Os desafios da pediatria em um dos países mais desiguais do mundo

Nesta semana, comemora-se o Dia do Pediatra (27/7). Ser pediatra é um modo de vida. Exige uma série de características únicas e muita sensibilidade. É ter uma visão integral voltada às crianças, no sentido assistencial e de sua proteção, mas também no que diz respeito às relações com os familiares e responsáveis legais pelo paciente. Para tratar, é necessário estudar o cenário de uma família, bem como o contexto e as condições nas quais ela vive, respeitando as suas peculiaridades e a vulnerabilidade da criança e do adolescente. Isso é mais do que ser médico.

Ao longo dos séculos, os médicos vêm oferecendo diagnósticos e tratamentos para públicos de todas as idades, inclusive os mais jovens. No entanto, a pediatria surgiu como especialidade médica no século passado, devido aos elevados índices de mortalidade infantil e ausência de profissionais capacitados para cuidar dessa faixa etária. A palavra “pediatria” tem origem grega e significa paidos (criança) e iatreia (processo de cura). No Brasil, para tornar-se pediatra é necessário especializar-se em pediatria geral.

Em 27 de julho de 1910, alguns médicos se organizaram em uma associação que deu origem à Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), representante máxima dos interesses da especialidade no país. Ser pediatra atende à extensão toda da medicina e exige ainda mais para permitir que a autonomia do sujeito a ser cuidado seja mantida. Cabe ao pediatra transformar vidas e atender às diversas doenças do nascimento até os 19 anos de idade. Não há uma fórmula única para o adequado acolhimento dessa população.

A pediatria representa uma medicina qualificada para assistência, prevenção, promoção da saúde e defesa social. No Brasil, considerado um dos dez países mais desiguais no mundo, percebemos a falta desses especialistas no Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, contamos com quase 40 mil pediatras no Brasil – os quais precisariam estar inseridos nas unidades básicas de saúde, principalmente até contarmos com um número maior de médicos da família, que hoje somam sete mil – apenas 10% do necessário para suprir a demanda dos brasileiros.

Considerando que o SUS corresponde ao atendimento de 75% da população do país, isso é motivo de preocupação. Além disso, segundo os dados da pesquisa de Demografia Médica, mais da metade dos pediatras (55%) está instalada na Região Sudeste. Em segundo lugar, estão as regiões Sul e Nordeste, com pouco mais de 16% dos profissionais especializados na área; 8,6% no Centro-Oeste e 4% no Norte.

O pediatra deve defender que todas as crianças tenham as mesmas oportunidades de acesso à saúde. Quanto mais cedo iniciarmos esse cuidado, desde a primeiríssima infância – que abrange da gestação até os 2 anos de idade –, melhor será o desenvolvimento cognitivo, intelectual e comportamental do indivíduo. E cabe também às entidades médicas e à sociedade civil organizada defender a presença do pediatra nesse primeiro nível de atenção em saúde.

Em todo o seu universo, o pediatra abrange os cuidados ambulatoriais, mas também hospitalares. Nesse sentido, o maior hospital exclusivamente pediátrico do Brasil, o Pequeno Príncipe, é referência na assistência de média e alta complexidade, e possui um caráter único, porque consegue atender em mais de 30 especialidades com excelência técnica e científica, qualidade, humanização e segurança. O sistema de saúde deveria, de forma ativa, disponibilizar às crianças brasileiras um hospital desse porte para populações de cinco a dez milhões de crianças e adolescentes. Com lógica de referência geográfica e populacional. Ou seja, o Brasil precisaria de pelo menos 20 unidades como o Pequeno Príncipe espalhadas pelo país.

Em 1934, médicos do Hospital de Crianças, atual Pequeno Príncipe, fundaram a Sociedade Paranaense de Pediatria. Hospital de ensino, a instituição passou a ser reconhecida também como o berço da pediatria no estado. Ao longo da história, formamos mais de dois mil especialistas pediátricos, que atuam com princípios adequados voltados à beneficência, justiça e não maleficência em defesa daqueles que serão responsáveis pelo futuro da nação.

Nos dias de hoje, além de atuar como centro de formação de pediatras e especialistas no âmbito hospitalar, a instituição oferece cursos da área de saúde por meio da Faculdades Pequeno Príncipe. Em sua matriz curricular, são apresentados todos os aspectos da medicina preventiva na atenção primária, como também tratamentos hospitalares mais complexos.

O Pequeno Príncipe desenvolve também estudos que visam a reduzir a mortalidade infantojuvenil por meio de pesquisas que ocorrem tanto no Hospital, em nível clínico, como no Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe. A instituição ainda tem muita sensibilidade no quesito mobilização social, prezando pelos direitos da criança perante a sociedade. Defendemos um modelo igualitário, em que todas as pessoas tenham acesso às mesmas oportunidades de tratamento de saúde.

Dr. Donizetti Giamberardino Filho | créditos: divulgação

<

p class=”ql-align-justify”>*Donizetti Dimer Giamberardino é Pediatra, nefrologista, diretor técnico do Hospital Pequeno Príncipe e vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM).

Leia outros artigos publicados no Saúde Debate

Conheça também os colunistas do Saúde Debate

Leia também: Pediatra: especialista que vai além do diagnóstico de doenças nas crianças