. No Congresso, especialistas alertaram sobre o risco de vazamento de informações sensíveis em um ambiente onde dados são compartilhados entre múltiplas instituições. No painel “Ética e Governança em Inteligência Artificial na Saúde: Desafios e Oportunidades”, Patrícia Peck Pinheiro, especialista em cibersegurança, destacou a necessidade de governança robusta e transparência nos processos. “Sem uma estrutura sólida para gerenciar riscos, a interoperabilidade pode se tornar um problema em vez de uma solução”, destacou. 

“A interoperabilidade é o alicerce para a transformação digital no setor de saúde. Sem ela, não conseguimos avançar em áreas como inteligência artificial, telemedicina e big data”, explicou Luiz Gustavo Kiatake, representante do Comitê de Padronização do TISS (COPISS) na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), durante apresentação no painel “Uso da Tecnologia na Saúde – Abordagem Central”. Ele destacou, ainda, como essa discussão também passa pelo compartilhamento de dados do Sistema Único de Saúde (SUS). “Para alcançarmos eficiência no setor e reduzir custos, é necessário investir na digitalização de dados e na interoperabilidade.” Por fim, o especialista acredita que é fundamental engajar o paciente. “É preciso ver o usuário como protagonista, assim como formar e capacitar profissionais na área tecnológica”, finalizou. 

 *Informações Assessoria de Imprensa