Pacientes vítimas de Covid-19 que têm seus sintomas agravados e precisam de cuidados hospitalares, chegando ao ponto da necessidade de entubação (fazer uso da ventilação mecânica), percorrem um caminho relativamente longo até que seu quadro possa estabilizar e estar livre da doença e de suas possíveis sequelas (comprometimentos de saúde em face da doença).
Mesmo depois de vencida a etapa da necessidade de respiração artificial, esse paciente necessitará ainda de cuidados, no pós-extubação (saída da ventilação mecânica). Isso vai requerer atenção, pois esses pacientes podem apresentar disfagia (dificuldades para engolir com afogamentos e aspiraçãoes do alimento ocasionando pneumonias e disfonias – perda da voz ou rouquidão severa), pois as funções da voz e da deglutição são afetadas, em função do uso do respirador mecânico por tempo prolongado e da Covid-19.
A fonoterapia atua no momento da retirada da ventilação mecânica para proporcionar uma deglutição adequada, evitando que o paciente venha a engasgar, ou mesmo, tenha parte da comida direcionada aos pulmões. “Se isso ocorre, o paciente pode evoluir para um quadro de pneumonia, o que é bastante delicado para alguém que já ficou em média de 10 a 14 dias entubado, respirando por meio de ventilação mecânica” explica a Carla Maffei, fonoaudióloga, especialista em Motricidade Orofacial e Disfagia e especialista nos Distúrbios da Voz. Ela atua na Fonoaudiologia Hospitalar há mais de 30 anos, e atualmente na linha de frente junto a pacientes vítimas de Covid-19 na rede hospitalar de Curitiba.
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Previamente, o paciente – antes de iniciar a fonoterapia – deve realizar um exame denominado videodeglutograma (exame de rádio imagem) ou a nasofibroscopia da deglutição para verificar o quanto a Covid-19 afetou as musculaturas responsáveis por proteger o pulmão durante as funções de deglutição, bem como ver se o alimento ou os líquidos quando deglutidos são desviados para o pulmão. Deve também realizar uma laringoscopia para verificar as condições das cordas vocais e o impacto da entubação prolongada sobre a laringe.
O profissional da fonoaudiologia, dentro da equipe multidisciplinar de saúde que atende pacientes de Covid-19 em UTI, é o responsável pela delicada tarefa de reduzir os riscos de broncoaspiração em pacientes, aplicando esses exames e orientando de que forma a alimentação poderá ser retomada com segurança, tendo um papel importante de suporte à equipe médica aos pacientes graves. “Voltar a se alimentar é um processo lento, mas que significa um dos primeiros prazeres que esta pessoa tem após o término do quadro da Covid-19, um momento importante para o paciente onde poderá deixar do uso da sonda nasoenteral e/ou da gastrostomia para iniciar uma dieta via oral gradativa e segura. Contudo, ela precisa estar apta o suficiente para poder se alimentar com segurança” explica a Fonoaudióloga.
A Fonoaudióloga Carla Maffei aplicando exame em paciente recém extubado para verificar se é possível iniciar a alimentação via oral com segurança (Foto: Arquivo pessoal)
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Além dos cuidados para evitar evolução para um possível quadro de pneumonia, o paciente que não consegue fazer uma boa deglutição após a retirada do tubo pode vir a ter outras complicações respiratórias que vão exigir um tempo maior para sua recuperação total. “Em alguns casos, o paciente com distúrbios respiratórios pode ter agravamento em disfagia e voz, precisando de cuidados mesmo após a alta hospitalar já estando em casa”, explica a Fonoaudióloga especialista em disfagia, Talita Todeschini, que atende pacientes com tratamento no pós-Covid-19.
Haroldo Luiz Fenille, de 62 anos, ficou internado por 68 dias, dos quais 53 em UTI. Passados quase quatro meses do diagnóstico de Covid-19, ele já está bem e se diz quase recuperado. Mas, para isso, precisou continuar o tratamento em casa, após sua saída do hospital. Nutricionista, pneumologista, fisioterapeuta e fonoaudiólogo acompanharam o tratamento de Fenille nos últimos 30 dias em sua casa em Itajaí (SC).
“É um processo lento, às vezes você tem vontade de voltar rápido a trabalhar. Mas é necessário focar na recuperação, e não na doença. Hoje, por exemplo, consigo falar e comer adequadamente. O auxílio de todos os profissionais, como a fonoaudiologia, me ajudou na recuperação”, declara.
Para o Fonoaudiólogo Celso Santos Junior, presidente do Conselho Regional de Fonoaudiologia – 3ª Região e que atua na linha de frente junto a pacientes vítimas de Covid-19, nem toda pessoa que interna em UTI apresentará sequelas. Ao contrário, as equipes de saúde estão de prontidão para que ele possa ter a recuperação ideal. “Contudo, frisamos que essa é uma doença traiçoeira que pode ter consequências, mesmo após o controle da mesma. A respiração, voz e deglutição são exemplos daquilo que pode ser afetado em consequência da entubação. Por isso é que, como profissionais de saúde, insistimos no alerta de que a população precisa seguir as recomendações das autoridades sanitárias em relação aos hábitos de higiene das mãos, o uso do álcool em gel e de máscaras e da necessidade do distanciamento social”, frisa Celso.
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