Com mais de 1200 inscritos, o 25° Congresso Internacional UNIDAS – União Nacional das Instituições de Autogestões em Saúde, começou nesta quarta-feira (16), no Centro de Convenções CentroSul, em Florianópolis. Com o tema “Os Desafios para a Sustentabilidade das Autogestões”’, em sua conferência de abertura, o presidente da UNIDAS, Anderson Mendes, ressaltou que a saúde vive seu momento mais emblemático atualmente.
Moderado por Manoela Albuquerque, editora de Saúde na MIT Technology Review Brasil, a conferência inicial debateu a trajetória do setor nas últimas duas décadas e quais as projeções para a saúde. Mencionando as mudanças na legislação, Anderson Mendes destacou que o momento atual é o mais desafiador dos últimos anos. “Há um desvio de atenção para questões que não vão agregar valor algum à saúde. Essas questões desviam nossa atenção em pontos que realmente deveríamos estar discutindo”, resumiu.
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Angélica Carvalho, diretora-adjunta de desenvolvimento setorial da ANS, apontou durante o Congresso Internacional Unidas que as novas regras refletem em toda a população. “A discussão que estamos pautando coloca em xeque todo o sistema porque o impacto na saúde suplementar reverbera diretamente na saúde como um todo. Não há como a gente desvincular isso, nós estamos juntos neste processo”.
Angélica relembrou que a ANS está ciente das dificuldades desencadeadas por decisões no Poder Legislativo. “Na audiência pública feita no Senado Federal sobre o assunto, nosso presidente, Paulo Rabello, colocou de uma forma muito clara que ‘hoje viemos aqui e amanhã voltaremos para ter que rever e trazer os impactos do que está sendo decidido aqui’”.
Mirócles de Campos Veras, presidente da CMB – Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos iniciou suas considerações relembrando a importância dos hospitais filantrópicos para todo o SUS – Sistema Único de Saúde. “Somos o atendimento público na área hospitalar, nós financiamos a saúde pública, sendo que é um dever do Estado”, relatou. “Consequentemente, passamos por um subfinanciamento que paga no máximo 60% dos gastos, fazendo com que nossas instituições cheguem a um endividamento de quase R$ 10 bilhões”.
Para Omar Abujamara Júnior, presidente da Unimed Brasil, um dos acontecimentos positivos nas últimas décadas foi a criação da ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar, que foi criada com a missão de regulamentar o setor. Outro ponto analisado pelo convidado refere-se à transição demográfica do país, com o envelhecimento da população, a diminuição da renda familiar e a crise fiscal no Estado. “Nós temos um grande desafio de equilibrar tudo isso para que a gente possa superar essas dificuldades apresentadas”, resumiu durante o Congresso Internacional Unidas.
Renato Casarotti, presidente da Abramge – Associação Brasileira de Planos de Saúde, definiu o cenário atual como turbulento, gerando uma crise de acesso dos beneficiários. “De um lado temos o aumento crescente dos custos e, do outro lado, uma capacidade extremamente limitada para nossos clientes e consumidores arcar com esse crescimento”.
Renato projetou dois panoramas: com as operadoras ajustando os valores de acordo com o aumento das despesas, gerando exclusão dos usuários pela incapacidade de pagamento, ou aplicando a regulação com os reajustes e um possível congelamento dos preços, quebrando as operadoras e inviabilizando o acesso aos planos de saúde.
Para Vera Valente, diretora executiva da FENASAÚDE – Federação Nacional de Saúde Suplementar, o fato mais marcante da história do setor foi a criação do SUS, o maior sistema de inclusão social do mundo. “Tivemos nesses mais de 20 anos a lei que rege a saúde suplementar que a organizou, a criação da agenda que é de extrema importância e tem seu papel desafiado diariamente pelos diversos poderes ao passarem pelas análises técnicas, novas legislações e decisões judiciais”. Já sobre o atual momento, Vera também criticou as interferências externas. “Recebemos intervenções enormes no legislativo, decisões complicadas no judiciário e uma situação financeira complexa a ser resolvida, que leva a expulsão dos usuários, o que é ruim para todos, inclusive para o SUS, visto que quem não está na saúde suplementar está no sistema público, e também para toda a cadeia particular”.
“A gente precisa de fato de muito trabalho, muitas propostas disruptivas para manter esse sistema de pé, manter as condições de pagamentos das empresas e das pessoas”, finalizou Anderson ao encerrar o painel de abertura.
Eficiência na Assistência Hospitalar
Na primeira palestra do Congresso Internacional Unidas, o professor Jamie Newman, presidente de Otimização Hospitalar e Diretor Médico da Mayo Clinic, destacou a importância da organização para um bom gerenciamento de um hospital. Para isso, é necessário dividir os trabalhos em quatro pilares: segurança, qualidade, experiência do paciente e a otimização.
“Eu posso ter uma estadia de um dia no hospital e ficar muito bem e outra pessoa pode ficar 10 dias e não estar tão bem. Então, a gente precisa dar uma olhada no nosso índice. Às vezes a gente interna pacientes que estão mais doentes que os outros, por isso eles precisam ficar mais tempo. E quando sou questionado, eu explico tudo isso por meio de dados”, exemplificou.
Newman também falou nos benefícios deste senso hospitalar organizado. “Às vezes dinheiro é perdido porque não conseguimos achar os recursos no hospital, uma cadeira de rodas, uma maca. E em relação ao paciente, você caminha o hospital inteiro procurando o paciente, então a eficiência hospitalar é muito importante, usando a localização em tempo real”.
Gustavo Loubet Guimarães, diretor executivo de Saúde Populacional da Rede D’Or, falou que a eficiência é uma preparação. “A construção de uma linha de cuidado é um processo dinâmico. Ele não será resolvido de uma só vez”. Segundo ele, é um desafio conjunto, que são necessárias maiores e melhores ferramentas para a continuidade do cuidado.
Para o dr. André Wajner, CEO da Eficiência Hospitalista e Improve – Foco no Paciente, Doutor em Cardiologia (UFRGS), “quando se gente fala em eficiência, a gente tem que falar em diminuição do tempo de permanência”. De acordo com o CEO, é importante fazer um diagnóstico de toda a estrutura, definir e implementar todas as rotinas de regulação e continuamente coletar e analisar dados, pois muita coisa não é Inteligência Artificial e nem sempre precisarão de grandes tecnologias, algumas situações exigem somente o dado acurado em tempo real.
* Com informações da Unidas