O trabalho feminino

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Quando falamos em violência doméstica contra a mulher nos vem à cabeça instantaneamente a violência física por parte de pessoas próximas, conviventes, da mesma família. Enfim, o que mais prepondera é o que mais se destaca, e a violência física que ocorre dentro dos lares e na família ganhou muito destaque ultimamente (não que isso venha ocorrendo somente agora).

No entanto, ainda que a violência física doméstica seja muito recorrente, muito noticiada e cause bastante choque em todos, ela vai além. A violência doméstica contra mulheres pode ter várias faces, pode ser psicológica, patrimonial etc. E essa violência se revela, também, pela exploração do trabalho da mulher.

Mulheres desde sempre exercem trabalho doméstico não remunerado, não se tem notícia de quando se determinou que elas são as únicas responsáveis por esse tipo de tarefa. A história não consegue demonstrar em que momento a mulher se deixou controlar. O que acontece é que elas assumem, elas suportam e seguem sendo sobrecarregadas por esse trabalho que não é delas, é da casa, é de todos que nela habitam. Sem contar a maternidade, uma outra jornada assumida por mulheres que, já há muito tempo, conquistaram o mercado de trabalho formal e seguem com todas as demais obrigações, acumulando trabalho não remunerado a uma jornada sem fim.

 

Nesse contexto, mulheres ocupam lugares de trabalho extremamente importantes, elas fazem funcionar uma engrenagem essencial para que todo o resto aconteça, atendem ao trabalho doméstico e saem para ganhar o sustento fora de casa também. Cuidam de todos e dos filhos. E temos que considerar, não há trabalho mais desafiador que criar filhos, já dizia o ditado “para se criar uma criança é preciso uma tribo”, mas o que vemos por aí são mulheres fazendo isso sozinhas, e muito mais.

Trabalho árduo, desafiador e de um valor imenso, mas sem visibilidade. É trabalho, mas não remunerado e extremamente desvalorizado. E onde entra a violência nesses casos? Na invisibilidade dessas mulheres, na não valorização de seu esforço, e principalmente, é violento o desprezo da sociedade e do mercado de trabalho por mulheres que se desdobram para atender todas essas jornadas. Muitas são preteridas em processos seletivos para contratação, durante os seus contratos de trabalho, quando engravidam, quando amamentam. A jornada doméstica e da maternidade limitam a disponibilidade da mulher para o trabalho formal, reduzem a sua produtividade e o seu potencial de trabalho, e isso é levado em conta de forma negativa. Não há apoio, só exclusão.

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A violência está presente quando em situações difíceis e de exceção, como a que vivemos agora com a pandemia de Covid-19, quando todos sentem as consequências econômicas e sociais, mas já se sabe que, comprovadamente, mulheres são mais atingidas por tais consequências.

Desde o início da pandemia e das restrições ao convívio social dela decorrentes, mulheres têm cumprido a sua jornada tripla, mas agora em home office. É um conta que não fecha, já que estão isoladas em casa com todas as suas obrigações a cumprir e com os filhos fora da escola. A rotina pesada continua, o dia ainda tem 24 horas, mas a dinâmica é outra. Antes da pandemia, mulheres despendiam o dobro de tempo com tarefas domésticas e no cuidado com pessoas do que homens, segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.  Em 2018, mulheres dedicaram 21,3 horas semanais a afazeres domésticos, enquanto os homens gastaram 10,9 horas com as mesmas tarefas. Em 2017, foram 20,9 e 10,8, respectivamente. (IBGE)

 

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc) mostrou que 7 milhões de mulheres abandonaram o mercado de trabalho na última quinzena de março, logo no início da quarentena. Essas mulheres terão maior dificuldade em retornar ao trabalho.

Já passamos por grande evolução, principalmente no último século, com a consolidação de muitas conquistas femininas, em especial em relação ao trabalho da mulher, desde sempre domestificado e desvalorizado, mas ainda há muito que se alcançar. (MAGALHÃES, V.T., 2018, p. 95)

Por tudo isso, é importante refletir sobre papéis de mulheres e homens dentro de nossa sociedade, a influência cultural que nos leva a adotar comportamentos padrão negativos, esses que levam a uma escravização da mulher e a limitam, lhe retiram a disponibilidade e a chance de explorar totalmente seu potencial. Sem falar na escolha livre entre ir ou ficar, essa liberdade que homens possuem. Adotar novas formas de viver, intensificar a nossa dedicação ao que é de todos e à divisão de tarefas, à valorização do trabalho doméstico e investir em uma educação para a equidade de nossas crianças. Para refletir hoje e sempre.

·      Em caso de necessidade própria ou de outra mulher que esteja passando por qualquer tipo de violência, entre em contato com a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180.

Este é um canal de atendimento telefônico, com foco no acolhimento, na orientação e no encaminhamento para os diversos serviços da Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres em todo o Brasil. As ligações para o número 180 podem ser feitas de qualquer aparelho telefônico, móvel (celular) ou fixo, particular ou público. O serviço funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, aos finais de semana e feriados inclusive.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

· IBGE – Disponível em: (https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9173-pesquisa-nacional por-amostra-de-domicilioscontinuatrimestral.html?edicao=27704&t=destaques);

Acesso em: 12/07/2020

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p class=”ql-align-justify”>·      MAGALHÃES, V.T., Mulheres – Iguais na Diferença. 1 ed. Rio de Janeiro/RJ: Lumen Juris, 2018. V. 01. 220p.

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